cinquenta

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A penúltima semana de agosto de 1995 tinha começado com uma camada cinza e depressiva cobrindo todo o céu, um fenômeno acompanhado por muitas previsões de tempestades e, ao mesmo tempo, nem um único dia realmente frio. Bem ao contrário. No céu, aquelas nuvens eram mais do que espessas; serviam como uma tampa física e firme os fechando dentro de uma panela fervente, os cozinhando lentamente, os cozinhando até a carne estar deslizando de seus ossos como se em uma costela suculenta. Até quando chovia era algo grudento, sem pena ou espaço para descanso. Chamar o tempo atual de só abafado era um eufemismo e um erro fatal.

E Draco estava usando um casaco pesado e grande demais.

Ele só deixou St. Mungus depois de três horas. Alimentou Cassius, e empurrou a cadeira encantada dele pelos corredores na oca esperança que uma mudança de arredores fosse ser de alguma ajuda, e conversou com os Medimagos, e sentou à maca do menino enquanto lia em voz alta para ele, um dos muitos livros Trouxas que algum Warrington tinha deixado na cabeceira no começo do verão. Eles já estavam no capítulo vinte.

A voz de Draco só rachou umas três vezes, quebrando com emoção e lágrimas, e já era melhor do que a maioria dos dias anteriores, a não ser naqueles em que ele se sentia tão frio e exausto que nem conseguia ficar triste e voava pelo livro sem problemas. Ele coçou a garganta. Segurou aquele sentimento na traqueia até ele o engasgar, mas manter suas emoções sob controle.

Ele deu um aperto na mão de Cassius antes de sair. Se despediu, baixinho, dos Medimagos pelos quais passou no corredor, todos já figuras familiares. Alguns bagunçaram o cabelo dele, outros o deram um abraço rápido, beijinhos na bochecha; poucos o chamavam de Malfoy, a maioria já dizia Draco, mas um número ainda maior tinha decidido o batizar de "o menino da Pomfrey" sempre que achavam que Draco não estava os ouvindo falar dele. Todos sorriam do mesmo terrível jeito. Ele tinha uma sensação horrível de que quando eles conversavam com Pomfrey sobre o estado de Cassius, eles também adicionavam comentários preocupados com Draco: as cartas dela sempre vinham escritas com um cuidado que não tinham antes.

Até Tonks, boba e infantil como era, agia com cautela ao redor de Draco depois daquelas visitas.

Como se todos os adultos que deram uma rápida olhada em Draco tivessem chegado na mesma inevitável conclusão: que ele era tão frágil quanto um bebê, e precisava do mesmo nível de atenção, proteção e calma que um.

Quando ele saiu, ela sentou com ele. Não falou nada por um bom tempo, só sentou, o ombro tocando o ombro de Draco, a cabeça baixa. Estava brincando com os botões da própria blusa porque era hiperativa demais para não se mexer, mas a não ser por isso, ela se manteve surpreendentemente quieta por um tempo surpreendentemente longo. Draco já tinha conseguido se acalmar – tanto quanto se acalmaria – quando ela deu uma leve biliscada na manga do caso dele.

"Ei," ela sussurrou, apesar dos sussurros dela não serem muito sussurrados. "Eu te trouxe uma coisa," e, de dentro da bolsa, tirou uma mexerica toda laranjinha e bem cuidada. Não era a que ela tinha estado comendo mais cedo e Draco nunca iria entender de onde Tonks arranjava tantas frutas.

Ele levantou uma sobrancelha, a observando secamente. "Por quê isso?"

"Eu prometi pra minha mãe que ia te alimentar."

"Achei que você iria me pagar um almoço de verdade no Beco Diagonal," ele comentou enquanto pegava a mexerica e se levantava. Ele a jogou de uma mão para a outra. Tonks pegou a própria varinha no bolso de trás da calça, bufando.

"Meu querido, eu não tenho verba pra isso não." Ela tacou um braço por cima do ombro dele. O fez dar uma leve tropeçada para o lado, mas Tonks só o lançou um sorriso cheio de dentes. "É você quem recebe uma mesada bonitinha, eu tenho que trabalhar e pagar contas."

but we are brave,   DRARRYOnde histórias criam vida. Descubra agora