Prólogo | A queda do meteoro

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Renton arava a terra na tarde em que o meteoro caiu. Debruçado sobre o solo, sequer pôde ver a aproximação do pequeno monólito. Mas o sentiu no abalo que o mundo pareceu sofrer sob os seus pés. E no estrondo como o da explosão de uma montanha, nos seus ouvidos.

O camponês caiu para trás. Ergueu o olhar, abismado. Uma nuvem de fumaça brotava de algum ponto nas proximidades, poluindo o céu azul. Aquele devia ser o meteoro, mas... estava tão perto! Se fosse até lá, certamente seria o primeiro a encontrá-lo. Mesmo um sujeito como ele sabia o que um evento como esse significava.

Renton esfregou as grossas sobrancelhas com os dedos, pensativo. Certo, monólitos como esse eram tesouros que pessoa alguma deixaria passar. Neles, muitas vezes se encontravam minerais e gemas raras que com os quais podia se fazer uma pequena fortuna. Sua família não passava fome, mas também não é como se estivesse na melhor das condições. Já que a colheita desse ano esteve abaixo do esperado. E ainda haviam as dívidas do arrendamento...

Para ser sincero, qualquer um em seu lugar não teria hesitado em tomar o meteoro para si. Não fazê-lo seria jogar dinheiro fora. Mas ele conhecia os perigos de se fazer isso. Uma família camponesa que ascende de posição do dia para noite certamente desperta interesses indevidos. Já ouvira histórias similares. Às vezes, amanheciam mortos e sem um tostão dentro dos seus baús. Por outro lado, pelo pouco que sabia de leis e coisa do tipo, riquezas naturais assim eram de propriedade da igreja do Deus da Terra.

Sem pensar muito mais, Renton deixou o seu trabalho de lado e caminhou na direção da coluna de fumaça. Mais além dos campos onde trabalhava, erguia-se um pequeno bosque de árvores violetas que algum antepassado do senhor da terra trouxera de outra parte do mundo e plantado ali. Eram árvores pequenas, mas cresciam bem próximas umas das outras, e eram bastante frondosas.

Ele abriu caminho entre elas, esgueirando-se nesse lugar onde, mesmo de dia, parecia sempre ser de noite. Dez minutos adiante, encontrou o que procurava. Numa pequena clareira que parecia ter sido criada pelo próprio meteoro, a pedra descansava inerte. Ainda quente. Vapores subiam do pequeno monólito negro para o céu. Era toda poroso.

Para a sua surpresa, Renton descobriu que a pedra não estava tão quente assim, ao tocá-lo. Nem era tão dura como imaginava. Catou um pedregulho do chão e o bateu contra o meteoro, rachando-o sem dificuldade. No interior cavernoso, revelou-se algo que excedia as suas expectativas em muito. Uma grande gema vermelho-sangue, apenas um pouco menor do que a sua cabeça.

– Ó Siach... por tudo o que há de mais sagrado... – murmurou ele.

Aquilo estava mesmo muito além do que esperava. Uma gema desse tamanho, de uma cor tão cobiçada pelos nobres como o vermelho, podia até mesmo gerar uma guerra por sua causa. Quantos não matariam para ter em mãos algo tão belo? Mesmo ele, que nunca vira mais do que alguns ghods de prata no mesmo lugar, sabia que o valor dessa coisa era imensurável.

Renton engoliu em seco. Agora não restavam dúvidas de que devia livrar-se disso o mais rápido possível.

KALKIALA - A gema da vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora