Capítulo XV

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O final de semana chegou e Kael estava nervoso, não sabia o que esperar da avó de Dionísio, não tinha ideia da impressão que causaria, sabia que não seria apresentado como namorado, provavelmente amigo seria o termo usado, mas se lhe desagradava a vida que o neto levava, talvez conhecer Kael fizesse o mesmo, seria possível que achasse que levava o mesmo estilo de vida e não seria bom que estivesse próximo de seus bisnetos, poderia nem mesmo entender o que significava sua presença em sua casa, ou se aborrecesse quando percebesse o jeito delicado que tinha, torcia para que ela não fosse preconceituosa, pois sem isso, as coisas já seriam bem difíceis.

A primeira coisa que fez ao descer em frente a casa simples, que muito lembrava a sua, em um bairro um pouco mais distante do seu, e avistou na varanda a senhora fazendo crochê sentada em um banco de madeira e em seus pés duas crianças que brincavam, foi tropeçar, seu olhar estava tão absorto a visão tão familiar que a cena lhe fornecia, que sequer se deu conta das pedras que cercavam os pequenos canteiros de flores, seus joelhos chocaram-se contra as pequenas pedrinhas que preenchiam o espaço entre as maiores, e por reflexo suas mãos também seguiram o mesmo caminho, buscando frear o impulso de seu corpo à frente, a dor logo irradiou por suas mãos e joelhos, e quando ergueu a cabeça viu que agora havia atraído a atenção daqueles que a pouco observava, e então sentiu uma mão se envolver em sua cintura e logo ser erguido com facilidade, posto em seus pés novamente, fitou Dionísio que o olhava com visível preocupação, ao passo que no rosto de Kael não havia nada além de total constrangimento.

Dionísio se abaixou para conferir os machucados no joelho de Kael e assim que tocou o viu estremecer.

– Ele está bem meu filho? Feriu muito? – A avó de Dionísio se aproximou.

– Ralou vó... – Dionísio disse levantando-se puxando as mãos de Kael para si por seus pulsos, virando-os para que pudesse avaliar melhor, e percebeu que as escoriações que tinham no joelho eram mais do que haviam em suas mãos.

– Vamos pra dentro e colocar um pouco de violeta nisso, vai ficar bom rapidinho. – A senhora baixinha e gordinha tinha um semblante sério assim como o de Dionísio, e apesar da determinação que havia em sua forma de se expressar, e não deixar brecha para qualquer outra alternativa, não tinha o menor indício de grosseria ou desprezo.

– PAPAI! PAPAI! – Um coro de vozes infantis se fez ouvir, e quando menos esperou, viu Dionísio erguer os garotinhos em seus braços e sendo enlaçado em seu pescoço por dois pares de braços pequenos e magrinhos, que tinham mais força do que aparentavam.

– Oi meus passarinhos... – Disse enquanto os beijava em suas bochechas gordinhas e ganhava risadas em troca, provavelmente pela barba que lhes causavam cócegas.

As duas crianças fitavam com olhares curiosos o recém chegado que seu pai havia levado, mas todos apenas seguiram a senhora que os aguardava impaciente.

– Tem que limpar logo isso menino, pra não inflamar precisa passar remédio rápido e tirar essa reima... Violeta é ótima pra isso. – Disse antes de atravessar a porta.

– Violeta? – Com olhos injetados Kael sussurrou em questionamento para Dionísio. – Vou ficar roxo... lembro quando a mamãe usava isso na gente quando éramos pequenos... – Kael franziu o cenho como se não tivesse boas lembranças, recebendo uma risada de Dionísio, que atraiu atenção de seus filhos, que fitavam seu rosto hipnotizados.

– É melhor não contrariar dona Marília. – Dionísio disse se divertindo.

– Mas vou ficar com duas manchas roxas nos joelhos Dionísio! Eu tive um corte gigante na testa e mamãe inventou de passar isso, só que não ficou apenas no machucado, escorreu por todo o meu rosto, passei a semana inteira indo pra escola parecendo um alienígena. – Mais uma vez Kael sussurrou, externando sua preocupação, o o que rendeu uma gargalhada estrondosa de Dionísio, seguido por seus filhos que o faziam apenas por sua risada, sem entender realmente do que falavam.

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