Capítulo 5 - Satoru

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Emi

Ao encontrar a senhora Issa pela manhã, ela me pediu que limpasse o quarto do senhor Satoru. Quer que tudo esteja em ordem para sua chegada. Em breve ele estará em casa após anos em batalha.

Eu pego uma vassoura, panos e um pote de cera. Quero deixar o piso brilhando. Deslizo a porta e entro. Deixo-a aberta e abro também as portas que dão para as varandas. O ar frio e úmido invade o quarto e aos poucos o cheiro do inverno toma conta do recinto.

Passo um pano nos móveis para retirar o pó. Chacoalho os itens da cama do senhor Satoru, levando-os para a varanda lateral, e varro o piso de metade do quarto. Sento-me no chão e, com um pano, encero onde já varri. Enquanto espero a cera, varro a outra metade do quarto.

Arrasto com cuidado o gaveteiro com espelho para poder encerar o chão atrás dele. Sento-me e começo o trabalho. Passo o pano na junção das duas paredes e venho descendo o pano em ziguezague. Uma das madeiras do piso mexe sob minha mão. Percebo que ela está solta. Preciso avisar a senhora Issa para que alguém conserte. Então, faço um pouco de força para que levante. Descubro um compartimento com um rolo de papéis e uma caixa. Retiro a caixa e abro-a. Dentro dela há barras de carvão utilizadas para desenhar. Pego as folhas e desenrolo-as. Deslumbro-me com o desenho nela: a senhora Issa cozinhando. Uma verdadeira obra de arte. Olho um por um dos desenhos: o senhor Takashi treinando com sua katana, o senhor Tatsuo concentrado com papéis sobre a mesa de seu quarto, um cavalo correndo no campo, carpas nadando no lago do jardim, uma senhora desconhecida andando entre árvores e diversos desenhos de flores e aves. Um em especial prende minha atenção: uma fileira de cerejeiras e, em destaque, uma flor de cerejeira que se desprendeu de uma árvore e voa em direção ao solo. Cada um de seus detalhes foi capturado com perfeição. Dá para perceber que foram desenhados com a alma.

Ouço ao longe barulho de passos no corredor. Enrolo as folhas rapidamente e guardo tudo com cuidado. Se o senhor Satoru esconde seus desenhos, quem sou eu para deixar que alguém os descubra? Ainda mais por um descuido meu. Arrasto o gaveteiro para seu lugar e continuo a encerar o chão à sua volta. Sinto meu corpo trêmulo por causa da expectativa de ser flagrada.

Eu nem conheço o senhor Satoru e agora temos um segredo que, de certo modo, é uma ligação entre nós. Será que serei mandada embora se ele descobrir que sei seu segredo?

A senhora Issa aparece na porta do quarto.

– Está fazendo um excelente trabalho! Esse piso está brilhando!

– Obrigada!

– É maravilhoso tê-la aqui para me ajudar. Eu sou uma velha e tem serviços que já não executo como antes.

– A senhora não é velha! Não fale assim!

– Se não sou uma velha, sou o quê?

– Uma pessoa experiente e que, por acaso, tem idade um pouco avançada.

– Essa é uma forma mais educada de chamar alguém de velho. – ela fala rindo.

Eu rio também.

– Quando terminar aqui, o que a senhora quer que eu faça?

– Vá até a cozinha me ajudar com o almoço.

– Está bem! Eu irei.

– Até mais tarde!

– Até mais tarde, senhora!

Termino de encerar o piso, coloco os itens da cama do senhor Tatsuo no lugar que estavam quando cheguei, fecho as portas e saio. Antes de ir para a cozinha, guardo a vassoura e o pote de cera em um pequeno cômodo, que fica ao lado da cozinha, reservado para guardar materiais de limpeza e jardinagem. Ao entrar, encontro Kazuo guardando uma pá. Aproveito a oportunidade para puxar conversa.

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