Interlúdio | O homem mais forte do mundo

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Aymuri, capital de Pandora.

Às vezes, até mesmo Yecaux-Ollin se admirava do quanto os outros o admiravam.

Uma besta feroz e incansável, diziam, depois de sua rápida e prodigiosa ascensão militar. Um espírito de guerra, encarnado no corpo de um bitzlano, comentavam, ao vê-lo nas ruas à frente da tropa que chegava de uma campanha. Ele poderia destruir a cordilheira central apenas com os punhos, murmuravam, quando vencia os torneios mais acirrados e violentos. Não há, no mundo, pessoa mais forte do que ele.

A inventividade das pessoas sempre o divertia. Mesmo que, claramente, fossem todos exageros de mentes demasiadamente entusiasmadas. Embriagadas pelo calor do momento e pelo vinho. Mesmo que, na verdade, Yecaux-Ollin – Ollin – não fosse propriamente um homem.

E, é claro, também não era uma mulher.

<Embora a sua falta de iniciativa com aquela princesa seja comparável ao de uma mulher!>

Aquele era "A", como sempre.

<Ei, eu era uma mulher – retrucou "B", na sua mente. – Há muito, muito tempo, mas ainda assim, era.>

Ollin conteve um bocejo, fechando os olhos. Por algum motivo, aquilo pareceu irritar os sacerdotes, que o olharam feio.

– Se o nosso trabalho lhe causa tão pouco interesse – disse o sacerdote-chefe daquele templo, um naedi ghinda velho, magro, cujo manto branco e vermelho estava impecavelmente limpo –, sugiro que volte em outro momento. Quando tenhamos o relatório em mãos.

– Eu dormi pouco, Vossa Excelência – mentiu Ollin, com uma expressão de sincera culpa no rosto jovem e moreno. – Peço que me perdoe. Não ocorrerá de novo – A menos que esses dois continuem com as suas bobagens.

<Ei! – reclamaram "A" e "B", ao mesmo tempo.>

O velho sacerdote assentiu, parecendo satisfeito com a resposta.

Encontravam-se num átrio secundário de um dos vários templos de Siach da Cidade Velha de Aymuri, um dos poucos que mantivera a estrutura original de pedra bitzlana. Um cômodo à meia-luz, claustrofóbico, úmido, e com leve odor de mofo. Desagradável... diriam os naedi ou os shenzianos – que haviam erigido seus bairros fora das muralhas da Cidade Velha –, mas para ele não. Para Ollin, esse tipo de arquitetura retraída não era nada além do natural.

Alguns passos à frente do jovem oficial, o grupo congregado de sacerdotes e acólitos parecia completamente absorvido pelo inusual objeto, que repousava à altura das mãos deles. Uma pedra negra; ou o que restava dela. Fragmentos porosos de pedra negra, espalhados ao longo da superfície de uma larga mesa. Tão compenetrados, que sequer pareciam ter notado a presença do passarinho empoleirado no vão da janela, no alto, que piava sem obter a atenção de ninguém.

<Mas é só uma pedra... – ouviu "B" sussurrar, na sua mente. – Ou não?>

Não, não era só uma pedra, pensou Ollin. Não sabia de muitos detalhes, mas o imperador a obtivera durante a repressão ao levante de Ponta Quebrada. Para mantê-la assim, cedê-la ao estudo dos sacerdotes de Siach, obviamente ela devia ter seu valor. Um valor considerável.

<Tem outra coisa também, não é? – perguntou "B".>

Não, essas... são lembranças antigas, Ollin respondeu mentalmente. Não sei se estão relacionadas a esse fato, exatamente.

Pouco depois, algo mudou nas expressões do grupo, sombreadas pelo cone de sol vespertino que adentrava a janela.

– O que há? – perguntou Ollin, dando um passo para mais perto deles.

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