quarenta

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Alguém sempre se importa mais.

Lucius tinha deixado isso mais do que claro anos atrás, quando Draco era muito pequeno. Haviam, é claro, relações como a de Narcisa e Lucius em que os dois estavam no mesmo nível, em que o amor era completamente correspondido – mas até nela, não dava para negar que Lucius precisava de Narcisa um pouquinho mais do que Narcisa precisava dele. Era como o mundo funcionava, Lucius disse, e de qualquer maneira, na vida real, em outros casos, a diferença ser tão pequena quanto era entre os dois era algo bem raro. Não acontecia nunca de não existir um certo desequilíbrio.

Sempre havia alguém que mandava e alguém que obedecia. Sempre havia alguém que liderava e alguém que seguia. E, sempre, sem exceções, havia alguém que se importava mais, ou precisava mais, ou gostava mais do outro. Era uma regra de negócios.

Amor, no fim, era um negócio.

Lucius fazia uma exceção só por Narcisa, porque o pai dele era um hipócrita como Draco percebia cada vez mais, mas ele tinha deixado claro que, em todos os outros casos, Malfoys deveriam ser os que não sentiam amor de verdade, só diziam.

Os que usavam os outros e se importavam menos – era isso que eles eram. Sempre seriam.

Se importar mais era manipulável. Era ridículo e perigoso e algo que eles não deveriam fazer. Foi o que Draco sempre ouviu. Foi o que Lucius sempre disse e Narcisa sempre reforçou e Abraxas, uma presença fantasma no lado de trás da cabeça dele, sempre repetiu.

E apesar disso...

Apesar.



"Você sabe que ele não te ama, não é?"

Isso não era algo bondoso de se dizer e disso Draco tinha certeza. Não era nada do que ele vinha tentando ser, simplesmente cruel, simplesmente venenoso e com o intuito de machucar. Saiu, de qualquer maneira. Escapuliu e o fez se encolher, já arrependido, já envergonhado antes mesmo de receber a reação esperada.

O rosto de Cassius se retorceu. Demorou um segundo para Draco conseguir raciocinar que aquilo era mágoa na expressão dele. Genuína, intensa mágoa, sem um pingo do humor que era sempre presente em Cassius. O fazia parecer muito mais humano e real do que todos os sorrisos. Menos como um deus grego esculpido em mármore, rindo deles, e mais como uma pessoa normal.

Cassius tentou esconder, depois, mas Draco tinha anos de prática em esconder mágoa. Ele conseguia ver, apesar de que o público geral provavelmente não conseguiria notar nada. Draco se encolheu um pouco mais e Cassius soltou um assobio.

"Merlin, Malfoy," ele disse, a voz cheia de exageração, tentando com tanta força atingir um tom casual e quase, quase chegando lá, mas falhando no último momento, de um jeito bem estranho e não normal. Ele continuou: "É, eu sei disso, mas você não precisava falar de uma maneira tão na cara. Você vai machucar os meus sentimentos assim."

Ele colocou as mãos no peito dramaticamente, lançando um sorriso para Draco. A piada foi meio forcada, na opinião de Draco. Cassius já tinha feito melhores.

Draco hesitou. Ele queria pedir desculpas, mas o que saiu foi: "Mas já tá bem na cara. O Marcus é pateticamente apaixonado pelo Wood, não por você."

Draco olhou para baixo, depois. Para as botas pretas de Cassius contra a neve cinza e suja. Cassius passou uma mão pelos cabelos.

"Eu sei," ele disse, a voz mais suave, um pouco mais fraca. Ele repetiu: "Eu sei. Eu não sou idiota, Draco. Você acha que eu sou?"

but we are brave,   DRARRYOnde histórias criam vida. Descubra agora