Incendeia-me | Kacchako

Capítulo Nove - Encontro

Eu observo Midoriya sem nenhuma discrição, com meu rosto sendo segurado por minhas mãos, a cabeça inclinada para o lado e mordendo o interior da bochecha. Estamos na biblioteca, após as aulas da tarde, para ficarmos um pouco juntos em um lugar diferente da sala comum ou do dormitório. Faz duas semanas que ocorreu o Festival Esportivo; duas semanas que nos mudamos para o alojamento da 1-A e duas semanas que estamos dormindo longe um do outro. Confesso que me acostumei, mesmo não tendo chegado a dois ou três meses, a dividir o quarto com meu amigo. Nos damos melhor do que eu com outras garotas da minha idade, e nossa intimidade, para mim, me deixa feliz. Mesmo eu ainda estando com um pé atrás com Midoriya, e sentindo uma pontada de tristeza quando o vejo sorrir, amo sua companhia.

Ele está na minha frente, extremamente concentrado no desenho que está fazendo do All Might em seu traje policial, nos traços bem feitos e nos detalhes que faz questão de deixar. Midoriya morde o lábio inferior, focado nos cabelos do antigo policial, sem perceber que estou a mais de dois minutos o encarando e que nossos outros amigos, Shoto e Iida, estão demorando muito. Tsu resolveu não dar o ar das graças, pois dissera que passaria um tempo com Momo. Ela não me contou o que fariam.

"Está ficando bom..." Midoriya resmunga para si mesmo, começando a sorrir, ao analisar o seu feito. Eu me empolgo e sorrio também, mas, uma lembrança me atinge e ele se desfaz rapidamente. Quando o meu amigo me encara, notando por fim minha falta de discrição, sinto minhas bochechas ficarem vermelhas. Mais do que já são normalmente. Sou tímida o suficiente para ficar corada ao ser pega no flagra ou elogiada, ainda mais com o garoto que eu gosto. "Olha, Ocha-chan!" Exclamou, sorrindo, e me mostrou o desenho feito em seu caderno surrado. Eu dou um sorriso.

"Está ficando bonito, Deku! Parabéns." Eu fui sincera, ao balançar a cabeça e dizer tais palavras. Suspirei logo em seguida, quando o mesmo põe o caderno em cima da mesa novamente. Olho para o lado, para a janela, e observo o belo gramado verde. Um casal peculiar conversa do lado de fora, e o menino parece irritado como de costume. Reviro os olhos. Eu gostaria de não vê-los sempre, mas, ao que percebi, em qualquer lugar que eu olhe vou ver Bakugou e Himiko-chan. Ou deve ser por eles serem próximos de Deku, e eu estar quase vinte horas do meu dia junto do mesmo.

"O que aconteceu, Ocha-chan?" Midoriya perguntou, tirando-me dos meus devaneios. Eu não gosto de ver Bakugou, pois isso faz eu me lembrar do Festival de uma forma ruim. De como Iida e Midoriya estavam céticos quanto a minha luta com o loiro, e em como o meu amigo quis me passar uma dica de como acabar com o irmão adotivo. Eu sabia como lutar com ele, como enfrentá-lo, mesmo se fosse perder. Porque eu o analisei muito bem em nossas aulas práticas de defesa pessoal. No fim, um estranho acreditou em mim ao invés do meu melhor amigo. "Você parece está... em outro mundo."

Eu queria reclamar com Midoriya sobre o acontecido, confrontar e dizer que não sou frágil nem digna de pena, mas... É difícil, e as palavras ficam entaladas em minha garganta. Após minha luta com Kacchan, eu percebi que os meus amigos não lutam com todas as forças comigo. Eu era como uma bonequinha que deveria ser tratada com cautela para não se machucar porque poderia não ter conserto ou poderia chorar até o dia seguinte. Por Kami-sama! Eu era assim só quando pequena. Por essa razão, notei, que não me interessava nos treinos com eles. Ao lutar com Bakugou, eu me senti desafiada e capaz de mover o que quer que fosse para concluir os meus objetivos. Eu queria que Midoriya fosse assim comigo, como Tsu é. Ela acredita mais em mim do que eu própria.

"Você desacreditou de mim." Deixei escapar, baixo, olhando para o gramado. Himiko-chan havia ido embora, deixando Bakugou sozinho, sentado no chão. Em algum momento, nossos olhares se cruzam e eu não faço questão de desviar. Muito menos o loiro. Apesar do rubor em minhas bochechas, continuo firme o encarando e sinto que é essa troca de olhares que faz eu ter mais coragem para continuar falando o que está na minha cabeça. Bakugou tem a fama de assustador, mas, acima de tudo, é muito sincero.