Capítulo 6 - Emi

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Satoru

Fiquei vários dias cavalgando. Trouxe o senhor Yukio comigo. Ele estava muito tempo longe de sua família. Ao chegarmos em casa soubemos da triste notícia: sua esposa, senhora Yoko, morreu há algumas semanas. Não tiveram como avisá-lo. Ele não pode dividir com ela os últimos dias de sua vida. Agora, ele precisa viver o luto e confortar seu filho Kazuo.

Chegamos com a noite bem avançada. Estávamos com muita fome e, infelizmente, precisamos chamar a senhora Issa para nos dar algo para comer.

Dormir em meu quarto e em uma cama macia foi estranho, mas reconfortante. Vou precisar de alguns dias para me recompor antes de cumprir a missão que me foi dada: recrutar mais homens para a guerra. Precisarei viajar para terra de clãs vizinhos, mas somente àqueles que são nossos aliados. Entretanto, tudo o que quero nesse momento é descansar.

A senhora Issa trouxe minha comida no quarto. Disse que já era hora do almoço e que eu deveria descansar mais. Ela sempre se preocupou tanto comigo! Quando minha mãe morreu, foi ela quem me deu apoio e carinho.

Meu pai nunca soube demonstrar seus sentimentos e depois que ela se foi ficou ainda pior. Acho que minha mãe que deixava as situações mais equilibradas em casa, pois ela era uma pessoa serena e alegre.

Ouço Haiden relinchar. Meu velho amigo, companheiro de muitas cavalgadas. Quando estava na guerra, quase não me lembrei dele. Como eu pude!

Levanto-me, coloco meu quimono e saio para a varanda lateral com o intuito de ir aos estábulos para ver como ele está. Foi então que eu a vi passar. Aproximadamente um metro e setenta, cabelos negros presos com kanzashi e um lindo sorriso nos lábios. Seus olhos brilhavam e ela ajeitava seu quimono índigo com as mãos. Vinha dos estábulos. Mas, quem é ela? Eu não a conheço. Nossa! Como ela é linda! Será que estou ficando louco? Meu coração bateu muito acelerado ao vê-la. Será porque é a primeira mulher que vejo ao voltar da guerra? Realmente devo estar ficando louco!

Caminho até os estábulos. Encontro Haiden em sua baia.

– Como vai, meu amigo? Sentiu minha falta?

Ao ver-me, ele relincha e aproxima-se da portinhola para que eu acaricie sua testa. Algo que ele deixa apenas eu fazer.

– Boa tarde, senhor.

– Boa tarde, Kazuo. Diga-me como ele se comportou na minha ausência?

– Ele ficou muito triste até alguns dias atrás.

– O que mudou exatamente há alguns dias?

– Emi, senhor. Há algo especial nela que Haiden gosta. Ela tem o levado para passear no campo a pedido de seu pai.

– Então, você fez uma amiga, Haiden? Depois, quero que me apresente.

– Ela estará na fogueira à noite, senhor. Posso apresentá-la.

– Eu falava com Haiden, Kazuo. – falo rindo.

– Desculpe-me, senhor.

– Não se desculpe. Tenho certeza que na hora apropriada seremos apresentados.

– Sim, senhor.

– Obrigado por cuidar dele para mim.

– Foi um prazer.

Retorno para meu quarto. Retiro meu quimono e deito para descansar. O que será que Haiden viu de especial naquela garota?

Eu não consigo parar de pensar nela! Reviro na cama e sua imagem não sai de minha mente. Eu bufo e sento na cama. Preciso desenhá-la. Vou até meu esconderijo, que fica embaixo de uma madeira solta no assoalho. Pego meus materiais de desenho. Não me recordo de tê-los deixado dessa maneira, mas já faz tanto tempo. Ou minha mente me engana ou alguém encontrou meus desenhos. Só espero que meu pai não saiba nada sobre isso.

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