Satoru
Estar ao lado de Emi, após tanto tempo, fez com que eu me recordasse do homem que fui e que quero voltar a ser. Então, separar-me dela foi um sacrifício enorme. Saber que ela arriscou sua vida ao entrar para o exército e vir me resgatar, mesmo não tendo a certeza que eu estava vivo, deixou meu coração pleno de alegria. Eu preciso recuperar minha honra para poder ficar com ela. E, também, ajudá-la a não ser descoberta. Assim, voltaremos para casa e eu a tornarei minha esposa. Não vejo a hora de poder tê-la em meus braços novamente.
Eu sigo pela floresta acompanhando a estrada à minha direita. É mais demorado por aqui, mas prefiro garantir a minha segurança por mais algum tempo. Não sei se os homens que passaram por nós ainda estão por perto. Não quero ter o desprazer de reencontrá-los. Não agora! Eles acabariam comigo facilmente, ainda mais porque pensam que fui eu quem matou seu comandante. Mas, é melhor que acreditem que fui eu do que saberem que foi a Emi. A vida dela estaria em perigo e eu não suportaria viver com isso.
O comandante era o único que viu o desenho do rosto dela e, com ele morto, ela está segura. Um ponto que não deixa de ser engraçado é que ele olhou o desenho por dias e na hora que ela estava ali na sua frente, não a reconheceu. Ainda, acabou morrendo pelas mãos dela. Aquelas mãos delicadas e macias, que um dia acariciaram meu rosto e tiveram que se sujar de sangue para salvar a minha vida. Emi carregará o peso dessa morte em sua consciência para o resto da vida e por minha culpa. Inferno! Ela está a caminho de uma batalha onde deverá tirar muitas outras vidas e poderá perder a sua também. Preciso impedir isso! Eu puxo as rédeas de Chie para que pare. Olho para o caminho de onde vim. Meu desejo é voltar, pegar Emi e retornar para casa. Mas, se eu fizer isso, Tokugawa não saberá dos planos de Mitsunari e nosso exército irá perder. Com isso, o Japão não verá a paz tão cedo. Eu nunca iria me perdoar por trazer tamanho infortúnio ao meu país. Emi também não me perdoaria. Preciso continuar pelo bem de nosso povo, para que possamos ter um futuro digno. Atiço Chie. Faço com que desvie para a estrada para que possamos avançar rapidamente. Afinal, foi por isso que precisei deixar Emi para trás. Que os deuses a protejam e a tragam para mim são e salva.
Enquanto Chie galopa, sinto o vento bater em meu rosto. Eu abro os braços para poder senti-lo melhor em meu corpo. Solto uma gargalhada. Como é bom estar livre!
Logo chegamos a Akasaka e preciso diminuir o passo de Chie. A movimentação da estrada nos retardará. Entro pela rua principal e os moradores me olham. Eu paro próximo a um senhor.
– O senhor saberia me informar se o exército de Tokugawa está próximo?
– Disseram-me que estão acampando fora do perímetro da cidade.
– Agradeço a informação, senhor.
Eu e Chie seguimos para fora da cidade. Onde será que eles estão? Puxo as rédeas para que Chie vire e pare. Fecho meus olhos e respiro profundamente. Emi me encontrou apenas seguindo sua intuição. Eu sou capaz de encontrar nosso exército fazendo a mesma coisa. Abro os olhos e vejo a cidade à minha frente. À esquerda há montanhas e à direita, o terreno é mais plano. Óbvio que virão pelo local onde os homens se cansarão menos. Cutuco levemente a barriga de Chie com meu calcanhar e ela anda. Após alguns metros, vejo ao longe o exército vindo em minha direção. Tokugawa segue na frente, acompanhado de seus comandantes. Atrás deles, vêm todos os seus homens. Reconheço alguns rostos ao me aproximar.
– Alto! – grita um dos homens para que eu pare.
Retiro meu capacete para que vejam meu rosto.
– Capitão Ikeda? – fala um dos comandantes. – Achei que estava morto.
O comandante de meu regimento me reconheceu. É um alívio.
– Boa tarde, comandante Kimura. – falo e faço uma reverência com a cabeça.
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A samurai
Historical FictionJapão, 1600 d.C. Emi Tanaka é uma jovem simples que vive em um vilarejo nas terras do Senhor Tatsuo, do clã Ikeda. Emi é escolhida para trabalhar na casa dele e isso é uma honra para a sua família. Alguns meses depois, o filho do Senhor Tatsuo, o gu...