Satoru
No dia da sentença de Emi, queria ter ficado ao seu lado o tempo todo, segurando sua mão, mas não me permitiram. Colocaram-na no meio do pátio e longe de mim. Parei ao lado da tenda com o comandante Kimura, seu avô, ao meu lado. Seus olhos fixaram os meus e estavam tão serenos. Ela não era uma mulher que precisava de proteção, mas podia lutar por si só. Era uma mulher grandiosa, capaz de enfrentar a tudo com serenidade e coragem. Mais do que nunca quis enfrentar a todos e roubá-la dali, para que fugíssemos para longe e pudéssemos viver o nosso amor. Mas, se fizesse isso, ela jamais me perdoaria. E, eu também não. Eu a amava pela mulher forte que era e não podia fazer isso.
Enquanto Tokugawa falava, permaneci olhando em seus olhos e tentando lhe transmitir todo meu amor. A angústia crescia em meu peito, mas eu precisava ser corajoso por nós dois. Eu não desviaria meu olhar por nenhum momento.
Quando Tokugawa anunciou que daria a sentença foi como se eu tivesse parado de respirar e os ruídos do ambiente cessassem. Eu viajei para dentro dos olhos de Emi e não consegui ouvir o que ele falou. Hoje, só sei suas palavras pelo que me contaram:
"Emi Tanaka, você cometeu um crime grave ao se passar por homem e entrar para o exército. No entanto, com isso, fui capaz de perceber o erro que cometia. Quase perdemos porque estávamos em número menor, mas meu exército poderia ter sido bem maior se tivesse permitido mulheres de se juntarem a nós. Vocês também são capazes de lutar e proteger nosso país. Muitas morreram em suas casas, que foram atacadas por inimigos, porque não sabiam se defender. Não posso permitir que isso se repita.
Espero que não seja necessário lutarmos novamente, mas, se isso acontecer, quero poder contar com mulheres fortes e corajosas como você. Então, a partir de hoje, será permitido às mulheres aprender o bushido.
Você demonstrou ser uma exímia samurai e ajudou nosso país no momento em que mais precisávamos. Por isso, retiro as acusações de traição. Quero que elas possam ver em você um exemplo a ser seguido."
E, então, ele se levantou e se retirou. Só voltei a mim quando senti a mão do comandante Kimura em meu ombro. Olhei para ele e suas feições eram de alívio. Disse para que eu fosse até Emi e a levasse dali.
Estava tudo acabado. Eu poderia levá-la para casa e torná-la minha esposa.
Fomos recebidos com muita alegria. Meu pai estava feliz que Emi se tornaria parte de nossa família e pediu que preparassem uma grande festa para o nosso casamento.
Ficamos separados por doze dias antes do dia que escolhemos para selar nossa união e foram dias longos e tristes com ela longe de mim. Mas, eu sabia que seria compensador, pois a teria em meus braços em breve.
No dia da cerimônia, a casa foi enfeitada com fitas coloridas e kazanshi imitando flores de cerejeira. A senhora Issa havia preparado diversos pratos para o jantar.
Vestindo o quimono tradicional, preto na parte superior e listrado com branco na inferior, segui com meu pai e alguns convidados para o templo. Lá, aguardei ansiosamente a chegada de Emi.
Ela estava tão linda. Vestia um quimono de seda branco e usava o wataboshi - um chapéu de seda branco curvo, parecido com um capuz, que é usado tradicionalmente durante a cerimônia religiosa.
Os convidados seguiram para o caminho que levava ao templo aguardar o início da cerimônia. O sacerdote se posicionou à frente. Atrás dele, vinham três rapazes tocadores de flauta; Emi e eu, um ao lado do outro; um jovem levando um grande guarda-chuva de papel vermelho e meu pai de braços dados com a senhora Keiko e a senhora Yasu.
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A samurai
Historical FictionJapão, 1600 d.C. Emi Tanaka é uma jovem simples que vive em um vilarejo nas terras do Senhor Tatsuo, do clã Ikeda. Emi é escolhida para trabalhar na casa dele e isso é uma honra para a sua família. Alguns meses depois, o filho do Senhor Tatsuo, o gu...