"O perigo da mudança pressupõe um sujeito enraizado no estado anterior, antigo. Persiste tanto, quanto demora a realização da continuidade parcial do antigo, no novo; rara vez, uma quebra total. Tal é o modo como ela [a mudança] opera."
- Postulados, de Nbami onoi-Wakon
– Como tinham dito que era o nome dessa menina? – perguntou o terceiro do grupo, de quem não sabia o nome, olhando para Edali mas sem se dirigir a ela. Tossiu. Era um homem de pele um pouco clara, não tanto como Hakk, duas linhas de um fino bigode abaixo do nariz pontudo. Mais duas linhas na testa, paralelas. Cicatrizes. O sr. Linhas, pensou a garota.
– Hmm – Wagyu esfregou o queixo, pensativo. – Como era, Hakk?
– Não sei. Algum nome derivado hadzi, provavelmente.
Edali franziu as sobrancelhas.
– Edali – respondeu.
– Você é um pouco magrinha, não é, menina? – O sr. Linhas agora se dirigia a ela. – Quantos anos tem? Não quer comer algo? Quem sabe te faria bem.
Edali cruzou os braços e se virou, sem olhar para eles. Ouviu-os rir às suas costas, mas que rissem! Se tanto assim gostavam de rir dos outros...
Estava ainda no recinto único do interior da caravela. À luz amarela e branca, uniforme, das pedras-lanterna. Era uma luz estranha. Nada como o brilho de uma vela de pedra ou de um archote, que tremiam ao menor sinal de vento... nem como um lampião de gordura, que era mais consistente, mas não tanto assim. E ainda havia vento, em algum lugar. Estava começando a sentir frio...
Foi uma surpresa não muito agradável perceber que alguns dos bandidos, sentados ou deitados nos tapetes ao longo do cômodo, a observavam. Hesitou, hesitou bastante, mas terminou virando-se de volta ao seu grupo. De volta a Hakk, Wagyu... e ao sr. Linhas.
– Como é o seu pai, Edali? – ouviu Wagyu perguntar, de repente, assim que se voltou a eles. O naedi tinha um olhar interessado no rosto, o que a fez ficar confusa. Do que estavam falando, para terminar nisso?
Olhou para um, e para outro, antes de decidir que não era um deboche.
– Em que... sentido? – arriscou.
– No sentindo de que tipo de homem o prefeito é – grunhiu Hakk, num tom mais grave, e contido. – Alguém que preza pelos seus cidadãos ao máximo? Alguém que não se importa com nada? Ou alguém que apenas abaixa a cabeça e obedece?
– Eu... baixar a cabeça, eu acho.
Wagyu olhou, satisfeito, para o sr. Linhas.
– Viu? É como eu disse. Prefeitos são sempre assim. O seu duque é que é estranho.
– Ah... – O sr. Linhas pareceu desanimado. – Talvez... sim. Você deve ter razão. Não sei por que, mas estava tendo a ideia dessa menina ser uma emissária de Okinto, ou algo assim. Pensei que haviam nos contratado para conspirar contra a Confederação...
– Lamento estragar as suas fantasias, Baejin.
– Do que vocês estão falando? – perguntou a garota, estreitando os olhos com desconfiança. Baejin. Não combina nada com ele.
Wagyu e Baejin Linhas lançaram olhares furtivos um para o outro, mas que ela captou.
– É sério, eu quero saber do que estão falando.
– De nada, filha do prefeito – cortou Hakk. Os olhos dele caíram, avaliadores, em sua direção. Edali não desviou o olhar, o que o fez suspirar. – Se quer tanto saber, pergunte à Vyeda depois. Não somos nós que temos que dar-lhe essa informação. É a chefe; seu trato é com ela.
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KALKIALA - A gema da vida
FantasyQuando os meteoros caem, ninguém nunca sabe o que haverá neles. Ao descobrir que um meteoro caiu nas proximidades da sua lavoura, um camponês decide que deve agir rápido para livrar-se dele. Noutra parte do arquipélago, um jovem tem o seu mais recen...