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parte um
1992 - 1993

















Draco estava deitado no chão da sua sala a primeira vez que ele ouviu o nome de Harry Potter.

Era uma das memórias mais claras de toda a sua infância, o tipo de momento que continuava com uma criança por anos, que as marcavam até muito depois delas virarem adolescentes e até mesmo adultos, e que mudava o jeito como elas viam o mundo de uma maneira quase irreversível. Cada detalhe se prendia na sua mente, imortalizado. Cada detalhe importava, não podia e não seria esquecido.

A barriga de Draco estava pressionada contra o tapete grosso e confortável embaixo de si, a lareira crepitando um pouco mais para trás, a única fonte de calor e barulho em todo o cômodo

Do lado dele havia um pote com maçãs cortadas em pedacinhos pequeninhos por Dobby, na sua frente um pergaminho e, do seu outro lado, algumas tintas. Ele tinha escolhido a vermelha, porque ela era a cor mais vibrante e chamativa de todas, e ele estava balançando as suas pernas animadamente enquanto usava a ponta do seu dedo para pintar a Marca Negra, planejando dar o desenho para o seu pai mais tarde.

Draco se achava tão talentoso que de vez em quando ele pausava, via o que tinha feito e soltava um som orgulhoso, clicando com a sua língua e concordando com a cabeça. Ele levantava o seu pergaminho, só um pouquinho.

Quando a luz da lareira o iluminava de certa maneira, quase parecia que ele estava desenhando a Marca com sangue.

O sangue sujo dos sangue-ruins e traidores de sangue, Draco pensou, assobiando enquanto continuava seu desenho com toda a leveza e calmaria que só uma criança era capaz de ter. Ele achava que Lucius iria amar. Ele sabia iria.

Alguns minutos depois, Lucius realmente entrou na sala.

"Papai, papai!" Draco exclamou, ainda deitado, apontando para o seu desenho com seu dedo cheio de tinta. "Vem ver o que eu estou fazendo para você!"

Lucius parou na frente de Draco, virando seu pescoço para conseguir ver o pergaminho melhor e entender o que Draco tinha estado tentando desenhar. Ele era tão mais alto do que Draco e Draco teve que olhar tão para cima que até doeu seu pescoço, mas ele nem se importou, só esperou a reação de Lucius.

O fogo reluzia nos cabelos longos e maravilhosos dele, criando reflexos de vermelho e dourado em meio ao prata. Ele parecia com algo de outro mundo, algo maior e mais inteligente do que um humano qualquer. Como um deus pronto para pregar todas as verdades do universo para os seus fiéis seguidores.

Era assim que Draco sempre via seu pai.

"Meu príncipe," ele disse, a voz muito doce, o sorriso muito delicado. O fogo na lareira pareceu crescer. "Você sabe o que isso que você está desenhando significa?"

Draco sorriu, alguns dentes faltando, outros ainda dentes de leite, um pouco tortos e grandes demais. Seus olhos brilharam, porque ele sabia a resposta e ele estava muito feliz e orgulhoso de si mesmo, explicando para o seu pai sobre a grandiosidade do Lord das Trevas deles. Seu corpo era pequeno e sua mente era completamente inocente, ainda – a boca dele já tinha sido ensinada como explicar que a destruição de todo um grupo de pessoas seria melhor para sociedade em geral.

Ele já tinha ensinado como justificar genocídio.

Quando ele acabou, Lucius se ajoelhou na frente dele, passando uma mão pelo seu cabelo. O polegar dele fez carinho na bochecha de Draco, e Draco sorriu ainda mais quando ele disse:

"Você tá certinho, meu príncipe." A manga de Lucius estava dobrada. Draco conseguia ver a Marca no pulso dele – a coisa mais linda em todo mundo, Draco achava. Quando ele crescesse, ele ia fazer uma também. "Você sabe porque o nosso Lord não está com a gente mais?"

but we are brave,   DRARRYOnde histórias criam vida. Descubra agora