Destinado a você

Capítulo XII

Em êxtase, Kael mal havia conseguido dormir, preparou o café da manhã de seus irmãos com um sorriso que insistia em permanecer em seu rosto, rodopiava ao entregar cada prato aos seus irmãos, que permaneciam sentados a mesa, Aquiles apenas coletava tal fato como mais uma informação e por isso se mantinha em silêncio, evitando os questionamentos que lhe eram tão comuns, no entanto, Emílio vendo a felicidade que irradiava de seu irmão, sorria junto com Lúcia, mas também se perguntava o motivo de tanta alegria, já que a tempos não o via daquela maneira, não desde que haviam perdido sua mãe.

– O que você tem Kael? – Com a voz doce e tipicamente infantil, Emílio indagou, ainda sorrindo.

– Como assim? – Perguntou, sem notar o quanto estava sendo transparente.

– Tá parecendo eu quando ganho retalhos da dona Nazaré... – Exclamou divertido, Kael então sorriu, lembrando do quão feliz seu irmão ficava ao receber os pedaços de pano que sobravam das costuras de sua vizinha, e por isso fazia uma nota mental para separar algum dinheiro e comprar alguns tecidos e linha.

– Não é bom?

– Claro que sim, é ótimo te ver assim mano. – Gentil, Emílio respondeu e Kael sorriu com doçura, sensibilizado pelo carinho que o irmão demonstrava.

Quando seguiu para o trabalho, Kael estava nervoso, não sabia como iria reagir ao ver Dionísio, a mensagem zumbia em seu ouvido como se tivesse ouvido sua voz, e apreensivo antecipava o que encontraria, questionava-se a respeito de como deveria se portar, continuava agindo normalmente, deveria tentar explicar e certifica-lo que também não estava arrependido ou o chamar para uma conversa, mas ao ponto que considerava tais possibilidades, avaliava se qualquer delas não acabaria por afasta-lo, então Kael resumia-se em indecisão, e por fim, o que lhe restou foi enfrentar seu nervosismo e entrar na casa de Dionísio sem qualquer pretensão, afinal, acima de tudo aquele era seu trabalho.

Kael apreensivo olhou em todas as direções antes de seguir para a cozinha, e não havia sinal algum de Dionísio, não sabia se o deixava mais aliviado ou chateado, ao mesmo tempo que queria se jogar em seus braços assim que colocasse os olhos sobre ele, temia pelas incertezas que o consumiam, e com esse sentimento iniciou suas tarefas, preparou o café, suco e um bolo de macaxeira, limpou tudo que havia usado na cozinha e na área de serviço começou a separar as roupas que deveriam ser lavadas a mão e outras que iriam para a máquina, sempre cuidando de tudo com esmero, até que ouviu os passos pesados de Dionísio se aproximarem da cozinha, mas nervoso não deixou o que fazia, nem mesmo para informa-lo que o café já estava pronto.

– Kael? – Chamando-o, Dionísio apareceu na porta, com um olhar de desejo que apenas se intensificou ao fitar o jovem, nem mais se preocupava em disfarçar, e assim permaneceu até que Kael o fitou de volta, inseguro e trêmulo o observava por entre os cílios, ergueu o cesto vazio de roupa, mantendo-o entre eles, mas tal atitude se devia apenas ao nervosismo, não queria mesmo afasta-lo.

– O café está pronto. – Murmurou. – Fiz café, suco e bolo. – Fitando o chão, não ousou erguer os olhos novamente, necessitaria de muito mais coragem para isso, o que naquele momento não dispunha.

A priori, Dionísio recebeu com estranheza a atitude de Kael, mas assim que viu o leve tom de rosa que se espalhava por suas bochechas e o olhar envergonhado, compreendeu o que se passava com o jovem e sorriu satisfeito, não havia rejeição, apenas daria o espaço que precisava, só não sabia por quanto tempo aguentaria, tendo em vista que desde que o havia provado, era tudo que conseguia pensar.

Kael passou por ele e seguiu para a cozinha, e com o cesto de roupas vazio ainda em mãos, finalmente conseguiu se dar conta do que fazia e que ali, tal objeto não lhe teria nenhuma serventia, o depositou no chão junto a bancada e pegou o que havia preparado, levando primeiro o suco e o café, e depois o bolo.