Na sala de estar, Lídia se senta no piano e quando começa a tocar, fico maravilhada. Tudo que envolve música me deixa assim. A agilidade com que suas mãos trabalham me deixa surpresa, ainda mais porque os acordes seriam apenas acordes se não houvesse nenhuma emoção. Reconheço o início da música e me questiono se ela realmente está tocando isso. Mas ao ver a expressão convencida de Luke, posso presumir que ele mostrou a música à ela. Arcade - Duncan Laurence chega a cada canto da casa. Posso jurar que vejo até uma das empregadas saindo de fininho da sala, mas ainda olhando para Lídia.
- Você gosta de estudar na Belmort? - Senhor Evans pergunta me tirando do transe e por um momento chego a ficar irritada por isso. Por que ele não aprecia sua esposa no piano por um minuto sem querer interromper?
- Gosto sim - Minto, vendo Luke rir do outro lado da sala. Ele sabe o quanto eu "amo" estudar. - E o senhor? Gosta de ser prefeito? - Tento, vendo ele rir. Isso é bom ou ruim? Não era pra soar como piada.
- Gostei dela, Luke - Ele deixa seu corpo afundar ainda mais na poltrona.
- É, eu também - Luke diz olhando pra mim da forma que sempre faz meu corpo queimar por dentro.
- E os seus pais? Como são? trabalham com o que? - Ele pergunta enquanto olho pra Lídia, tentando mostrar que estou ouvindo ela tocar.
- Virou apresentador de tv? - Luke se senta ao meu lado, mantendo certa distância, mas não o bastante pra que nossos joelhos não se esbarrem acidentalmente.
- Luke... Estou apenas tentando conhecer esta jovem - Senhor Evans beberica seu vinho, olhando pra esposa pela primeira vez desde que entramos na sala.
- Meus pais são divorciados - Digo e não sei se seu olhar realmente me julga ou se é coisa da minha cabeça. O que tem de errado em pais divorciados? - Minha mãe, como eu disse, é designer de eventos, e meu pai... digamos que ele já foi muitas coisas, mas há cinco anos atrás descobriu que amava a escrita, então ele têm se dedicado a isso. - Entrelaço minhas mãos sobre o colo e o homem à minha frente, arqueia as sobrancelhas, como se achasse alguma graça no que acabei de falar.
- Bom... Um trabalho bem cômodo, não acha?
- Pai... - Luke aumenta o tom, me fazendo olhar pra ele.
- Não me entendam mal, só estou dizendo que deve ser divertido ficar em casa o dia todo escrevendo - Ele dá uma risadinha e se prepara para tomar mais um gole da bebida. Me pego desejando que ele engasgue, mas só um pouquinho.
- Realmente... quando você ama o que faz, tudo fica mais divertido - Me sento mais ereta no sofá e o homem me olha com certo... desprezo? - É que meu pai sempre foi um homem muito livre, sabe? A vida é curta demais pra não ser o que deseja, pelo menos é o que ele me dizia - Vejo, de soslaio, um pequeno sorriso no rosto de Luke, e posso dizer que me sinto um pouco elétrica por dentro.
Antes que o pai de Luke possa pensar no que dizer, um empregado invade a sala com pressa, dizendo que "uma ligação importante da prefeitura aguarda o senhor Evans na sala dele". Quando eles deixam a sala, sinto que posso respirar livremente de novo.
Ele deixou o clima tão pesado que mal reparei em Mia brincando perto de uma escultura de águia, que segundos depois se choca contra o chão, se partindo em mil pedaços.
- Desculpa... - Ela olha pra Lídia, que abandona o piano, pegando ela no colo e conferindo se não há nenhum machucado. Assim que se certifica de que está tudo em seu devido lugar, a mesma moça que me fez o suco chega com uma vassoura, limpando os restos da obra de arte.
- Obrigada, Maria - Ela agradece a mulher, que apenas assente com a cabeça e sai da sala.
- Luke - A madrasta dele o chama e ele vai até ela, que sussurra algo em seu ouvido. Ele agradece e sorri, vindo em minha direção.
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Eu odeio não te odiar
RomanceMegan é uma menina de personalidade forte, que por um trauma do passado se tornou uma pessoa fechada e anti-social. Mas as coisas mudam totalmente quando Luke, um aluno novo, chega e vira sua vida de cabeça para baixo.