quarenta e oito

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A verdade era que, no fim do dia, haviam momentos que marcavam a vida de uma criança. E, talvez ainda mais importante para Draco, haviam momentos que tinham toda a capacidade de quebrar a alma de alguém.

Ele não sabia, quando ouviu o nome de Potter pela primeira vez e sentiu a magia do diário de Tom quando ainda era uma criança, que aquelas aparentemente inconsequentes situações iriam fazer parte daquele primeiro grupo. Elas iriam retorcer sua visão do mundo em algo sombrio e errado por tempo demais, retorcer seu coração em um formato que ele ainda tinha que se esforçar todos os dias para endireitar, e Draco não tinha a mínima ideia quando aconteceu, quando ele era pequeno e inteiro e ingênuo demais, estendendo as mãos em direção a luz sem nenhum medo de ser queimado.

Ele não sabia, enquanto procurava seus amigos para eles verem a Terceira Tarefa juntos, que aquele dia iria mudar tudo e fazer parte do segundo grupo.

Ninguém sabia.

Se alguém soubesse, qualquer alguém, elu com certeza não estaria sorrindo e comemorando e aplaudindo os Campeões igual a multidão inteira estava.

Draco olhou para todos aqueles rostos, alunos e organizadores e expectadores, crianças e adolescentes e adultos visitantes, e haviam talvez alguns que pareciam apreensivos, mas era a mesma quantidade de apreensão que ele via em dias de jogo de Quadribol. Nada suspeito. Nada verdadeiramente assustado. Os gêmeos Weasleys, que vinham tomando conta das apostas o ano inteiro, eram os mais inquietos, calados como eles normalmente não ficavam, mas isso tinha explicação e razão e compreensão.

Draco ainda estava com o peito um pouco apertado, pensando em vários pedacinhos rosa de cérebro se espalhando pelo chão de pedra, mas então ele ouviu Daphne gritando "ei, Malfoy, aqui!" e ele se sentiu relaxando, porque os amigos dele estavam relaxados e animados e fazia Draco parar de sentir tanto medo. Ele chegou perto e Greg o estendeu a carta de um Sapinho de Chocolate que estava comendo, e todas as preocupações dele pareceram imediatamente ridículas enquanto ele observava o rosto sorridente e familiarmente teimoso de Godric Gryffindor.

Godric riu sem som e mostrou os dentes brancos e balançou os grandes cabelos, antes Draco o enfiar em seu bolso de trás com uma revirada de olhos. Ele sorriu para Greg, que o respondeu com um sorriso brilhante, mesmo que com os lábios um pouquinho sujos de chocolate, e tudo parecia calmo, normal.

Draco se orgulhava de ser inteligente e ambicioso e um sonserino que daria orgulho em Salazar, mas a verdade era que, mesmo depois de Tom, Draco ainda tinha um último, muito pequeno pingo de inocência dentro de si, tão bobo que mal dava para acreditar que tinha sobrevivido em meio ao veneno ácido dos Malfoys por tanto tempo. E ele sentiu aquela carta, e olhou para Greg, e para o céu, e pensou tá sol.

Coisas ruins nunca acontecem quando se está sol.

"Eu acho que eu vou fazer uma aposta," decidiu, renovado, lentamente perdendo a vermelhidão por causa da vergonha do seu encontro com Potter.

Blaise levantou uma sobrancelha, mas, até que claramente contra a sua vontade, os cantos dos lábios dele seguiram o movimento, o que o fazia parecer mais divertido do que julgador como Draco sabia que ele queria parecer.

"Você não achava que era idiota?" perguntou, cruzando os braços.

"Mudei de ideia." Draco encolheu os ombros. "Agora eu sou parte do povão, você sabia? Eu não me sinto superior a vocês pessoas normais e medíocres mais," o que fez Suki gargalhar, um som alto e animado, os olhos brilhantes enquanto ela se aproximava e batia o ombro dela com o ombro de Draco.

"Isso," ela apontou, "é tão estranho quanto você tentando falar elogios aleatórios o tempo todo. Ao menos soou mais natural, então parabéns por esse avanço, mas ainda é estranho."

but we are brave,   DRARRYOnde histórias criam vida. Descubra agora