Capítulo II

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Nas semanas que se seguiram Kael saiu todos os dias para vender seus bolinhos, mas ao contrário do que esperava as vendas não tiveram o retorno esperado, as meninas no salão, desde que experimentaram pela primeira vez continuaram comprando todos os dias, apesar de sempre reclamarem de quebrarem a dieta, os frentistas do posto de gasolina também, mas o restante ao final do dia quando ninguém mais comprava Kael doava para algum morador de rua, então, essas eram suas únicas vendas fixas e o dinheiro obtido não daria nem mesmo para repor o material para uma nova produção. Persistindo, continuou, mas a intensidade das vendas eram as mesmas, até que teve seu melhor dia, aquele em que chegou em casa com as vasilhas plásticas vazias, pois havia vendido tudo, mas ainda assim não estava feliz, já que Dionísio tinha sido o comprador de todos eles, não que estivesse chateado com ele, mas porque sabia que nem sempre as vendas seriam boas como naquele dia, e se esperava conseguir criar seus irmãos com essa renda, agora tinha a certeza que mais uma vez falharia, triste, preocupava-se com a geladeira que aos poucos esvaziava-se novamente e mais contas estavam por chegar, e dessa vez não poderia adiar, ou pagava ou veria seus irmãos ficarem no escuro e sem água.

Kael não iria desistir, ele tinha três crianças que dependiam completamente dele, sequer poderia considerar tal possibilidade, então, continuou a dividir seu tempo com os cuidados com seus irmãos e a produzir os bolinhos, até o dia em que mais faturas de cobrança chegaram e na geladeira quase já não havia mais o que comer, tendo que escolher em que deveria empregar o pouco dinheiro que havia conseguido, mais uma vez optou por alimentar seus irmãos, as contas novamente seriam adiadas para quando o dinheiro por um milagre surgisse em seus bolsos.

– Kael, faz leite pra mim? – Emílio entrou na cozinha despertando Kael de suas preocupações.

– Claro que faço, Lucia e Aquiles não querem?

– Não sei, eles estão assistindo TV.

– Pergunte a eles. – Emílio correu para a sala novamente e logo retornou.

– Querem. Nós estamos assistindo filme, você não vai assistir com a gente?

– Não querido, tenho que terminar essa massa, mas nem vocês deveriam estar assistindo, já está muito tarde.

– Mas já tá quase no final. – Emílio disse lamentando, tentando sensibilizar Kael.

– Mas vocês terão escola amanhã e não quero ninguém dormindo durante a aula.

Kael terminou de preparar o leite e o entregou a Emílio que foi imediatamente para sala tentando aproveitar os últimos minutos do filme. Kael permaneceu em seu trabalho até que tivesse posto a última forma de bolinhos para assar, esperou que tivessem prontos e os embalou, depois foi se juntar aos irmãos na sala, assim que sentou-se ao lado de Aquiles as luzes se apagaram.

Antes mesmo que pudesse lamentar, pois sabia exatamente o que ocorria, Lucia pulou em seu colo assustada com a escuridão que havia tomado a casa.

– Kael? Porque ta tudo escuro? Não gosto do escuro. – Lucia exclamou amedrontada.

– Foi apenas uma queda de energia amor, não precisa ter medo, eu to aqui. E já estava na hora de todos dormirem mesmo, não quero ninguém dormindo na escola.

– Poxa, perdemos o final do filme. – Lamentava Emílio.

– Vou dormir com você Kael. – Choramingava Lucia, enquanto Aquiles ainda não tinha se manifestado e assim permanecia em silêncio.

– Só tenho que buscar algumas velas na cozinha e vamos todos para os quartos, e olhem, só acendam caso precisem ir ao banheiro ou vir a cozinha, não a esqueçam acesa, tudo que menos queremos é provocar um incêndio, então, atenção.

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