Dionísio e Kael chegaram um pouco antes do meio dia de uma quinta-feira em Brasília, ainda no aeroporto encontraram Júlio que já estava a sua espera.
Júlio simplesmente jogou-se no irmão, e por pouco, se não fosse o ótimo reflexo de Dionísio, teriam ido ao chão, os dois se abraçaram e juntos de Kael, riram pela tamanha empolgação que consumia Júlio.
Assim que deixaram o aeroporto, antes mesmo de conhecerem o hotel em que ficariam, foram a um restaurante. O local tinha sido escolhido por Júlio, era elegante e frequentado por uma boa parte dos políticos, e naquele horário como esperado, estava extremamente cheio, e provavelmente não teria conseguido almoçar ali se Júlio não tivesse feito a reserva com bastante antecedência.
Dionísio nunca tinha sido uma pessoa de frequentar locais como aquele, sempre preferiu ambientes mais simples, ainda que tivesse condições financeiras de até mesmo comprar o lugar se quisesse, mas naquele momento, não conseguia deixar de pensar o quanto sua vida havia mudado, de um garoto pobre que mal conseguia ter uma única refeição no dia, acabou enveredando em caminhos obscuros que o levaram a obter o dinheiro que tinha, havia sido preso e cumprido sua pena, e agora solto não tinha mais negócios escusos, havia migrado para uma área totalmente nova, vendendo cabeças de gado e tudo que cultivava na fazenda.
Jamais havia pensado que algum dia em sua vida estaria em um restaurante como aquele, cheio de políticos, desfrutando da mesma comida que eles, em que um único prato custava muito mais do que seu pai conseguia com a pesca em meses, isso, antes de abraçar aquela vida perigosa, que acabaria por arrastar seus filhos juntos.
Por um momento, enquanto observava as mesas em volta cheias de políticos e grandes empresários, Dionísio pensou que talvez, se apenas um daqueles homens tivesse escolhido propor algo que beneficiasse as milhares de famílias pobres que haviam naquele país, sua vida pudesse ter sido diferente do que tinha.
Júlio pareceu saber exatamente o que o irmão pensava, por isso sorriu discreto olhando ao redor.
– É, eu sei. Muitas vidas poderiam ser diferentes... Pensei a mesma coisa quando cheguei aqui. – Comentou Júlio, vendo a surpresa no rosto de Dionísio por ter sido pego.
Apesar dos dois possuírem personalidades bem distintas, compartilhavam do mesmo pensamento, então sorriram discretamente e voltaram a conversar novamente.
Ainda que sempre conversasse com todos por chamada de vídeo e fosse atualizado sobre o que estava acontecendo na fazenda, queria saber dos avanços de tudo que Dionísio havia implantado ou estava planejando.
No último mês, muitas coisas haviam mudado na fazenda, assim que Dionísio saiu, aproveitou ao máximo o convívio com sua família, mas também se empenhou em colocar em prática as coisas que tinha planejado quando estava preso.
Aumentou o espaço de terreno para produção, reformou as casas já existentes dos trabalhadores da fazenda, assim como também havia começado uma construção, que ainda estava bem no início de uma vila de casas para abrigar muito mais deles, e ainda estava a frente de uma outra já bem avançada, uma escola para que as crianças da fazenda pudessem estudar e não terem de enfrentar uma hora e meia de viagem para chegarem ao colégio da cidade.
Definitivamente, aquele mês estava sendo o mais movimentado de todos na fazenda, e a previsão para que a escola pudesse funcionar seria dali a uns três meses, já que Dionísio ainda não tinha conseguido todos os professores necessários, mas com certeza não demoraria a fazê-lo.
Um dos galpões que ficavam próximo de onde moravam anteriormente não tinha sido fechado pela polícia, já que desse Dionísio ainda não tinha obtido o título, possuindo apenas o contrato de compra e venda, por isso a propriedade acabou não sendo incluída ao montante ilícito. Apesar de ter passado anos sendo motivo de temor na região em que morava, agora Dionísio queria transformar o galpão em uma espécie de centro comunitário, em que pudesse fornecer profissionalização técnica, lazer e assistência alimentar, mas isso ainda não sabia muito bem como faria, queria formalizar seu funcionamento, e por isso iria precisar da ajuda de Júlio, que do seu jeito ácido, sem poupar piadinhas, logo se dispôs a ajudar, assim como fez Arnaldo e Jairo, que em apenas um ano pareciam ser outras pessoas, o que surpreendeu Dionísio.
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Destinado a você
RomanceKael, um jovem humilde e de modos simples, após perder a mãe, se vê responsável pela criação de seus três irmãos mais novos, sem emprego e depois de frustrantes buscas, aventura-se em uma nova empreitada. Kael ao entrelaçar seu caminho ao de Dionísi...