quarenta e dois

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A Ala Hospitalar tinha muitas janelas e, a qualquer hora do dia, muita luz entrava pelas cortinas finas; os banhando com raios tão dourados quanto mel, o sol beijava os chãos e paredes de pedras e iluminava partículas de poeira que estavam sendo seguradas no ar com tanta força quanto aquela família de Trouxas na Copa. Seria lindo se a cabeça de Draco não insistisse em comparar tudo que era lindo com algo monstruoso, como se algo lá dentro dele nem mesmo soubesse a diferença entre as duas coisas.

Aquele dia, Draco cerrou os olhos dele e inclinou o vidrinho que estava segurando um pouco mais na direção da luz, tentando ler o que estava escrito no rótulo, a caligrafia muito apertada e apressada e absolutamente impossível de se decifrar.

"Sua letra é terrível," ele reclamou indignado.

Pomfrey bufou, sem tirar os olhos da criança cujo braço ela estava enfaixando. "Minha esposa diz a mesma coisa," comentou e Draco nem se revirou ao ser comparado com uma nascida-trouxa, o que era algo muito bom. Ele estava bem orgulhoso de si mesmo. Pomfrey continuou: "Eu vou te contar agora, Draco, para você já começar a se preparar. Todo Medimago tem uma letra terrível. É parte do trabalho."

"Isso não faz sentido nenhum, mulher."

Draco colocou o vidrinho dentro do armário de onde ele tinha o tirado, já tendo percebido que não era o que ele precisava. Imediatamente, ele continuou mexendo no resto dos ingredientes e tentando ler rótulos, tirando um frasco de guelrichos do caminho já que ele ao menos sabia que não estava procurando por nada parecido.

"Faz sentido sim," disse Madame Pomfrey, indo pegar um tônico para criança, que fungou baixinho e não tirou os olhos arregalados de Draco. "É só pensar, menino. Eu tenho que escrever cinquenta rótulos diferentes todos os dias enquanto eu cuido de vinte pacientes diferentes e ainda mantenho o meu livro com o nome de todos os alunos que passaram aqui e os detalhes de tudo que aconteceu com eles perfeitamente atualizado para eu poder mostrar para o Diretor Dumbledore no fim da semana. Eu tenho que me apressar, não dá para eu perder tempo tentando fazer uma letra chique."

"Huh." Draco abriu um vasinho de vidro, enfiando o dedo na pele que havia lá dentro e tentando sentir se era o tipo certo. Não era. Ele fez uma careta, se virando para Pomfrey e apontando para ela com o vasinho que tinha na mão. "Sabe, isso parece algo que você deveria treinar. Eu passei anos fazendo aulas de caligrafia e eu conseguiria escrever perfeitamente até com as mãos todas cobertas com o sangue de um paciente e só com uns dois segundos."

"Vamos esperar que você nunca precise fazer algo assim," comentou Pomfrey secamente. A criança parecia aterrorizada por causa das palavras de Draco, mas aí Pomfrey a deu o tônico e ela ficou mais preocupada tendo que o tomar e não cuspir por causa do gosto. Uma vez que todo o líquido tinha sido engolido direitinho, Pomfrey concentrou em Draco. "Você ainda não achou?"

"Eu acho que não tem mais."

Pomfrey franziu as sobrancelhas.

"Você não procurou direito," ela apontou. "Está aí em algum lugar, eu sei. Eu comprei só dois dias atrás e se eu ainda não usei, as únicas outras pessoas que tem a chave para pegar é ou você ou o Severus caso algo falte entre os ingredientes dele, e ele sempre me avisa."

"Eu disse que eu acho que não tem?" perguntou Draco. "Ah, desculpa, eu deveria ter dito que eu tenho certeza que não tem. E eu procurei direitinho, nem vem."

"Se eu ir aí e achar," resmungou Pomfrey, se aproximando parecendo um pouco frustrada e deixando a ameaça no fim da frase implícita. Draco se voltou para o armário, frustrado também.

"Olha," ele disse, gesticulando. "Eu chequei por toda a parte onde as peles ficam. Todas as outras estão aqui, mas não tem pele de ararambóia."

"Isso não pode." Pomfrey fez uma careta bem profunda, checando todo o armário com muita cautela e percebendo que Draco estava certo e não tinha. "Não, até se Severus tivesse se esquecido de me avisar, nem teria porque ele a pegar. Ela é extremamente rara de ser usada em poções. Eu só consigo lembrar dela fazendo parte da receita desse creme para curar cicatrizes que eu estava te falando."

but we are brave,   DRARRYOnde histórias criam vida. Descubra agora