Hakk e Sassin fizeram menção de sacar as facas, mas Vyeda os impediu. Ao invés disso, avançou ela mesma até parar um passo diante do suposto soldado. Parou, e olhou em volta, examinadora. A máscara bitzlana ocultava o seu sorriso.
– Quer bancar o herói, soldado? – perguntou, a voz alterada pela saída de ar da máscara. O homem de feições suaves pareceu intimidado. Faz bem, pensou ela.
– Não – disse ele, parecendo se recompor em seguida. – É parte do meu trabalho. Não posso ficar parado... enquanto ameaça os moradores inocentes dessa ilha. Nem quando fizeram o pobre Tassey de refém.
– Então está tentando bancar o herói, mesmo.
A taverna estava cheia, mas nenhum dos clientes parecia tentado a quebrar o silêncio. Vyeda vira-os, momentos antes, afastarem-se da entrada onde ela e seus homens estavam. Protegerem-se num canto, como animais indefesos. Apenas Ni Kao, ela e seus homens, o soldado e a garçonete permaneciam no epicentro de tudo. E o velho taverneiro, que os observava com o olhar enfurecido.
– Não querendo me intrometer, Kasir Makot – sussurrou a voz serpentina de Ni Kao –, mas seria melhor se...
– Não me interessa – calou-o a assassina. Ouviu-o suspirar, antes de se resignar e assentir em silêncio. Voltou-se então para o soldado: – O assunto do velho com rapaz desaparecido e com o dono deste lugar é só dele. Mas já faz um bom tempo desde que alguém tem coragem de me contrariar abertamente. Qual é o seu nome, herói?
– Telmo... Zeniray.
– Saque a sua arma, Telmo Zeniray.
Viu-o arregalar grandemente os olhos. Hakk e Sassin também olharam em sua direção, como se questionando se realmente faria isso. Ni Kao apenas se limitou a um meneio sutil de desaprovação, enquanto um gemido fazia-se ouvir entre os clientes acuados.
– Saque a sua arma, soldado – repetiu ela em voz alta, para que Telmo e todos os outros ouvissem. – Se não fizer isso, apenas morrerá como um boi abatido. Morrer em combate ou morrer parado; o que prefere?
Nesse momento, a coisa pareceu se agitar quando a garçonete tomou a frente, colocando-se diante de Vyeda, como se para proteger o soldado. Havia medo, revigorante medo, no olhar da moça.
– Não faça isso! Se tem algo que precisa saber, é só perguntar. Se precisar que eu faça algo, é só dizer – ouviu-a dizer. – Mas o Telmo não tem nada a ver com isso!
Vyeda fez um gesto com a mão, indicando a Hakk que a levasse para fora. Que a mantivesse onde ela não pudesse atrapalhar o que viria a seguir. Tirou o comprido manto que envolvia do pescoço para baixo, enquanto ouvia a garçonete espernear ao ser levada pelo seu erdaviano.
Ignorou as reclamações do velho taverneiro com o velho agiota, enquanto sentia crescer dentro de si o fervor da batalha iminente. Não conseguia pensar em mais nada, a não ser naquele frenesi que, em muitos aspectos, assemelhava-se ao êxtase sexual.
Deixou o manto cair aos seus pés. Seus dedos puxaram para o lado a gola da camisa verde-escura, revelando o seu ombro nu. Revelando a pequena tatuagem escurecida de uma adaga, na sua pele.
Vyeda puxou-a com a mão direita, da mesma forma que se puxa uma agulha presa num novelo de lã. A adaga foi surgindo em sua mão coberta pela manopla, enquanto via o soldado observando-a estarrecido.
– Eu sei que isso é uma adaga – disse, apontando para a cintura de Telmo. – Saque-a, e lutaremos.
– Não, eu...
Vyeda o atacou com um corte rápido, amplo, mas que ele desviou. Aproveitou o balanço que ainda restava da investida, movendo o braço para desferir um outro corte horizontal, igualmente rápido. Telmo recuou alguns passos, indo parar de costas no balcão.
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KALKIALA - A gema da vida
FantasyQuando os meteoros caem, ninguém nunca sabe o que haverá neles. Ao descobrir que um meteoro caiu nas proximidades da sua lavoura, um camponês decide que deve agir rápido para livrar-se dele. Noutra parte do arquipélago, um jovem tem o seu mais recen...