Capítulo VI

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Dois meses haviam se passado desde o trágico ocorrido, Dionísio compadecido da situação traumatizante vivida por kael, lhe deu o tempo que precisasse para se recuperar, que recusou, alegando que o melhor remédio para ter sua mente sã novamente seria ocupa-la com o trabalho, então apenas dois dias depois Kael estava executando seus afazeres na casa de seu patrão.

Os primeiros dias haviam sido difíceis, Kael assustava-se com o mínimo barulho que ouvia, passou noites inteiras acordado e até mesmo, certa vez, recuou assustado com a aproximação de Dionísio, ao simples ato de pegar um pedaço de fruta que cortava sobre o balcão para a salada, o que não passou despercebido a seu patrão, que lamentava pela criatura doce e alegre ter se convertido em um cordeirinho assustado, até mesmo Vitor, solidário, freou todas as implicâncias que gostava de proferir, o levou para fazer compras sem reclamar e até mesmo com seu jeito bruto o ajudou com as sacolas.

Todos no bairro ficaram sabendo do que havia acontecido em sua casa, alguns demonstraram solidariedade e lhe dirigiram uma palavra de conforto, outros lhe culparam, pois sendo que o era deveria tê-lo provocado, como se fosse normal pedir que lhe fosse feito tal violência. Dona Nazaré o ajudou a cuidar das crianças nos primeiros dias, Viviana passou quase um mês dormindo em sua casa, todos adoravam, a cada dia chegava com uma novidade, suas histórias mirabolantes e invenções divertiam a todos, até mesmo seu namorado, Marcos, o levou para conhece-lo, bem arrumado, gostos caros, altivo e ar arrogante, mas ainda assim o tratou com educação, seu maior objetivo era distraí-lo.

Se os boatos que envolviam o nome de Kael e Dionísio já rondavam a comunidade, depois que souberam da impetuosidade aplicada em sua defesa, a confirmação parecia ter vindo ali, para todos Dionísio não era uma pessoa que poderia fazer algo de bom em troca de nada, então os comentários de que estava relacionado com um homem começaram a crescer, chegando a seus inimigos, que vendo aquilo como fraqueza começaram a colocar em prova sua autoridade, passando frequentemente a invadir seu território, que deixava uma tensão no ar, pois os conflitos tornaram-se intensos e inesperados, deixando todos em alerta constante, apesar disso, Dionísio parecia não dar importância alguma aos falatórios, e ao contrário do que Kael pensava não o demitiu e sequer comentou sobre o assunto.

Coincidência ou não, há apenas uma semana, Kael chegou para trabalhar e uma mulher, alta, loira e curvilínea descia as escadas apenas com a camisa de Dionísio, que para seu desgosto caía perfeitamente em seu corpo, era simpática e sorridente, o cumprimentou assim que o viu com um sotaque carregado do sul e sentou-se a bancada da cozinha conversando sobre o quanto estava gostando do Pará e tudo que ele tem a oferecer, frisando a última parte com certa malícia, o que deixou claro a Kael se tratar de Dionísio, Elisa era seu nome, gentil e divertida, kael ainda que pesaroso não tinha como não gostar dela.

E embalado pela tristeza que lhe abateu, recordou a única vez em que pôde está em seus braços, que se não fosse por tudo de ruim que lhe havia acontecido naquele dia teria sido o melhor de sua vida, mas o perfume amadeirado ainda permanecia vívido em sua mente, bem como a sensação de proteção e segurança que lhe tomou ao ser envolvido pelo corpo forte a sua volta.

Evitava recordar aquele dia, mas quando o fazia agradecia aos céus por ter posto Dionísio no caminho de Aquiles, se não fosse a desconfiança de seu patrão ao ver seu irmão comprando bebida, e aquela hora da noite, provavelmente o pior teria acontecido, se tivesse acreditado nas palavras do adolescente, que afirmava que as cervejas eram para seu pai que havia retornado, talvez não o teria conduzido para casa e livrado Kael das mãos de Roberto. E mesmo que contrariado, Dionísio o havia prometido não mata-lo, mas assegurou que iria ter uma conversa muito séria com ele, já que precisava esclarecer algumas coisas.

Mas agora sua vida encontrava-se calma, como nunca esteve, as contas estavam todas em dia, Aquiles não voltou a lhe dar preocupações, Emílio encantado pela costura como estava a qualquer oportunidade que surgia ia para sua vizinha, e o mundo de Lúcia se resumia a ir para escola e brincar quando chegava, tudo estava indo bem e Kael estava satisfeito com o sossego que finalmente abraçava sua família, mas no fundo da sua mente, seu apresso por Dionísio insistia em aflorar e quanto mais lutava para esquecê-lo, seu corpo o traía, a pele arrepiava, seus pensamentos eram povoados por seu rosto, seu sorriso discreto, e mesmo sozinho em seu quarto, Kael conseguia sentir o perfume que tanto lhe perturbava, e em inúmeras noites lhe trazia inquietação, e de tão afetado, quando questionado por Viviana, que tornou-se frequentadora assídua de sua casa, acabou por revelar o motivo de sua aflição, bem como a constante presença de Elisa nos últimos dias, o que não foi surpresa para sua amiga, já que antecipava tal declaração.

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