Capítulo 13 - Ruptura

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Emi

Eu varria o chão da varanda de trás da casa de hóspedes enquanto me lembrava do último passeio que fizera com Satoru. Cavalgamos por um bom tempo. Meus braços em torno de sua cintura e meu rosto encostado em suas costas. Eu sentia o perfume suave de ervas de seu cabelo.

O dia estava lindo. Eu estava feliz. Isso até Satoru aparecer. Sua fisionomia não era muito amigável. De início, pensei que era algo relacionado com o senhor Tatsuo, que Satoru havia contado a ele ou ele tivesse descoberto de alguma maneira. Mas, eu estava enganada.

Satoru disse que iria voltar para a guerra. Deuses! Minha vontade era pedir que ele não fosse, que ficasse comigo. No entanto, ele precisava seguir as ordens de seus comandantes. Então, disse a ele que o esperaria. Mas, percebi a frieza em sua voz. Suas palavras não combinavam com o que havíamos vivido. Seus olhos mostravam uma coisa, mas sua boca dizia algo totalmente oposto. Minha mente foi ficando confusa e lágrimas começaram a cair. Será que eram meus olhos ou meus ouvidos que me enganavam?

Ele estava ali, na minha frente, rompendo comigo. Um ser frio e calculista, tão diferente do homem que segurou minha mão ou acariciou meu rosto. Eu não queria acreditar. Algo estava errado, mas eu não conseguia distinguir o quê. Pedi que dissesse que não me amava, olhando em meus olhos, mas ele não conseguiu. Será que ele estava mentindo? Ou será que me despreza tanto ao ponto de nem conseguir olhar em meu rosto? Não! Ele estava mentindo! Eu sabia que estava.

– Mentiroso! – gritei e sai correndo.

Eu não queria que ninguém me visse e fui direto para meu quarto. Sentei no chão, encostei as costas na parede e chorei. Não podia mais ficar ali! Estava me sentindo sufocada! Corri para os estábulos e selei Haiden. Eu iria embora para casa e o levaria comigo. Tiraria de Satoru algo que eu sabia que ele amava. Assim, ele sofreria tanto quanto estava me fazendo sofrer.

Montei em Haiden e cavalguei pela estrada, seguindo em direção ao vilarejo. Eu havia deixado todos os meus pertences para trás, inclusive minha wakizashi, último presente de meu pai. Com certeza Satoru enviaria alguém para recuperar Haiden. Provavelmente, eu seria tida como ladra e sofreria as graves consequências. Meu trabalho – na plantação de arroz e na fábrica de saquê – estaria comprometido. Eu traria vergonha e desonra para minha família. Eu não podia pensar somente em mim. Não podia ser egoísta a esse ponto, mesmo com a imensa dor que sentia em meu peito. Então, fiz com que Haiden retornasse.

Novamente em meu quarto, eu andava de um lado ao outro tentando pensar. Tudo estava tão confuso! Ao mesmo tempo eu estava com raiva de Satoru pelo que havia feito e o amor estava latente em meu peito. Eu precisava vê-lo partir. Poderia ser a última vez. Se algo acontecesse a ele em batalha, queria guardar em minha memória sua partida.

Como eu não queria que ele me visse, fiquei escondida atrás da cerejeira. Vi quando ele saiu da cozinha e se despediu do senhor Takashi e de Seiji. O senhor Tatsuo havia se afastado. Queria falar a sós com o filho. Eu imaginei que a despedida deles seria mais carinhosa, mas, ao invés disso, eles discutiram. Vi o olhar de fúria que Satoru lançou ao pai antes de se afastar. Algo realmente estava acontecendo, mas o quê?

Satoru montou elegantemente em seu cavalo. Então, ele olhou diretamente para mim. Ali, naquele momento, vi o homem que disse que me amava. Seus olhos me fitavam ao mesmo tempo com ternura e dor. Queria gritar que eu o esperaria até que voltasse, mas fiquei calada vendo-o partir.

Quando sai de trás da cerejeira, o senhor Tatsuo estava na varanda. Ele ficou olhando fixamente para mim. Pela maneira como me olhou, ele sabia. Temi pelo que ele poderia fazer comigo agora que Satoru não estava mais ali. Eu fiz uma suave reverência e fui para meu quarto.

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