Capítulo Doze - A louca

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A loira se sentia inquieta.

Não era a primeira vez naquele lugar, mas agora seria diferente. Ela está ali para receber sua primeira missão oficial, para ser aceita de verdade como integrante do grupo, e Kami-sama sabe o quão fazer parte daquela facção Toga queria. Seu sonho de criança, desde que descobrira o motivo da sua mãe nunca ter estado presente em seu crescimento. Ela fazia parte de algo maior! Ela era crucial na Yakuza, comandante dos distritos superiores do Japão, até que se acidentou numa luta com Endeavor e ficou em coma, infartando um ano depois. Toga jamais perdoaria o tio por ter tirado a sua mãe de si, porém, a loira sabia como fingir. Aprendeu suas melhores técnicas de luta com o mesmo e, vez ou outra, imaginava como teria sido melhor se ele tivesse morrido ao invés da sua mãe. Eles eram sangue do mesmo sangue... como conseguiram lutar até a morte?

"Toga." Giran chamou a menina que se encontra sentada no banco de madeira segurando os próprios joelhos. "Eles te aguardam."

"Certo!" Os olhos dela se iluminaram por um momento e, num pulo, levantou e correu sala a dentro.

A loira já havia estado no mesmo cômodo de Tomura Shigaraki, mas, repetia a si mesma, dessa vez seria diferente. Ao contrário das vezes que estivera ali, por causar brigas de rua e precisar levar uma advertência, agora conheceria pessoalmente o líder da Yakuza. O grande e poderoso All For One, mentor de Tomura e um dos maiores criminosos de todos os tempos. O coração de Toga vacilou por um momento, sentiu-se nervosa com a apresentação formal deles, como se fosse ter um ataque cardíaco a qualquer momento. Ela sabe do amor que sua mãe compartilhava para com o homem e gostaria, bem lá no fundo, que ele fosse o seu pai e Tomura mais próximo. Toga não se importaria de ser usada pelo azulado, ele realmente parece habilidoso com as mãos.

"Toga... esse sobrenome é música para meus ouvidos." O mais velho dissera, quando a garota enfim surgiu a sua frente. Ele usa um terno preto e uma máscara da mesma cor, pois ninguém ali era confiável o suficiente para saber da sua identidade civil. "Você é igualzinha a sua mãe." Talvez a mulher tivesse visto sua identidade.

Talvez.

"Obrigada, All For One-san, mas por mais que o meu coração tenha se aquecido com suas palavras, eu sei que é um grande exagero." Disse, tocando o peito esquerdo, encarando o homem. "Definitivamente ela era mais corajosa."

"Você pega o jeito com o tempo. Por hora, quero que me faça um favor. Se quer mesmo fazer parte da família como sua mãe fez, mostre-me uma boa razão para isso."

Toga não precisou pensar muito, havia planejado uma frase perfeita.

"Bem... eu estudo na maior e melhor escola de todo o Japão. Ouvi dizer que seria útil alguns prodígios de lá... ou apenas um ataque passa assustar o diretor e mostrar que estamos em todos os lugares."

"Ha! Você está aprendendo a jogar, Himiko." Tomura, até então quieto ao lado da mesa do mais velho, se pronunciou com um divertimento na voz. Toga sentiu suas bochechas esquentarem e teve certeza que havia ficado vermelha. O azulado, assim como homens prepotentes e seguros de si, de fato causa um efeito na loira. Efeito esse que faz com que sinta vontade de se despir. Se sua tia estivesse lendo seus pensamentos agora, Himiko Toga tem certeza que a chamaria de impura e promíscua. Não que esses adjetivos fossem ruins para a própria. Ela gostava.

All For One deu então um voto de confiança para a loira, deixaria que levasse seus homens para fogo cruzado para saber se ela realmente estava querendo fazer parte do que a própria mãe acreditava. Himiko resolveu, então, unir o grupo Esquadrão de Ação da Vanguarda para essa missão que lhe foi dada. Marcou uma reunião com eles assim que saiu, correndo, do escritório. Já estava familiarizada com os integrantes do grupo, ainda mais com o líder, Dabi, por terem vindo "da mesma laia". Ele havia criado o grupo para causar problemas nas cidades próximas por puro... não sei, prazer? Desejo por destruição? Toga acreditava que poderia ser, ainda, uma revolta contra o pai. Quem diria que o grande e poderoso detetive Endeavor teria maçãs podres na família? Primeiro sua irmã... agora seu filho mais velho. Dabi mudou completamente e está irreconhecível, tanto fisicamente quanto psicologicamente. Ou é isso, ou ele deixou vir à tona sua verdadeira personalidade sombria. De qualquer forma, não fazia diferença para Himiko Toga. Ela o ama incondicionalmente e o seguiria até os fins dos tempos. Nem mesmo Katsuki Bakugou a fez se sentir assim, e ele realmente havia sido uma pessoa perfeita com a loira. Até uma certa castanha atrapalhar tudo.

