Capítulo I

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Meses haviam se passado, e Kael ainda não havia conseguido um emprego, saía todos os dias em busca, mas apenas retornava para casa frustrado e com menos dinheiro no bolso, passava o dia rodando pela cidade e passagem de ônibus estava cara. Kael saía de manhã junto com seus irmãos que iam para escola, deixava tudo pronto para seu almoço para que não tivesse que retornar em casa e gastasse ainda mais com transporte, portanto, o fim de tarde era o horário que normalmente voltava a ver seus irmãos, estava preocupado com Aquiles que estava tendo de crescer tão rápido para ajuda-lo, já que ficava responsável por Emílio e Lúcia quando não estava em casa, o que ultimamente era bastante, mas Kael sabia que isso era necessário.

Lurdes trabalhava desde muito nova como doméstica, mas nunca teve um vínculo empregatício formal, e não sendo contribuinte da previdência, seus filhos não tiveram direito a qualquer pensão, Kael desde que tinha terminado o colégio começou a procurar por trabalho, mas nunca teve uma oportunidade, então, estavam vivendo apenas de pequenos serviços que fazia, já que as economias que sua mãe tinha deixado, haviam acabado a dois meses.

Kael ficava triste em não conseguir suprir tudo que seus irmãos precisavam, lhe doía ter que limitar a quantidade de vezes que poderiam repetir a refeição ou até mesmo quanto poderiam colocar em seus pratos para que todos pudessem se alimentar mesmo que minimamente. Sua preocupação só aumentava cada dia mais, tentava trabalhar com o que lhe era oferecido, mas a sua falta de músculos dificultava nos serviços de construção que eram os que tinham maiores demandas, então, dificilmente conseguia algo na área, começou a lavar roupa para os vizinhos e também para quem fosse indicado, mas na última semana não havia recebido nenhum serviço, e seu escasso dinheiro estava acabando com todo transporte que necessitava na busca de emprego, temia que se nos próximos dias não conseguisse nenhum trabalho não teria como alimentar seus irmãos.

Desanimado, Kael retornou para casa, e assim que entrou, Emílio e Lucia correram ao seu encontro, Aquiles o olhava com o semblante preocupado e continuou sentado no sofá.

– Já tomaram banho crianças?

– Sim. – Responderam em coro.

– Jantaram? – Kael perguntou, beijando os cabelos de cada um.

– Ainda não, Aquiles disse que devíamos esperar você.

– Tudo bem. Vão colocar a mesa, que vou só tomar um banho e depois me junto a vocês. – As crianças correram para a cozinha deixando apenas Kael e Aquiles na sala.

– Kael, hoje chegou a conta de luz e ontem a de água... – Agora Kael podia entender o semblante preocupado de seu irmão.

– Não fica preocupado, vamos conseguir pagar até a data de vencimento, você vai ver.

– Você não precisa agir assim comigo, eu não sou mais um bebê, sei que você não recebeu nenhum trabalho essa semana, como vai conseguir pagar por tudo? 

– Vamos conseguir... Você precisa ter um pouco mais de fé. Você não deve se preocupar com nada além da escola.

– Eu falei com um amigo hoje, ele disse que podia arranjar algo pra mim. – Aquiles disse em um murmúrio, com os olhos baixos, fixos no chão.

– Eu não quero que você trabalhe, nossa mãe não iria querer isso, sua única preocupação tem que ser os estudos.

– Mas eu posso ajudar, e o trabalho vai ser só de vez em quando.

Kael achou estranho um trabalho que não tivesse dias e horários fixos, então perguntou: – Que tipo de trabalho seria esse?

– Umas entregas.

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