vinte seis

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AVISO: menções de animais sendo mortos, mas não é muito pior do que a cena do Draco na Floresta Negra lá no capítulo onze. ele só tem um pesadelo meio horroroso, qualquer coisa é só pular para frase "ele não sabia como sabia".




Aquela noite, pela primeira vez em muito tempo, Draco não sonhou com aquela praia e os pais dele – ou Potter – o torturando. Isso não queria dizer que ele teve uma boa noite de sono que o permitiu acordar revigorado e descansado.

Dessa vez, nos sonhos dele, ele estava no chão da Floresta Negra, ajoelhado em meio a terra pintada de carmesim e aos cacos de vidro, embaixo de árvores que eram grandes e escuras demais e um céu que era muito vermelho. Nas mãos frias dele, uma faca, torta e não muito afiada, que ele enfiava na carcaça de um animal que havia na frente dele. Dita faca, cega como era, precisava de muito mais força do que Draco realmente tinha, e não só tornava o processo mais difícil, como mais lento e sangrento também.

Era um cervo, Draco achava, ou talvez um veado. Os olhos dele estavam cheios de lágrimas e ele não conseguia ter certeza do que era, só que ele estava o matando e o abrindo, enfiando dedos trêmulos por entre a carne e a pele e os nervos. Ele tirou os órgãos, um por um, e os colocou ao redor dele no chão até todos os cacos estarem cobertos por sangue que era em parte dele, em parte não.

Draco podia ouvir o vento gritando e lobos uivando e os sibilos de cobras ficando cada vez mais altos nos ouvidos dele, e o desespero dele cresceu também. Ele deixou a faca de lado, inútil. Ele unhou a carcaça e arranhou caminho mais para dentro e quebrou ossos, abriu espaço no interior daquele animal, e ele engatinhou lá para dentro, se encolheu em meio a carne e o sangue até estar pequeninho e escondidinho, puxando e distorcendo e retorcendo a pele para fechar o buraco que tinha aberto para se deixar entrar. Os sons lá fora aumentaram. Os sons lá dentro, da respiração hiperventilada de Draco e o coração dele indo a loucura, aumentaram também. Os ouvidos dele estavam começando a apitar e doer. O cheiro acre de morte e podridão fazia o nariz dele arder.

De repente, ele não conseguia se mover mais, nem para respirar, e alguém fincou a faca no lado de fora da carcaça, tão para dentro e com tanta força que o atingiram através de tudo, indo a abrir como Draco tinha a aberto, indo cortar Draco também. Draco acordou ao mesmo tempo em que soltou um grito dentro do sonho, tendo os intestinos dele próprio lentamente abertos.

Ele não sabia como sabia, mas ele sabia que a pessoa no fim do sonho dele, se revelada, teria sido Abraxas.

Ele sabia que a risada que ele ouvia ecoando até agora, no escuro do quarto e da mente dele, pertencia a Tom.

Draco não sabia se a raiva no peito dele era dele mesmo, ou se ela realmente era de Tom, ou até mesmo de Abraxas, ou uma mistura venenosa de todos eles três, porque em algum ponto Draco tinha começado a se juntar com eles e ele não sabia mais como se separar, como diferenciar o que era ele e o que ele tinha pegado e copiado deles dois, porque se as mãos dele eram de Tom, então a aparência dele era toda de Abraxas e não havia como negar. Ele todo era uma criatura costurada usando partes de outras pessoas, pessoas que tinham morrido fazia tempo, que ele nunca tinha conhecido de verdade, mas que ele não conseguia deixar de ver como deuses.

Aquele sentimento queimava, e machucava, e aquela raiva era muito mais poderosa do que a tristeza e a confusão e a traição que ele vinha sentindo fazia tanto tempo. Draco sabia disso. Draco tinha certeza disso.

É só que, ficar triste era vergonhoso. Ficar triste era algo que Malfoys e Blacks não faziam, assim como eles não eram traídos e assim como eles não ficavam confusos. Eles simplesmente destruíam outras pessoas. Eles nunca machucavam si mesmos. Isso seria patético.

but we are brave,   DRARRYOnde histórias criam vida. Descubra agora