Capítulo XIV

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Nas semanas que se seguiram as coisas pareciam estar mais calmas, Kael estava satisfeito com a vida que levava, ele e Dionísio haviam se aproximado muito mais, já não existia a intensa timidez e insegurança que abatia o rapaz em todas as vezes que interagia com Dionísio, constantemente se procuravam, conversas longas tornaram-se costumeiras, descontraídas regadas a risadas, ou não, o sorriso fácil se estendia no rosto dos apaixonados com facilidade apenas com um mísero trocar de olhares, por sorte sua convivência se dava na casa de Dionísio, se não todos saberiam apenas por seus semblantes que eram muito mais que funcionário e patrão, os rumores que tanto haviam se alastrado anteriormente pelo bairro, e até mesmo a rivais, agora teriam uma comprovação, irrefutável, a forma que se olhavam os entregava.

Vitor era o único que de fato tinha conhecimento de como a relação dos dois havia avançado, tanto que Dionísio não se abstinha de tocar ou abraçar Kael em sua presença, mesmo que provocasse o constrangimento do jovem, afinal sua timidez havia reduzido entre eles, no entanto ao que pesava a demonstrações de afeto como show para Vitor estava a um outro nível, não porque sentisse vergonha de estar com Dionísio, mas em virtude de sua falta de experiência, que via tudo como uma grande novidade, namorar era novo, ainda que não tivessem rotulado o que tinham, para ele se encaixava perfeitamente a isso.

Havia momentos que Kael até mesmo sentia que experimentava uma vida de casados, passava o dia inteiro em sua casa, era responsável por todos os afazeres domésticos e quando Dionísio saía, aguardava ansiosamente seu retorno, se não fosse por sua volta para casa junto a seus irmãos, o que Dionísio relutava bastante em deixa-lo ir, teria a experiência na íntegra, a não ser também pela intimidade entre eles ainda não ter se dado em sua completude.

Essa era outra questão que nos últimos dias não havia o deixado em paz, em sua mente a ideia borbulhava, assim como também imaginava que deveria acontecer com Dionísio. Todas as vezes em que trocavam um simples beijo, seus corpos se inflamavam, o tatear se intensificava, mas nunca evoluíam, não porque não desejavam ou preferiam esfriar e esperar o momento certo, na maioria das vezes eram interrompidos, o que não deveria acontecer frequentemente, tendo em vista que ficavam sozinhos a maior parte do tempo, no entanto, não era todo esse tempo que tinham disponíveis, Dionísio precisava sair e mesmo quando retornava, sempre resolvia algo por ligações, e Kael ainda que estivesse ininterruptamente na casa, estava ali para trabalhar, então mesmo quando Dionísio iniciava algo, e o jovem ainda não tivesse feito todo o serviço que precisava, não cedia, postergando para um outro momento que estivesse menos atarefado, sempre fazendo questão de lembra-lo que aquele era seu trabalho, o que Dionísio encerrava afirmando que o patrão permitia folgas.

Nos momentos em que finalmente podiam aproveitar um ao outro, Vitor aparecia magicamente, trazendo problemas que apenas Dionísio pudesse resolver ou até mesmo para assistir um simples jogo, com times que sequer torciam, o que tornava estranho a empolgação exagerada de Vitor, obviamente, Dionísio não aceitava pacificamente a invasão e tratava de coloca-lo para fora e retornava com entusiasmo para Kael, que desanimado com a interrupção não mais queria continuar, o que de certa maneira os motivou a conversarem mais e mais, e se conhecerem melhor, até mesmo já faziam planos juntos.

Kael já havia contado boa parte de sua vida a Dionísio, que o fitava atento consumindo cada nova informação, o rapaz se surpreendia com a atenção que lhe era dedicada, achava sua vida monótona e desinteressante demais, e mesmo assim Dionísio o observava como se contasse sobre grandes aventuras. Kael fazia o mesmo quando ouvia Dionísio, mas em sua observação havia um tempero a mais, em seus olhos além da atenção, havia meiguice e doçura.

Dionísio chegava a se sentir presente na casa que Kael morava com os irmãos, tantas eram as vezes que o ouvia menciona-los, gostava de observa-lo e ouvir como tinha sido sua noite com as crianças, aquilo lhe dava a sensação de pertencer a uma família, o que acabava por conforta-lo e machucar ao mesmo tempo, pois lembrava-se que aquela não era a dele e talvez nunca se tornasse, já que conhecia os temores de Kael e não queria acabar sendo um exemplo ruim, ao terem sua presença.

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