Observo as estrelas, apreensiva.
Há seis meses abriram as inscrições para as provas seletivas do Colégio U.A., a melhor escola do Japão, e eu, junto da minha amiga mais antiga, me inscrevi sem que meus pais soubessem. Apenas dez alunos entrariam com uma bolsa de estudos integral, vinte teriam desconto significativo na mensalidade e outros vinte teriam, no máximo, trinta por cento de desconto na mensalidade uma vez a cada semestre. Foram mais de dez mil estudantes no concurso do colégio, afinal, todos nós sabíamos que era uma chance e tanto. A escola, apesar de ser integral, tem um ótimo histórico de formandos que viraram desde policiais mais promissores à advogados e astronautas. Lá mesmo havia um campus para a Universidade U.A., caso o aluno fosse promissor e conseguisse passar para ela também.
Como All Might e Endeavor.
Há três meses saíram os resultados... e eu fui uma dos dez alunos que conseguiram bolsa de cem por cento, junto de minha amiga, chamada Tsuyu Asui. Ou só Tsu. Meus pais ficaram saltitantes de alegria quando souberam, e a raiva de não terem sido avisados sobre minha decisão de participar das provas do colégio se dissipou na hora. Eu, ainda sim, estou apreensiva. As aulas começarão amanhã, já passa da meia noite e eu continuo em cima do telhado, falando a mim mesma que eu não devo ficar nervosa. Essa era minha última noite de liberdade aqui fora, amanhã eu dormiria no dormitório da escola e suplicava para que Tsu fosse a minha colega de quarto. Ela era a única que eu conhecia lá dentro... apenas é o que acredito, já que ninguém da antiga escola me enviou uma mensagem falando sobre isso. Eu também não o fiz, de qualquer forma.
O que eu queria de verdade? Não importa muito... No Colégio U.A. eu estudarei muito, serei esforçada, e no fim conseguiria um bom emprego. Administração, vendas... Não me importa agora. Eu só precisava que fosse um que me desse bastante dinheiro, porque assim iria conseguir o que eu sempre quis: ajudar meus pais, porque não possuem boas condições de vida e sempre me colocaram em primeiro lugar. Eu nunca tive nenhum luxo quando criança, comecei a adquirir peças da moda atual quando comecei a trabalhar numa loja de brinquedos há duas ruas de casa e pude comprar minhas coisas. Devo tudo aos meus pais, eles sempre fizeram o possível para eu ficar bem, ter comida, roupas novas e ir à escola. Mesmo eu não sendo sua filha de verdade... eles me criaram como se fosse.
"Não vai dormir?" Tomei um susto ao ouvir a voz da minha mãe. Olhei para o lado e lá estava ela, subindo no telhado para sentar ao meu lado. "Amanhã é o grande dia!" Como pode ver, ela está muito mais animada do que eu.
"Estava sem sono."
"Ao menos descanse, amanhã será cansativo. Eu lembro da vez que mudei de colégio, foi uma correria e tanto, mas você vai se adaptar bem! Uraraka, você é forte." Mas acontece que não vai ser ela num colégio interno de gente rica e mimada.
"Sim, mamãe! Vou conseguir." Eu tinha sérias dúvidas, mas falei o que ela queria ouvir. Deixei que me levasse para dentro, para o meu quarto, e lá fiquei acordada até o dia amanhecer.
Combinei com Tsu de irmos juntas.
Nos encontramos no ponto de ônibus da esquina, ela com duas malas, maiores que a mesma, a mais do que eu, pedindo ajuda para levar as três malas para dentro do ônibus. Numa outra época isso teria sido divertido, se não estivéssemos indo morar dentro da escola mais famosa do Japão. E, enquanto minha amiga ia tagarelando sobre como seria interessante morar lá, aprender novas coisas e conhecer pessoas diferentes, mencionou que descobrira que alguns meninos que estudavam com a gente no primário também estavam indo para a U.A. Fiquei me perguntando quem seria esses idiotas. Bem, isso não é importante. O foco agora era sobreviver ao ensino médio e não importa se as pessoas dali seriam de uma classe maior que a minha, se teria pessoas metidas e arrogantes e eu não poderia mais trabalhar na loja de brinquedos, porque agora o colégio tomaria todo o meu tempo. Balanço a cabeça, suspirando, apreciando uma boa e velha música da época dos meus pais enquanto observo a paisagem pela janela do ônibus. Tsu também se fechou para si, provavelmente nervosa com esse novo colégio. Eu a encarei, dei um sorriso, e peguei sua mão. Ela não precisava se sentir sozinha, retribuiu o meu sorriso e encostou a cabeça no meu ombro. Estudamos na mesma escola, há meio quarteirão de casa, desde o maternal a nona série do ensino fundamental. Agora iríamos para o ensino médio... há quase uma hora de casa.
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Incendeia-me | Kacchako
Fanfiction"Por favor, não brinque com fogo. Você pode se queimar." Ele nunca pedia nada. "Eu não me importo." Avisou, sem vacilar. Ochaco o encara nos olhos sem medo. "Eu não me importo de ser incendiada, desde que seja por você." Katsuki ainda segurava o seu...