Eu odeio não te odiar

Capítulo 35

Como ainda está de tarde e não tenho nada pra fazer, decido tomar vergonha na cara e finalmente arrumar a bagunça que está o meu armário. Depois de quase uma hora, enfim acabo de arrumar tudo e vejo em minha frente três sacolas com: roupas, CD’s antigos, broches da minha infância e todo tipo de tralha que eu encontrei. Pego as sacolas e desço as escadas, encontrando minha mãe sentada em seu escritório.

- Mãe, você sabe se o evento de doação para aquela igreja aqui perto ainda tá acontecendo? - Eu pergunto abrindo a porta.

- Acho que vai até amanhã - ela diz se concentrando nos papeis a sua frente.

- Eu fiz uma limpa no meu armário e acho que vou dar uma passada lá - Eu digo indo em direção a porta.

- Bem que você podia arrumar o meu também, o que acha? - Ela diz agora me olhando.

- Sabe o que é?!... - Eu digo andando mais rápido em direção a porta e ela me olha com um sorrisinho - Eu acho que quebrei a mão enquanto descia a escada - eu digo fingindo um tom doloroso - Mas quem sabe outro dia, né?! - Eu digo e saio do escritório correndo ouvindo sua risada.

Depois de uns oito minutos de caminhada, enfim chego a igreja.

- Oi... - Eu digo parando uma menina loira que parece ter quase a minha idade - Sabe onde fica o lugar das doações? - Eu pergunto.

- Eu te levo até lá - Ela diz gentilmente e eu agradeço a seguindo.

Chegamos em um quartinho e eu fico impressionada com todo tipo de objeto que está, organizadamente, espalhado pelo quarto.

- Graças a Deus as pessoas doaram bastante esse ano - Ela diz empolgada e eu dou um sorrisinho - A gente tá tendo outro evento lá em cima então eu não posso ficar pra te ajudar... - ela diz indo em direção a porta - Se quiser pode deixar as sacolas num canto que nós arrumamos depois, ok?! - Ela diz dando um último sorriso e vai embora.

Como está tudo perfeitamente organizado e eu não tenho nada pra fazer, sento no chão e começo a tirar as coisas das minhas sacolas. Distraída dobrando as roupas, quase não percebo uma miniatura de gente que esta parada na porta. Uma menina de pele clara e longos cabelos castanho claro. Suas bochechas estão bem rosadas, fazendo parecer que ela estava correndo antes de chegar aqui.

- Oi - Eu digo e vejo que ela nem me olha.
Sigo seu olhar e vejo que ela está olhando fixamente para o urso de pelúcia em uma de minhas sacolas - Você quer? - Eu digo pegando o urso e o esticando em sua direção.

Ela olha meio receosa pra mim mas se aproxima aos poucos e o pega

- Eu dei a ele o nome de senhor fofucho quando eu era criança, mas você pode mudar se quiser - Eu digo tentando dar um sorriso amigável.

Sempre fico meio nervosa com crianças.

- Eu gosto de senhor fofucho - Ela finalmente diz algo e sorri.

- Você é dessa igreja? - Eu pergunto tentando arrumar assunto.

A garotinha se senta no chão com seu vestido de bolinhas verde e laranja, ainda agarrada ao seu novo ursinho.

- Eu só vim com a minha família, mas tava tão chato lá em cima que eu fugi - ela diz a última palavra sussurrando e eu sorrio.

- Quantos anos você tem? - Eu pergunto.

- Oito. E você? - Ela pergunta.

- Dezessete - Eu digo e ela arregala os olhos.

- Tudo isso? - Ela pergunta surpresa e eu não consigo evitar o riso - Meu irmão também é velho assim - ela diz.