Capítulo 16 - Exército

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Emi

O senhor Takashi indicou o caminho que eu deveria seguir. Depois, eu iria perguntando nos vilarejos que encontrasse. Ao olharem para mim, viam um samurai solitário tentando encontrar seu exército. Mas, não viam que eu sou realmente. Por dentro, eu sou uma mulher determinada a encontrar seu amado e disposta a enfrentar uma guerra para isso.

Enquanto eu cavalgava pelas estradas, minhas companhias eram Chie e a angústia em meu peito. Em alguns momentos, eu sentia que piorava. É como se uma mão invisível transpassasse minha pele e esmagasse meu coração entre seus dedos. Mas, em outros, era como se a cada pulsar apenas ansiasse por algo que iria acontecer em breve.

Tudo à minha volta era novidade. Até pouco tempo, eu nunca havia saído do vilarejo. Achava que não seria capaz de lutar com alguém ou enfrentar o desconhecido. Eu sou uma pessoa corajosa. Sempre fui. Mas, lá no fundo, reside um pequeno temor de que algo dê errado, que eu morra pela lâmina de uma espada antes que encontre Satoru ou que, de alguma maneira, não me aceitem no exército.

Eu havia traçado alguns planos em minha mente. No entanto, para que algum desse certo, primeiro eu precisava fazer parte do exército de Tokugawa. Infiltrar-me já seria algo complicado. Eu não podia nem imaginar ter que me aliar ao exército ocidental, nossos inimigos. Eu iria lutar, mas precisava estar do lado que eu achava ser o certo.

Cavalguei o mais rápido que conseguíamos. Foram cinco dias, sem parar, em direção a Edo, onde ficava o castelo de Tokugawa e seu centro de comando. Era dia 31 de agosto, o dia em que minha vida realmente não voltaria mais a ser a mesma: eu me passava por um homem e estava no exército. Eu precisava ter o máximo de cuidado para que ninguém notasse que eu sou uma mulher.

O castelo é rodeado de fossos e muralhas defensivas. Ao longe, posso avistá-lo, imponente, em meio às árvores. É branco e gigantesco. A maior construção que eu já vi. Muitos homens andam de um lado ao outro, cuidando dos cavalos ou verificando suas armas. Outros, treinam ou meditam.

Ando a procura de alguém com quem possa falar, levando as rédeas de Chie, quando me aproximo de um homem.

– Senhor, onde posso me alistar?

Ele me olha desconfiado.

– O capitão fica em uma tenda ali adiante. – fala apontando a direção que devo seguir. – Os cavalos devem ficar nos estábulos. – ele aponta outra direção.

Vou até os estábulos e deixo Chie em uma baia descansando. Volto para onde estava e sigo por um caminho de pedras. Logo vejo uma tenda montada próxima a uma parede. Preciso lembrar-me a todo instante de agir, falar e caminhar de modo que eu pareça mais masculina. Paro em frente à tenda e respiro profundamente. Retiro meu capacete e coloco-o debaixo do braço. Entro devagar e procurando a pessoa com quem tenho que falar. Há apenas um homem mais velho, sentado atrás de uma mesa repleta de papéis.

– Com licença. – falo para chamar sua atenção.

Ele levanta os olhos do papel que lia e olha para mim.

– Eu gostaria de me alistar.

Ele me olha dos pés a cabeça. Está me analisando. Permaneço calada, com o corpo ereto.

– Nome? – ele pergunta.

– Akira Harada. – minto.

– De onde?

– Das terras do clã Ikeda, senhor.

– Bom. Local de excelentes samurais.

Ele se levanta e caminha até mim. Eu viro de lado, afastando-me da saída da tenda. Ele para à minha frente e olha fixamente para meu rosto.

A samuraiOnde histórias criam vida. Descubra agora