Destinado a você

Capítulo XX

Kael e Dionísio foram todo o caminho conversando, e Dionísio a todo momento lançava provocações, o que hora ou outra acabava por arrancar alguns resmungos, risadas ou olhares travessos, tudo com o intuito de desmanchar toda a nuvem de preocupação que via sobre a cabeça de Kael após a conversa que haviam tido, o que para sua satisfação teve êxito, e quando finalmente chegaram ao seu destino, o clima estava mais leve e o único objetivo agora era desfrutarem de um pouco de tempo juntos.

– Agora que já te mostrei o pimental, vamos no açude, tem uns bezerros que tu vai adorar ver.

Kael o olhou animado, e o sorriso mal cabia em seu rosto, admirado pela beleza do lugar.

De todos os funcionários que tinha cruzado, Kael havia recebido apenas simpatia, as terras eram extensas, e por isso não poderiam simplesmente andar de um ponto a outro, o pimental, o açude e a casa principal ficavam em direções opostas, e seriam necessárias algumas horas de caminhada para que pudessem percorrer os caminhos, por isso usar a velha caminhonete de serviço da fazenda era a melhor opção.

Durante o caminho Dionísio cumprimentou alguns rapazes que consertavam uma cerca e apresentou a Kael o administrador que também havia sido mantido mesmo com a troca de proprietários, e pela primeira vez em que estava ali se sentiu desconfortável, já que um olhar hostil havia caído sobre ele, a princípio não conseguiu compreender a razão daquilo, mas após observar a breve conversa que o homem teve com Dionísio, e a maneira que sempre buscava se reafirmar, percebeu que a hostilidade se devia simplesmente ao fato de que ele era gay.

Kael não gostou do administrador, mas pelo que Dionísio havia dito parecia competente, e por isso resolveu ignorar suas questões pessoais e sequer comentou o que havia percebido.

No açude, Kael observou alguns bois tomando água, alguns outros se alimentando ali próximo e alguns bezerros que mamavam em suas mães, o jovem encantado com a cena se aproximou para observar mais de perto e então sentiu o corpo de Dionísio o cercar e envolver seus braços em sua cintura, e admirando a cena deixou-se recostar em seu peito e ali descansou, sozinhos e desfrutando da bela visão que a natureza lhes fornecia, conversaram por bastante tempo até que retornaram para o carro e seguiram para a casa principal.

Kael ficou impressionado com o quão grande a casa era, uma espaçosa varanda a rodeava, os pilares eram de madeira angelim trabalhada, com pequenas arandelas de ferro em seus topos, e o piso branquinho contrastava com todo o verde do gramado ao seu redor, a sala era ampla assim como todos os ambientes, e haviam doze quartos, e em tudo que a compunha haviam aspectos rústicos, tipicamente de uma fazenda, definitivamente quando Dionísio disse que a casa era grande, em nenhuma das formas que Kael a idealizou pensou que seria daquela maneira, e considerando a quantidade de quartos que haviam, Dionísio realmente tinha considerado seriamente junta-los ali, com todo aquele espaço disponível tinha certeza que as crianças ficariam verdadeiramente confortáveis, além de enlouquecidas com tudo que poderiam fazer por aqueles campos.

– Ah, eu tava pensando em mandar fazer um piscina lá na parte de trás, ou pode ser aqui na lateral também, ainda não sei, lá em casa não tem, mas acho que aqui seria muito bom, com tanta criança seria uma ótima distração. Sei que tem o igarapé, mas é mais distante, e é melhor ter eles aqui perto, sob nossos olhos.

Os olhos de Kael inevitavelmente brilhavam apenas ao observar Dionísio divagar com planos tão familiares, amava a forma que incluía todos, como se considerasse Lúcia, Emílio e Aquiles seus filhos, assim como Diogo e Lívia. Sem conseguir resistir mais, se aproximou de Dionísio e o abraçou, mergulhando seu rosto em seu peito, deixando se perder no perfume que tanto gostava, apenas para logo sentir ser estreitado nos fortes braços de Dionísio, que cessou tudo que dizia e se pôs a beijar seus cabelos.