Capítulo VII

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O encontro com Henrique não tinha sido o que esperava, diferente do primo, não era arrogante e nem ostentava tudo que possuía, o tratou com educação do começo ao fim de seu encontro. No restaurante em que os quatro foram jantar, um dos mais caros da cidade, notou que Kael estava apreensivo, segurou sua mão, tratando de deixa-lo seguro e assim adentraram o ambiente requintado.

Mesmo tendo vestido a melhor roupa que tinha, pois sabia que os primos tinham posses, como Viviana o tinha avisado, a sensação que lhe tomou durante todo o tempo foi de desconforto, sentia-se totalmente deslocado, não pertencia ali, o que era facilmente confirmado até mesmo pelos olhares de esguelha que recebia daqueles que lhe serviam, e não apenas dos que jantavam nas mesas próximas, Kael temendo fazer algo que o deixasse ainda mais envergonhado, tentou deixar a sensação de que todos o observavam em segundo plano e atentar-se ao sofisticado prato a sua frente.

Mais uma vez seu desconforto não passou despercebido ao atento Henrique, que vez ou outra fazia um comentário que por alguns minutos quebrava sua tensão, e Kael em sorrisos discretos agradecia pela ajuda. Mas o que realmente quebrou suas apreensões foram os atos que se seguiram, quando voltavam para casa Henrique pediu repentinamente que Marcos parasse, que o fez não antes de resmungar, então desceu e chamou Kael para fazer o mesmo, que incentivado por um sorriso imenso que Viviana lhe direcionou o seguiu para a praça central, sozinhos pareciam mais leves, e a conversa fluiu naturalmente como não havia ocorrido antes. Henrique divertido, resmungou que a comida do restaurante não havia sido suficiente e se Kael aceitava ir ao carrinho de cachorro quente com ele, riu da forma em que o convite foi feito, mas concordou, e de lá emendaram para um sorvete.

Por incrível que pareça, haviam conversado um pouco de tudo, mas algo tão simples ainda não tinha sido alvo dos diálogos, e quando finalmente tornou-se um tópico, Kael que já divertia-se, e que mais descontraído arrancava risadas de Henrique, deixou o sorriso morrer nos lábios ao ouvir a maneira alegre em que dizia sou da PF.

– Algum problema Kael? – Indagou percebendo a mudança repentina em sua expressão.

– Não, nada. – Respondeu em uma voz insegura e olhar de quem claramente escondia alguma coisa, mas Henrique deixou passar, pois muitos se sentiam intimidados quando mencionava sua profissão. – PF? Tipo, Policia Federal mesmo? É que eu não tenho muito conhecimento dessas coisas. – Indagou, com um sorriso sem jeito, buscando logo justificar-se com o intuito de amenizar o assombro que lhe tomou diante de tal revelação.

– É. Já tem cinco anos que tô integrado a corporação.

– O que você faz é muito importante. – Kael tentou manter a conversa o mais normal possível e não demonstrar o nervosismo que o consumia por dentro.

Henrique sorriu orgulhoso. – Sabe, ralei muito pra entrar, teve um concurso assim que me formei mas não consegui passar, fui bem na primeira fase, estudei muito, mas fiquei na prova física, acredita? Fiquei inconformado na época, mas eu era muito magrinho, só tinha altura e nem tinha me preparado fisicamente... mas aí, passei um tempo na academia e alguns anos depois, finalmente consegui.

Kael não conseguia imaginar Henrique daquela maneira, era alto e forte, com o porte apenas um pouco inferior ao de Dionísio, mas a semelhança encerrava-se aí, mais jovem, menos sisudo, sorriso fácil, de pele parda e completamente livre dos desenhos que Kael tanto desejava traçar na pele de Dionísio, e mais uma vez Kael se pegava a pensar em seu patrão, comparando-o ao rapaz que estava a sua frente, e para ele, não só a aparência e compleição física de Dionísio lhe era atraente, mas o ar pesado, o olhar que parecia ver através dele, a voz, o cheiro, e sua força, que Kael sabia exatamente como a empregava, ainda lembrava de maneira vívida como o segurou em seus braços, envolvendo-o com cuidado, mas sobretudo firmeza.

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