Capítulo 11 | Preparação - Parte 1

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*imagem incompleta porque a finalizada era muito pesada pra carregar. Triste :(

Alguns diriam que Vyeda usava aquela máscara ritualística bitzlana para não mostrar que estava entediada o tempo inteiro. Outros, que era porque a sua profissão exigia causar certo estranhamento e medo nas pessoas. Ambos, de um jeito ou de outro, estariam certos. Mas ela própria não admitiria que mencionassem o primeiro motivo na sua frente. Nem de desconhecidos, nem de conhecidos. Era algo que só ela podia dizer.

Vyeda estava entediada naquela noite. Enquanto as suas mãos se moviam para dar vida ao boneco do oráculo na peça O Herói Cego, não conseguia deixar de pensar no quanto devia ser bom estar vivo naquele tempo que a peça representava. Tempos antigos, de quando semi-deuses e heróis caminhavam entre os homens, e quando ainda podia-se ver chifrudos vivendo à luz do dia. Tempo em que ter que lidar com monstros gigantes devoradores de homens era parte do cotidiano das pessoas. Uma época em que os fortes comandavam. Comparado a isso, os dias de hoje pareciam tão... entediantes.

Não muito depois, o seu tempo de atuação terminou. Vyeda suspirou, enquanto os homens do velhote agiota apressavam-se para fechar as cortinas. Não deu bola para os olhares apreensivos, ainda que disfarçados, que vários deles lhe lançaram. Eram ossos do ofício. Ergueu-se, esticando os músculos

– Estive pensando... – ouviu a voz do velho shenziano ao seu lado – como consegue manobrar tão bem as marionetes? Está ainda de manopla.

Vyeda abriu e fechou o punho. – Ah, isso? Não é grande coisa. Como não tiro essa coisa, é como se já estivesse fundida com a minha mão.

– E imagino que essa voz aterradora também já não lhe cause nenhuma estranheza.

Ni Kao disse aquilo com um sorriso. Ela deu de ombros.

– Não. Eu gosto do timbre dela – disse.

Estava claro que ele estava se referindo à saída de ar na máscara, que dava um tom cavernoso à voz de Vyeda. É verdade. Ela já se acostumara com ouvir a si mesma daquele jeito, e também com o medo que isso parecia causar nas pessoas. De alguma forma, até mesmo os seus homens pareciam ficar mais obedientes quando ela estava com a máscara bitzlana. Mas isso é porque eram todos uns bastardos covardes.

Vyeda apenas assentiu quando Ni Kao disse que, terminando a sessão daquela noite, iriam atrás do rapaz endividado. Até que gostava do velho o suficiente para não matá-lo, mas não confiava na eficiência dele tanto quanto confiava na sua. Mandara já um dos seus homens investigar onde aquele azarado vivia; o que não devia ser difícil, encontrar um pálido erdaviano numa ilha tão desolada como aquela. Não deviam haver tantos assim.

Por um momento, desejou que tudo isso terminasse logo, para que pudesse voltar à companhia das mulheres dos bordéis, e da bebedeira. Qualquer lugar serviria. Estrela, Aymuri, Barbatana, ou Al Kapur. Desde que pudesse se afundar na diversão e prazer, não precisaria mais pensar em como odiava o mundo e todos que habitavam nele.

E nesse ponto discordamos, meu velho e finado pai, pensou. Matar e roubar não é aquilo que o senhor me pintou desde que me conheço por gente. É divertido; mas não tanto assim. Precisava mesmo encontrar uma nova paixão. Um novo desafio, que a fizesse sentir verdadeiramente viva.

– Quanto disse que vai me pagar quando terminarmos isso?

– Cento e vinte – respondeu Ni Kao, com um sorriso fingidamente simpático.

– Vai arrecadar quinhentos daquele azarado. Estou generosa essa noite. Me dê cento e cinquenta.

– Bem, não é como se eu tivesse escolha, não é mesmo? He, he.

KALKIALA - A gema da vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora