Capítulo 48

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Quando o professor da aula de reforço entrega meu celular, no final da aula, vejo algumas mensagens e respondo a maioria. Vejo que Luke também mandou algumas mensagens e o respondo.

- Oi, o professor só entregou meu celular agora - Eu digito e me inclino para beber água no bebedouro externo da escola. Não demora muito tempo e já sinto meu celular vibrar.

- Você quer que eu te busque? - É o que diz a mensagem de Luke

Eu paro no meio do estacionamento da escola e penso por alguns segundos, olhando o céu em tons de rosa e roxo nesse fim de tarde.

- Acho que eu quero dar uma caminhada, tudo bem pra você? - Eu digito de volta.

- Tudo bem pra você? - Ele revida e eu sorrio lembrando a mim mesma que não preciso mais fazer essas perguntas.

- Te mando mensagem quando chegar - "Te amo" penso em adicionar mas logo apago. Ainda não falamos sobre isso.

Vou caminhando, sem pressa, pelo caminho que Nate e eu fazíamos de bicicleta pra ir pra casa há alguns anos atrás. A brisa forte e fria de hoje faz as folhas se espalharem pelo chão. No meio da rua, decido parar em frente às cercas de madeira que cercam a entrada do parque Roseville. O parque não está tão cheio quanto imaginei que estaria. Me sento em um banco em frente a pista de skate, onde eu costumava vir com a minha mãe quando era pequena.

Ponho meus fones de ouvido e coloco Hot Rod - Dayglow no último volume. Como de costume, sempre acho que quando estou de fones tem alguém me chamando. Eu os afasto de minha orelha por um momento e olho para os lados. Não ouço ninguém me chamando, mas vejo um cachorro com a cabeça encostada na ponta do outro lado do banco. Ele me olha com as orelhinhas pra baixo e eu não resisto em o chamar. Ele vem balançando o rabinho e se deita de barriga pra cima em meus pés. Passo a mão por seu pêlo cor de mel, que se espalha um pouco pela minha roupa mas nem ligo.

- Não dá muito carinho ou eles vão te seguir até em casa - Eu ouço uma voz idosa e familiar dizer. Olho em direção a voz e me surpreendo com a sensação nostálgica de ver a senhora Estela olhando pra mim.

Ela mora aqui no parque desde que eu era pequena. Minha mãe e eu costumávamos trazer roupas de frio pra ela. Me lembro de ficar horas nesse mesmo banquinho com a minha mãe, só ouvindo as histórias de vida da senhora Estela. Minhas favoritas eram as de todos os 6 maridos que ela já teve.

- Já faz um tempo, né? - Ela pergunta com o mesmo sorriso solidário de sempre.

Eu me levanto e a abraço forte.

- Como a senhora está? - Eu me afasto um pouco conseguindo vê-la melhor. Seu cabelo agora está totalmente grisalho, fazendo nenhum contraste com sua pele pálida. Ela usa uma longa saia vermelha e um casaco de moletom preto.

- Eu ainda fico um arraso com eles - Ela diz sorrindo e apontando para os brincos em sua orelha, eu lhe dei quando era menor. Eu sorrio junto com ela e nos sentamos no banco novamente - Eu vou indo, na medida do possível, mas feliz como sempre - Ela diz acariciando o cachorro de antes.

- E você, minha querida? Me conta todas as novidades. Como está a sua mãe? - Ela pergunta animada.

- Ela tá ótima. Tá trabalhando bastante agora... - Eu digo e ela me olha meio preocupada - Mas não é nada como antes, fica tranquila - Eu digo e ela parece aliviada.

- E como vão os amores? Sua mãe veio aqui há muito tempo e falou de um tal de Alex, mas ela parecia não gostar muito dele - Ela fala com uma pequena careta

- E ela tava certa em fazer isso. Mas a gente felizmente já terminou - Eu digo e ela levanta as duas mãos para o céu, agradecendo.

- E não teve ninguém depois desse Alex? - Ela pergunta.

- Na verdade... Eu tô meio que namorando no momento - Eu digo sorrindo e a senhora Estela faz o mesmo.

- E esse sortudo te faz feliz? - Ela pergunta

- Muito. No início a gente não se deu muito bem, quer dizer... Eu odiei ele logo de cara, mas percebi que o jeito babaca dele era só fachada - Eu explico pra ela que presta atenção em cada palavra

- Ah minha filha, esses são os mais amorosos - Ela diz com um riso - Têm muitos por aí que são a maior propaganda enganosa - Ela diz olhando em volta - As vezes os que mais parecem amorosos e compreensivos, são os que mais dão dor de cabeça pra gente - Ela diz olhando pra mim e em uma fração de segundos me lembro de Alex.

Ela parece perceber que saio da realidade por alguns segundos e volta a falar, tentando chamar minha atenção.

- Mas será que você não tem uma foto desse rapaz aí, não? Dizem que eu tenho uma ótima intuição para pessoas - Ela diz e eu rio pegando meu celular

Mostro a foto que Luke botou como papel de parede do meu celular e observo a reação da senhora Estela

- Nossa, mas ele é um pão - Ela diz sorrindo e eu a olho sem entender. Será que eu botei na foto errada?

- Senhora Estela... O que seria "Um pão"? - Eu pergunto e ela solta uma risada

- Ai vocês jovens... - Ela diz balançando a cabeça e ainda rindo com a mão em seu peito - Significa que ele é bonito ora, bolas - Ela diz como se fosse óbvio - Mas me conta mais sobre esse menino - Ela diz se aconchegando no banco

- Ele... - Eu digo e tento pensar em alguma coisa, ou até um adjetivo, para dizer. Mas me surpreendo com a dificuldade - Ele têm uma guitarra - Eu digo enquanto continuo tentando pensar em mais coisas que sei sobre ele

- Ah, supimpa - Ela diz e eu rio. Amo as expressões antigas que ela usa - E que tipo de música ele gosta? - Ela pergunta e eu começo a refletir. Como eu não sei responder uma pergunta básica dessas?

- Eu... Não sei - Eu digo me dando por vencida

- Então é por isso que vocês estão "Meio" que namorando? Porque ainda não se conhecem muito bem? - Ela pergunta e eu penso sobre.

Bom, até então eu achava que nós estávamos "quase" namorando porque ainda não havia acontecido nenhum pedido explícito de namoro, mas agora... Senhora Estela estava certa. Como eu posso não saber o básico sobre ele?

- Senhora Estela, você é tudo - Eu digo sorrindo pra ela que parece confusa

- Sou tudo o que? - Ela pergunta pensativa

- Quis dizer que você mandou bem, me ajudou bastante - Eu digo esclarecendo e ela abre um pequeno sorriso

- Estou aqui pra isso, sempre que quiser - Ela diz de modo gentil - Mas você precisa me atualizar sobre essas gírias aí, na minha época não era assim não - Ela diz e eu concordo com a cabeça

- Prometo te visitar mais vezes - Eu digo levantando e ela faz o mesmo

- Sabe onde me encontrar - Ela diz com uma das mãos apoiada na coluna

Eu a abraço, me despedindo e sigo no caminho pra casa.

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