trinta e nove

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Quando Draco conheceu Potter, ele estava usando uma blusa tão larga que quase chegava nos joelhos dele e que tinha um buraco perto da manga, velha e amassada e tão diferente das roupas de Draco que parecia quase que eles tinham programado serem exatos opostos um do outro.

Os óculos dele estavam quebrados no meio, remendados com algo branco e Trouxa, e os ombros dele estavam tensos como se os ossos dele estivessem embrulhados em ferro e ele estivesse preparado para uma briga. Como se ele só conhecesse brigas. Só soubesse como lutar, e o tipo de luta que Draco, mimado e bem cuidado e amado, não podia nem conceituar, muito menos entender.

Ele olhou para Draco e ele endureceu ainda mais. Era algo de tirar o fôlego, a expressão daquele menino. Mãos fechadas em punhos e lábios retorcidos e um cansaço lá no fundo da alma dele, entrelaçado a muita dor e uma determinação maior do que todo o resto. O cabelo dele era uma bagunça, caindo por cima da testa, e Draco não sabia que ele era Harry Potter, o Menino Que Sobreviveu. Draco não sabia que tinha uma razão lógica para conversar com ele ou sequer se importar com quem ele era.

E, mesmo assim, Draco abriu a boca e começou a falar.

Anos poderiam se passar e ele nunca iria poder explicar porque fez aquilo. Nunca iria encontrar as palavras para dizer porque se importou com um menino que tão claramente parecia um nascido-trouxa e porque ficou o fazendo perguntas que ele nunca respondia e tentando o impressionar apesar dos resultados medíocres que não parava de receber. Não era porque ele era Potter. Draco não sabia que ele era.

Pais mortos e um nome sussurrado como se fosse um feitiço e um dia de morte que era tratado como festa – naquele momento, nada disso passou pela cabeça de Draco, assim como ele não pensou em armários embaixo de escadas e empurrões contra o chão cheio de pedrinhas e a palavra aberração sendo gritada como uma Imperdoável. Nunca que Draco teria imaginado qualquer uma dessas coisas. Nunca que ele teria adivinhado com quem que estava falando.

Mas havia algo nos ombros do menino, duro como um soldado em frente a um general, e uma guerra naqueles olhos verdes, Avadas Kedravas sendo lançados de um lado para o outro. Draco não podia olhar para o lado. As palavras não paravam de deixar a boca dele, não importa o quão idiota ele estivesse parecendo.

Draco nunca fazia nada genuinamente bom. Simplesmente não o vinha naturalmente, com ele tendo que passar horas relendo uma única carta para ter certeza de que não iria fazer nada rude, o tempo todo dolorosamente consciente de suas ações e gestos e palavras e do quanto ele sempre parecia errar.

E ainda assim, naquele dia, naquele momento, com aquele menino esfarrapado, Draco só tinha tido vontade, do jeito mais bondoso que sabia ser, de tirar um pouco da briga dos olhos dele.

Draco era uma pessoa horrível, então ele falhou. Claro que falhou. Isso o encheu de raiva. Ódio e amargura e todos aqueles sentimentos que hoje ele não tinha mais forças para sentir.

Ele é a pessoa mais corajosa que eu já conheci, Draco iria contar para Vincent e Greg algumas semanas depois das aulas começarem e iria querer dizer eu odeio ele porque ele é tudo que eu fui ensinado a odiar a minha vida inteira.

Ele é a pessoa mais corajosa que eu já conheci, Draco iria dizer e iria pensar eu odeio ele porque eu nunca conseguiria ser como ele.

Ele é forte de um jeito que eu nunca poderia ser.

Draco iria pensar e dizer que o odiava por isso, mas a verdade era algo escondido entre as costelas dele, frágil e tímido; muito facilmente estilhaçado. A verdade era algo não falado, não por Draco, não por muitos anos.



Lucius, apesar de não ter demonstrado qualquer conhecimento das outras coisas que Draco estava fazendo em Hogwarts, como convidar uma nascida-trouxa e concordar em ir para o baile de terno, obviamente percebeu a reportagem. Era impossível de não perceber, com ela sendo a manchete principal do principal jornal bruxo.

but we are brave,   DRARRYOnde histórias criam vida. Descubra agora