Capítulo dois - Izuku

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Eu deveria ter apostado dinheiro com Tsu.

Lá estava Izuku Midoriya, com aqueles mesmo cabelos verde-escuro do qual me lembro bem, de frente a porta D-30; de frente ao meu quarto... nosso quarto... procurando o cartão estudantil. O meu coração se encheu de alegria ao vê-lo, e larguei tudo o que eu segurava para abraçá-lo. Midoriya retribuiu o meu abraço, talvez mais surpreso do que eu. Não o vejo desde a quinta série, quando descobriu que a mãe estava doente, e optaram por ele fazer as aulas em casa para cuidar da mesma. Eram apenas os dois, afinal. Eu só não consigo lembrar o que ela tinha, nem tenho coragem para perguntar se está melhor ou não. Soltei Midoriya, sorrindo, observando suas características faciais para saber o quanto ele havia mudado durante esses anos todos que ficamos sem nos ver. O cabelo, os olhos e as sardas continuam os mesmos, nada de novo exceto pela expressão mais velha.

"Quanto tempo!" Exclamei, suspirando. "Por que não mandou uma mensagem dizendo que viria para cá?"

"Ficamos sem se falar por tanto tempo... eu achei que... que não fosse importante." Respondeu, mudando a expressão animada para triste.

"Sim..." Depois do clima ficar estranho, optei por pegar meu cartão e abrir a porta para nós dois. Midoriya achou o dele apenas quando desfazia a mala, estava lá dentro de alguma forma. Não fez muito sentido, sendo que precisamos entregá-los mais cedo para nos cadastrarem em um dos quartos do colégio, mas evitei a conversa esquisita que teríamos ficando calada. Há cinco anos, eu, Tsu e Midoriya éramos inseparáveis. Melhores amigos, juntos na maior parte do tempo, e eu tive uma pequena queda por ele. Eu devia ter nove, dez ou onze anos na época, não lembro ao certo, e quando o garoto precisou se afastar da escola, e por consequência de nós duas, eu fiz uma promessa para mim mesma: lembraria dele apenas como um grande amigo de infância, de escola, e focaria no eu e na minha família. Desde cedo eu queria ser alguém grande para ajudar os meus pais, e por essa razão não contei para Midoriya que estava apaixonada por ele antes que fosse embora ou... respondi seus e-mails depois de quatro meses depois. Eu deveria me desculpar por isso porque ele nem sabe das minhas razões de ignorar as mensagens e, também, nem sabe o que me levou a fazer isso. Com o tempo minha paixão por ele diminuiu, e agora só me resta uma pequena lembrança do sentimento que eu tinha. "Midoriya." Chamo, enquanto desfaço as malas, pondo as roupas em cima da cama.

O quarto é grande e simples, na cor branca com marrom cor de madeira, possui duas camas de solteiro, uma do lado da parede oposta da outra, uma cômoda marrom do lado e um baú na frente, quase colado com a cama. Um cabide marrom se encontra ao lado da porta, para deixarmos casacos e mochilas, e um porta guarda-chuva do outro lado da porta. Há duas janelas, cada uma perto das cômodas, e um varão de cortina dividindo o quarto em dois espaços iguais. Tem um banheiro só, mas ele é perto da porta de entrada. Combinamos que eu ficaria com a cama mais próxima do banheiro porque eu sempre me levanto, de madrugada, para fazer xixi e não gostaria de acordar Midoriya para perguntar se poderia passar. "Você sempre ia ao banheiro mais de dez vezes na escola." Foi o que ele disse, ao aceitar a proposta. Deixamos a cortina branca, pesada, que divide o quarto, aberta e combinamos que só fecharemos na hora de dormir ou quando o outro quisesse privacidade. Eu me pergunto se foi uma boa ideia me inscrever naquele concurso.

"Oi."

"Desculpe por não responder seus e-mails." Uma pausa de, no máximo, três minutos se instalou entre nós. Engulo seco, nervosa. Eu espero que ele me perdoe mesmo sem saber os meus motivos.

"Tudo bem. A gente era pequeno." Suspirei, aliviada, com o seu bom senso. "Você recebeu todos?" Perguntou e eu afirmei com a cabeça inconscientemente.

"Se você me enviou cem e-mails... sim, recebi." Virei para encarar meu colega de quarto, que teve a mesma ideia que eu. Mordi o interior da bochecha, aflita. "Desculpe."

Incendeia-me | KacchakoOnde histórias criam vida. Descubra agora