oito

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AVISO: eh, a linha do tempo realmente tá uma bagunça, só não tenta pensar em datas. meses e dias não são reais. eu acabei de acordar e já são quatro da tarde, sei lá.




Draco sabia, de um modo estranhamente desatacado da situação, que as coisas estavam ficando muito piores muito rápido. Ele podia ver como se nem estivesse acontecendo com ele próprio, como se de vez em quando ele estivesse observando seu corpo ao invés de vivendo dentro dele.

De vez em quando. Mas não sempre.

Quando ele estava escrevendo para Tom, ele sempre se sentia muito firmado, sua cabeça muito clara. Seus pensamentos estavam um pouco mais acelerados, é, mas ao menos naqueles momentos eles ainda eram dele, fáceis de entender e acompanhar.

Draco estava sempre sorrindo nesses momentos, também. Os cantos de seus lábios se levantavam mesmo quando ele tentava se segurar e o coração dele acelerava só dele pensar em Tom, e no rosto perfeito de Tom, e no cabelo preto e suave de Tom, com só aquele único cachinho perfeito que ficava caindo em frente aos olhos dele, e nos próprios olhos dele, brilhando com uma diversão sempre muito mal contida que era como uma luz em meio a toda aquela outra escuridão. Até o retorcer dos lábios cheios e rosados de Tom ficavam parecendo na mente de Draco. O maxilar dele, as maçãs do rosto, os cílios. Tudo.

Todo dia as palavras de Draco saiam com mais facilidade, a conversa dos dois mais natural. Ele sentia como se soubesse tudo sobre Tom. Como se Tom soubesse tudo sobre Draco e não julgasse nada. Nunca iria julgar, e por isso Draco poderia o contar tudo.

Os únicos outros momentos em que ele se sentia tão cheio de clareza era quando ele estava falando com seus pais e logo depois dele ter um apagão muito ruim e acordar em um lugar muito suspeito, coberto por sujeira ou sangue.

Aquela última parte, apesar de ser tão obvio que era meio desnecessário dizer, era a razão para Draco estar tão confuso e assustado com o que estava acontecendo com si.

Era ruim.

Era tão absolutamente terrível – mas quando ele tentou perguntar sobre isso para Tom, Tom soltou aquela risada fantasmagórica dele, que ecoava para fora da página e retumbava pela cabeça de Draco, e ele disse que Draco não tinha porque temer. Ele disse que, não importa o que fosse o problema, acordar sem memórias e com sangue na mão era algo bem Malfoy, não era?

Draco tinha rido, porque Tom era super engraçado, mas ele não conseguiu se livrar, ao menos não completamente, daquela sua apreensão.

Ele só não sabia quem mais perguntar a não ser Tom. Como ele poderia saber, depois de semanas e até meses dependendo completamente de Tom?

Draco não podia ir para o seu pai, muito menos. Estava sentindo vergonha demais por ter perdido tanto controle da situação e toda vez que ele tentava escrever alguma carta para Lucius mencionando os acidentes e pedindo ajuda, ele se engasgava com o nada, suas mãos tremendo e derrubando a tinta para a sua pena em cima de todo o pergaminho, o preto pingando e o lembrando de um líquido carmesim que tinha pingado por todos os seus braços. Ele sabia que não podia fazer isso, só ficando ainda mais certo quando Tom o disse que ele não deveria.

Então Draco continuou calado, sem fazer nada diferente do que vinha fazendo.

Bom garoto, disse Tom, e as mãos de Draco tremeram ainda mais. Bom garoto, ele repetiu, apesar das palavras parecerem cinzas na língua de Draco e ele ainda conseguir ver uma sujeira vermelha e seca nos cantos das unhas dele. Bom garoto, Tom concordou, e Draco apertou o diário com muita força contra o seu peito, sentindo mãos fantasmas e frias se fechando em seus ombros, o apertando e o protegendo, o dando todo o apoio que ele precisava.

but we are brave,   DRARRYOnde histórias criam vida. Descubra agora