O sol lá fora ainda aparece fraco da janela do consultório para onde nos encaminharam. Enquanto esperamos, fico batucando meus dedos na minha coxa, um pouco inquieta.
- Quer dizer que temos uma aniversariante hoje? - Doutora Kepner diz ao entrar na sala segurando sua prancheta e com o estetoscópio no pescoço, como sempre. Abro um sorriso enquanto afirmo com a cabeça - Então vamos ver se como presente de aniversário eu consigo te liberar hoje - Ela lava as mãos num pequeno lavabo e se aproxima.
Doutora Kepner abre minha bota com cuidado e analisa meu tornozelo de todos os ângulos possíveis.
- Dói aqui? - Ela pergunta pela quarta vez, tocando no meu pé, e eu faço que não, como em todas as outras vezes. - É mocinha... Hoje é seu dia de sorte - Ela tira suas luvas, indo até sua mesa.
- Vai me liberar? - Me sento à sua frente, junto de minha mãe.
- Vou sim - Ela assina alguns papéis e eu comemoro silenciosamente.
Finalmente vou me livrar dessa bota e conseguir tomar um banho razoavelmente decente, podendo apoiar totalmente os dois pés no chão.
- Ainda nada das memórias? - A doutora pergunta, enquanto procura alguma coisa na gaveta da mesa.
- Não, ainda nada - Eu digo, um pouco frustrada. Depois do acidente, eu até que tava lidando bem com a perda de memória, convencendo a mim mesma que logo logo elas voltariam. O que não aconteceu até agora.
- Tem se sentido enjoada? - Eu nego - Seu humor tem variado muito esses dias? - Nego novamente. Tenho me sentido mais intensa, como se todas as minhas experiências precisassem ser vividas ao extremo. Sinto isso principalmente com Luke. Mas não digo nada. Não acho que tenha a ver com a pergunta que ela fez. - Dores de cabeça? Dificuldade pra dormir? - Aceno em afirmação, vendo ela anotar tudo em minha ficha. - São sintomas já previstos, como eu disse à você da última vez que nos vimos - Ela desvia o olhar pra minha mãe. - Vou recomendar um remédio mais forte e vocês vão me atualizando, ok? - Ela escreve um nome complicado e quase ilegível em um pequeno papel, antes de carimbar e entregá-lo à minha mãe. - Mais alguma coisa que você esteja sentindo? - A doutora pergunta, repousando seus cotovelos na mesa.
- Na verdade... - Começo receosa. - Eu tenho tido sonhos um pouco estranhos ultimamente. Eu não sei se tem algo a ver... ou...
- Por que eles são estranhos?
- Eles são realistas demais... e eu sinto que, talvez, possam... ser lembranças.
- E você já tentou confirmar com alguém se esses sonhos são realmente lembranças? - A doutora pergunta e imagens de Nate e eu dançando de uma forma nada "amigável " enchem minha mente.
- Acho que eu... só tô com medo de que talvez alguém me diga alguma coisa que eu gostaria de lembrar sozinha. Então, não. - Digo, tentando soar sincera. Não é totalmente mentira.
- Entendo - Ela diz, num tom compreensivo. - A volta das memórias pode acontecer de vários jeitos: Em momentos super aleatórios, pequenos flashes durante o dia, em um momento de pressão, tanto faz. Nosso cérebro é uma caixinha de surpresas. Se esses sonhos forem realmente lembranças, isso é bom. É a sua mente tentando voltar ao normal. - Ela diz, me deixando esperançosa. Não vejo a hora de finalmente lembrar do que aconteceu nesse tempo e tentar entender algumas coisas que ainda são confusas pra mim.
...
Na entrada do shopping, as portas automáticas se abrem pra nós, fazendo meu nariz agradecer por ter deixado o forte cheiro de hospital pelo aroma de fast food, café e roupa nova, que exalam por todo lugar.
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Eu odeio não te odiar
RomanceMegan é uma menina de personalidade forte, que por um trauma do passado se tornou uma pessoa fechada e anti-social. Mas as coisas mudam totalmente quando Luke, um aluno novo, chega e vira sua vida de cabeça para baixo.