Capítulo XXX

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Meses se passaram, e com eles foi-se o natal e o ano novo. A família de Dionísio estava vivendo de uma maneira restrita, mas não impediu que no aniversário de Kael, mesmo que de forma discreta, uma pequena comemoração acontecesse. As crianças adoraram decorar a casa com balões e fitas coloridas, Dionísio até mesmo convidou Jonas e Viviana, cuja a presença ultimamente havia se tornado frequente, suas visitas eram tudo que Kael tinha para distraí-lo da vida monótona que estava levando. O mesmo ocorreu no aniversário de Dionísio algum tempo depois, apenas com um bônus a mais, que Kael preparou exclusivamente para o namorado, usando algumas das coisas que Jonas tinha comprado e ele ainda não havia experimentado.

A pequena comemoração acabou por ser uma boa distração para todos, já que agora nem mesmo as crianças tinham permissão para frequentarem a escola, e com um acordo extremamente benéfico com a instituição de ensino, em que Dionísio desembolsou uma generosa quantia, passaram a enviar as tarefas escolares e professores algumas vezes na semana, para que não ficassem atrasados, no entanto administrar uma casa cheia de crianças com muita energia e que não tinham em que gasta-las, tornou-se um verdadeiro desafio, todos estavam estressados, eram muito tempo enclausurados, mas como não havia outra forma, tiveram de aceitar. Até mesmo dona Marília que resistia em viver naquela casa, tinha cedido, motivada pelo ataque recente a sua casa, o que acabou por gerar um conflito ainda mais intenso entre Dionísio e Alberto.

Viviana já estava de oito meses, e ao contrário de tudo que esperava, estava morando com Vitor, que acabou se revelando extremamente protetor e ciumento, chegando até mesmo a planejar as várias formas em que afastaria qualquer possível pretendente da filha que ainda não havia nascido, quando estivesse na adolescência, o que acabava sendo motivo de divertimento de todos os amigos, para Vitor tinha se tornado quase um objetivo de vida, uma missão a ser planejada antecipadamente. Viviana não queria ficar longe da mãe, principalmente naquele período e Vitor acabou fazendo sua vontade, comprando uma casa na mesma rua para que morassem.

Vitor sempre que podia levava Viviana para ver Kael, e Jonas já era uma presença constante, Dionísio até mesmo se divertia com o jeito atrapalhado e apressado de falar do rapaz, e sabia que sua companhia sempre alegrava Kael. No entanto, Júlio era quem detestava aquelas visitas, o jeito espontâneo e divertido de Jonas, acabava entrando em conflito direto com o seu humor sarcástico, irônico e ácido.

Dona Marília era quem mais parecia divertir-se com aquela bagunça, tinha dito a Kael que sequer se lembrava da última vez que havia tido momentos tão felizes, apenas lamentava o que estava acontecendo, assim como Kael, queria viver tudo aquilo livremente, em sua nova vida na fazenda, e sem qualquer perigo.

No entanto, o ataque a casa de dona Marília, apenas intensificou o que já estava em um nível de tensão altíssimo.

Dias após o ataque a casa de Dionísio, Vitor forneceu a confirmação que ele esperava, Alberto com ajuda do Cartel Pérez e Geraldo, tinham sido os responsáveis pela rajada de tiros em sua casa, ainda que já antecipasse a resposta que ouviria, conseguia indignar-se, pois o irmão poderia ter considerado manter aquela rixa entre eles, mas colocar sua família no meio de tudo aquilo, exterminava qualquer chance que Dionísio ainda mantinha de seu irmão não ser um completo monstro.

Movido pela fúria e o sentimento de traição que o consumiam, Dionísio localizou os pontos em que Alberto concentrava seus negócios e fez o mesmo, no entanto, além dos vários aliados do irmão mortos, Dionísio levou toda a mercadoria que havia nos locais.

A única lei que parecia existir naquela região era a do sangue, dia sim, dia não, as ruas estavam lavadas por ele, o vermelho parecia colorir de forma tenebrosa o asfalto, calçadas e muros, todos estavam sobressaltados na área, ninguém tinha ideia a que horas um novo confronto poderia acontecer. A polícia atenta como estava a cada passo de Dionísio, tentou liga-lo aos ataques, no entanto todas suas tentativas acabaram frustradas, já que nenhum dos moradores parecia ter conhecimento algum do que estava ocorrendo, a cada pergunta nova da polícia, mais negativas eram ouvidas, ninguém se atreveria a revelar nada, ainda que entre si os comentários fossem fervorosos, mas para a polícia o voto de silêncio continuava, e não havia insensatez alguma nisso, estava mais para extinto de sobrevivência, bastaria um único comentário dito de maneira errada e suas vidas poderiam ficar seriamente ameaçadas.

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