"Pode falar, Himiko. O que você quer agora?" Dabi perguntou assim que o mesmo entrou, junto dos outros, na sala onde ela estava esperando o grupo. A loira sorriu para o mais velho, adorava quando ele falava sério consigo.

Toga se surpreendeu com a sua capacidade de elaborar um plano perfeito em apenas dez minutos, a sua cabeça fervilhava desde o momento em que fora dispensada por seus superiores. A loira contou etapa por etapa para seus colegas de grupo, pacientemente, aguardando as dúvidas que poderiam surgir. Ela pegaria cartões estudantis de estudantes aleatórios e distrairia o guarda que fica ao lado do portão principal do Colégio. Não seria uma tarefa difícil, pois Toga sabia ser sugestiva fisicamente quando queria e, mesmo de Dabi não gostando nem um pouco, não poderia falar nada contra com a garota. Assim que entrarem, ela desacordaria o guarda e, então, começaria a festa pelo prédio onde a turma A-1 tem as primeiras aulas do dia. All For One gosta de colecionar troféus humanos, principalmente estes que possuem tamanha habilidade destrutiva, eles seriam facilmente usados num propósito maior... que a loira não dava a mínima no momento. Pegaria para dar de presente o seu ex-namorado e, no processo, faria questão de machucar Ochaco por ter revelado a ele sua verdadeira natureza doentia.

Bem no fundo, Toga sabia que fazia mal ao garoto.

Mas qual seria a graça de parar?

"Você é louca para um caralho, mas estou com você. Nós estamos." Ela sabia que Dabi jamais recusaria uma oferta de destruir o Colégio U.A., este que forma inúmeros detetives e policiais todos os anos e que seu pai apoia. "Vamos lá. Quero ver o circo pegar fogo."

"Isso mesmo!" A loira não conseguia guardar no peito a tamanha felicidade que sentiu quando o moreno concordou com o seu plano. Pela primeira vez ele havia deixado ela comandar, talvez fosse um sinal divino mostrando que está no caminho certo.

Mais tarde, quando o mesmo lhe acompanhava até a esquina da escola, ele perguntou se a loira sentia que era realmente uma boa ideia. Afinal, Dabi soube de primeira mão o final trágico do relacionamento dos seus primos e sabe que Himiko é louca o suficiente para forçar o aspirante a policial ser trancado num quarto e ter apenas ela como visita. E não adiantaria o mais velho intervir, dizendo que a garota é apenas sua, porque sabe a tamanha loucura que se passa na cabeça da loira. Toga acredita que fazer sangrar é dar amor. Definitivamente Dabi não se importava com isso, não em batalha travada contra idiotas; não em batalha travada pelos dois num quarto escuro. "Eu tenho certeza que papai ficará orgulhoso de mim quando eu capturar Katsuki Bakugou para ele!" Era o que a loira exclamava, animada, abraçando a cintura do maior. O mais velho apenas revirava os olhos e respirava fundo. "Você é completamente insana." Dizia. Mas podia imaginar que a mãe de Toga teria sido bem pior. Talvez estivesse certa, a mais nova, e All For One seja realmente o seu pai. Dabi não se importa com isso e acredita que o superior também não dá a mínima. Pode ser que queira apenas mais uma mulher disposta a fazer tudo por ele, isso Dabi não poderia negar que também quer.

"E você é louca para caralho por mim." Retrucou, Toga, balançando os ombros e sorrindo.

Talvez estivesse certa, mas seu primo mais velho jamais admitiria em local público.

Dois dias depois o plano enfim foi posto em prática, e ninguém poderia dizer que Toga não transbordava felicidades quando destruiu a parede da sala da turma 1-A, acertando vários alunos sentados na frente, e Bakugou fora pego quando o puxaram com um saco semelhante ao de carregar batatas.

A loira não poderia mais frequentar o local, nem passear normalmente pela cidade, mas, de certa forma, se sentiu realizada.

"Mamãe ficaria orgulhosa!" Exclamou para o nada, no corredor, enquanto afugentava alunos medrosos.


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Esse definitivamente foi muito menor que os outros, mas não dava para colocar esse aqui junto do outro capítulo.

O que acharam de uma tarde na vida de Toga?

Incendeia-me | KacchakoOnde histórias criam vida. Descubra agora