Emi
O senhor Satoru pediu-me segredo sobre seu ferimento. Mal sabe ele que eu já sei outro segredo seu. Será que ele ficaria bravo se soubesse? Será que pediria que me mandassem embora? Mas, alegaria o quê? Ele parece ser bem diferente do senhor Tatsuo. Parece ser mais acessível, bondoso. Mas, posso estar enganada.
Confesso que algo nele mexe comigo. Quando a senhora Issa falou-me para levar o chá meu coração acelerou. Andei o corredor até seu quarto sentindo como se meu estômago tivesse uma bola de neve dentro dele. Ainda bem que fui treinada para conseguir esconder, em meu rosto, os sentimentos. Eu não quero que ele perceba que me deixa nervosa. Ele não deveria me deixar assim.
Ele pediu que o ajudasse com seu ferimento e baixou o quimono, deixando seu ombro à mostra. A forma como ele fez – seus movimentos –, foi algo um tanto enlouquecedor. Ao tempo que minha razão dizia para não olhar, não me contive e fiquei admirando os músculos de seu braço e peito. Queria seguir as linhas de seu pescoço e ombro com o dedo indicador, em um toque suave. Queria minhas mãos tocando sua pele quente, mas não da forma como foi ao passar o emplasto. Será que é certo uma moça pensar o que pensei? Eu nunca senti isso antes. Essa vontade de tocar um homem e querer sentir suas mãos em meu rosto, meus cabelos.
Fui para meu quarto e quase não consegui dormir. Agora, tenho que levantar para trabalhar e estou muito cansada.
Quando chego à cozinha, a senhora Issa está me esperando. O senhor Tatsuo quer falar conosco. Saímos pela porta que dá ao corredor e sigo-a em silêncio. Ela bate na porta do quarto dele, que ordena que entremos.
– O senhor quer falar conosco?
– Sim. Quero que organizem aquela festa para Satoru daqui uma semana.
– Quantos convidados?
– Uns trinta, aproximadamente. Alguns pernoitarão aqui e outros irão embora logo em seguida.
– Algum pedido de prato especial?
– Faremos um almoço e,para os que permanecerem, um jantar e algo para comerem pela manhã. Pensem emalimentos suculentos e que demonstrem o tamanho de minha riqueza. Também virãoalgumas pretendentes de Satoru e quero que elas fiquem totalmente deslumbradas.
– Está bem, senhor.
– Podem ir!
Quando estávamos quase saindo do quarto, ele falou novamente.
– Ah! Quero que Emi pense em algo para distrair as jovens, já que possuem praticamente a mesma idade.
– Sim, senhor. – respondo e faço uma reverência.
Saímos pelo corredor em direção à cozinha. Em meus pensamentos ecoa a palavra pretendentes. Com certeza, serão da nobreza. Por que fiquei triste? O que eu achava? Que ele ficaria com uma pessoa comum como eu? Uma simples trabalhadora! Não posso perder o foco. Estou aqui para trabalhar e ajudar minha família. Preciso me concentrar na organização da festa.
Eu e a senhora Issa combinamos de nos reunir após o almoço para começarmos a pensar juntas em pratos para a festa. Enquanto preparamos a comida, penso nas possibilidades para decoração.
– Alguma ideia interessante, Emi? – pergunta a senhora Issa.
– O dia da festa será quatro de fevereiro, início da primavera. Poderíamos usar esse tema. O que acha?
– Excelente!
– Podemos usar pequenos arranjos de flores de origami e kazanshi [8] para enfeitar a mesa de alimentos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A samurai
Historical FictionJapão, 1600 d.C. Emi Tanaka é uma jovem simples que vive em um vilarejo nas terras do Senhor Tatsuo, do clã Ikeda. Emi é escolhida para trabalhar na casa dele e isso é uma honra para a sua família. Alguns meses depois, o filho do Senhor Tatsuo, o gu...