Capítulo Quatro - Himiko

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Eu quero ir para casa.

Eu quero ir para casa.

Eu quero ir para casa.

É com essa frase que perturbo o juízo de Tsuyu a cada intervalo de cada aula da série que nos entregaram, fazendo com que ela queira, a cada minuto, me dar um soco no nariz. Enquanto minha amiga acha incrível a coincidência de estarmos todos na mesma turma, eu acho enjoativo e não vejo nenhuma surpresa. Tsuyu, Izuku, Koji, Katsuki e eu temos a mesma faixa etária, já interagimos demais para uma vida e estamos juntos na turma 1-A. Ao menos Tsu está numa mesa próxima a minha, com uma pessoa de distância, e trocamos algumas palavras no intervalo de cada tempo. Apesar de eu repetir inúmeras vezes para a minha mais antiga amiga a frase de querer ir para casa, eu estou achando interessante, até então, os professores e as matérias. A escola não é nenhuma monstruosidade, afinal.

"Ochaco Uraraka." Tsuyu me chamou, séria. Engulo seco. "Você escolheu se inscrever na prova de seleção para essa escola. Você passou e decidiu ingressar. Ninguém apontou uma arma de fogo na sua testa e te obrigou a vir ontem, foi uma escolha sua. Só sua. Os seus pais nem sabiam que você tinha se inscrito na seleção. Então faça o favor de parar de resmungar."

Respirei fundo, olhando para baixo.

"Tem razão." E não trocamos mais nenhuma palavra.

Apesar de ter começado a ser uma brincadeira falar isso para Tsu, ela tem razão. Eu escolhi vir para cá, e se não tivesse sido aceita na seleção teria ficado bastante triste e desolada. Ela é sensata para o seu próximo bem e eu deveria me inspirar nela, afinal, que pessoa melhor para me inspirar e pôr para cima do que ela? Quando éramos mais novas, era o contrário. Eu a protegia, eu era como uma irmã mais velha... Agora é ao contrário, e eu não sei bem quando, exatamente, foi que ocorreu a troca de papéis. Temos sorte de termos uma a outra, afinal. Confesso que me sinto bem com o cargo de irmã mais nova de nossa relação, pois Tsuyu faz seu papel de mais velha como ninguém. Apesar de quando estava falando comigo, afirmou que não trocaria de quarto nem se fosse permitido. Havia gostado da garota loira, Himiko Toga, a prima adotiva de Midoriya. Porque ela é sincera, curiosa e fala demais... como eu. Neguei com a cabeça quando me contou essa parte, e eu disse que estava tentando me substituir por alguém mais alto e de aparência mais adulta. Eu não a culpo, estou tentando fazer com que Izuku se pareça mais um pouco com Tsuyu apenas para eu não me sentir sozinha ou estranha por dormir no mesmo quarto de um garoto. Mesmo sendo "só o Midoriya" como minha amiga disse... como se tivesse esquecido que um dia eu já fui completamente apaixonado por ele. Ou que sou tímida e gosto do meu espaço reservado, sem intromissão alheia. Eu não sei como Midoriya era fora do colégio que estudávamos, mas espero apenas que não seja do tipo que gosta de levar muitos amigos para casa.

Balanço a cabeça em negação.

Olho para trás, disfarçadamente, e encontro Midoriya ao longe, sentado atrás de Bakugou. Distraído ao rabiscar num caderno que não consigo identificar nessa distância. Inclino a cabeça para o lado, mordendo o lábio inferior. Eles dois devem se dar muito bem quando não tem alguém olhando, apenas isso para Izuku querer a sua companhia. Devia ter algum motivo, e eu duvido muito que seja apenas porque se conhecem a anos. Ontem à noite, quando cheguei e contei sobre a colega de quarto de Tsuyu para o garoto, ele começou a agir estranho, cabisbaixo, mas não comentei. Eu não tenho nada a ver com isso, apesar dele mexer, um pouco, com o meu coração. Apenas perguntei se ele estava bem. Com isso, eu consegui algumas informações interessantes e... bem ruins. Problemas de família que eu não gostaria de recordar, mas toda vez que eu ver Katsuki lembrarei. Respiro fundo, negando com a cabeça. Midoriya percebeu que eu estava o observando, então deu um sorriso e acenou para mim. Eu retribui da melhor maneira que pude.

Incendeia-me | KacchakoOnde histórias criam vida. Descubra agora