quinze

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De vez em quando, quando Draco encarava o reflexo dele por tempo demais, ele podia jurar que não estava sozinho.

Era uma sensação estranha, levemente insana, e ele não tinha coragem de tentar falar sobre isso com ninguém, mas estava lá. Bem no fundo, bem no canto da visão periférica dele, onde ele tinha que olhar para o lado e se esforçar para ver, Draco podia jurar que conseguia ver umas sombras passando rapidamente pelo espelho, correndo para lá e para cá, o observando. Sempre presentes. Onipresentes, na verdade.

Ele sabia que era a imaginação dele brincando com ele. Isso não tornava a situação menos assustadora. Na verdade, piorava tudo – fazia ele se perguntar se estava enlouquecendo. Fazia ele temer que a resposta fosse sim.

De vez em quando, quando ele acordava de noite sufocando gritos, quando ele podia ouvir sussurros saindo de todos os cantos do quarto dele, Draco ia ofegando para o banheiro, para jogar um pouco de água no seu rosto e escovar o gosto horrível em sua boca, e ele podia jurar que as sombras estavam nos olhos dele. Que o cinza Malfoy que ele tanto amava estava sendo obscurecido por nuvens de um castanho bem escuro, quase preto.

Draco não conseguia se olhar, naquelas vezes. Ele mal conseguia segurar o seu vômito.



(ele e os pais dele não passaram aquele 31 de Agosto inteiro juntos, a tradição quebrada depois de só existir por dois anos. não tinha surpreendido Draco, então ele sabia que era incrivelmente ilógico que ele tivesse se deixado ficar tão magoado por algo que ele já sabia que ia acontecer)



Eles Aparataram para Plataforma 9¾, o braço de Narcisa jogado por cima dos ombros de Draco e Lucius segurando as duas malas dele. Eles quase pareceriam com uma família normal, se não fosse pela separação clara entre Narcisa e Lucius e pela expressão assassina no rosto dos três, lançando olhares bem gelados para qualquer um que se aproximasse demais. Até a família dos sangue-ruins, que eram estúpidas e não sabiam quem os Malfoy eram, tinham consciência o suficiente para os evitar.

Eles pararam. Narcisa deu um beijinho na testa dele e aquilo era algo que eles já tinham feito um milhão de vezes, mas agora as mãos dela tremiam e apertavam o rosto dele com uma força um pouco grande demais, se recusando a o soltar. O terror que havia no rosto dela nunca tinha estado presente nos anos passados. Ela nunca tinha tido nenhuma razão para achar que Draco iria se machucar em Hogwarts, antes.

O peito de Draco se apertou. Narcisa parecia tão triste e desesperada. Como se ela soubesse que tinha que o deixar ir, mas fazer isso a enchia de um pavor e um horror que ela não era capaz de controlar. Enchia Draco de horror e pavor também, e ele já estava sentindo saudade, mesmo agora, enquanto ainda a segurava.

Draco distanciou as mãos de Narcisa delicadamente, se inclinando para trás para poder olhar a mãe dele nos olhos.

"Eu vou ficar bem," ele sussurrou e ele esperava que fosse o suficiente para a acalmar. Ele esperava que fosse o suficiente para ele se acalmar também.

Narcisa respirou bem, bem fundo, e deu um passo para trás. Os olhos dela eram como aço. Como o sentimento que Draco tinha quando ele lançava um feitiço bem poderoso. Ela endireitou a saia do vestido dela e secou suas bochechas, as mãos ainda não completamente firmes apesar de que ninguém poderia perceber isso a não ser que estivessem exatamente no lugar de Draco.

Era uma mudança tão repentina que Draco teria se assustado se ele não estivesse vendo isso acontecer pelos últimos treze anos da vida dele. De repente, Narcisa tinha voltado a ser apenas a esposa puro-sangue de Lucius Malfoy, sem nenhuma emoção ou calor. Só Draco, que a conhecia tão bem quanto a palma da mão dele, poderia ver o retorcer nas sobrancelhas dela, e toda a preocupação escondida naquele simples ato.

but we are brave,   DRARRYOnde histórias criam vida. Descubra agora