As malas estavam em cima da cama
A cama arrumada
Caixas cheias
Era a coisa mais sombria
A casa barulhenta ficou silenciosa
Ela passa o dedo na mesa de vidro
Ela mordia os lábios quando olhava para a sala.
Memórias vinha
Memórias vívidas
Sorrisos, brincadeiras, brigas,dias de sono,jantares , almoços...
Ela caminhava e passava na varanda
A rua estava agitada
Um dia chuvoso
Pessoas correndo pra um lugar com coberta,outras com guarda-chuvas,outras se molhando, criança correndo e um cheiro de terra molhada.
Seu coração estava pesado
Seu olhar triste
Se despedir da casa não era o pior
E sim deixar para trás tudo que havia vívido ali, naquela cidade.
Abriu aquele chuveiro
Passou cada passo para lavar o cabelo
Escorregou
Sentou
E ficou lavando a alma juntamente com o corpo
Ela olhava fixamente para aquela cerâmica branca manchada e doía mais.
Ela olhava aquele banheiro e uma surra de memórias vinha
Saiu do banho, pegou a toalha e olhou o guarda-roupa vazio,lembrou-se que um dia ela estava ali: limpando , arrumando as roupas e perguntando onde botar cada uma.
A dor é para ser sentida , é fato
Mas a sua dor era sentida e vista
O cheiro daquele restaurante na esquina perfumava a casa , o cheiro era lembrança mais sofrida.
Ela amava aquela comida
De toalha fechou a caixa
De toalha olhou aquela paisagem que a anos admirava ali
De toalha fechou devagar a cortina , dando adeus aquilo , ou seja , suas memórias.
Ela fechou a cortina da varanda , mas na realidade estava fechando a si mesmo, fechando a dor , a angústia e a principal : Saudades dela.
Se arrumou, desceu as escadas com tudo entrou em seu carro e foi
Sem despedidas
Sem olhar para trás
Sem ao menos ver pelo retrovisor o que havia deixado ali
Apenas segiu
Firme e sem rumo
Ela se foi
E ela segiu, segiu tudo que afastava dali.
A varanda ficou
A cozinha ficou menos bagunçada
O cheiro invadia o apartamento, mas não tinha quem sentir
A cama ficou arrumada pra sempre
E a companhia nunca mais foi ouvida...(Paloma Silva lima )