Incendeia-me | Kacchako

Capítulo Quinze - Piquenique

Ochaco definitivamente odiava aquela lembrança e, muita das vezes, era atormentada em pesadelos justamente por ela. Haviam se passado alguns meses desde o primeiro e último ataque ao Colégio e Universidade U.A., onde o diretor decretou melhores medidas de segurança e também agrupou todos em um prédio por classe estudantil, mas mesmo assim Ochaco Uraraka continuava sendo perseguida por sonhos ruins de quando invadiram a sua sala de aula e ela precisou ir ao hospital. Também se lembrava de terem raptado Katsuki e a dor no peito que sentiu ao perceber que não poderia fazer nada para ajudar na busca. A sorte é que ele sabia se virar.

Salve-se sozinha.

A castanha bufou, jogando-se de volta na própria cama.

Ela havia mencionado os seus problemas noturnos para Tsuyu e a menor a aconselhou sabiamente a não se preocupar tanto com o passado, pois não era possível alterá-lo, e o que restava era seguir em frente. Uma hora os pesadelos teriam fim, deixando Ochaco carregando somente uma cicatriz de batalha. Mesmo ela se sentindo tão impotente, inútil, mas como poderia prever que seria atingida pelos destroços e acabaria com um machucado feito na cabeça? Ela certamente não possuía habilidades excepcionais e, se tivesse, com certeza não teria a ver com agilidade. Ochaco tinha quase cem por cento de certeza disso! Pensando assim, quando a oportunidade de estágio surgiu, a castanha não pensou duas vezes antes de escolher a agência do Gunhead. Partes para melhorar sua luta em curta distância e partes para não se sentir despreparada quando a oportunidade de cair para dentro numa luta aparecer. Os estágios começam em dois dias e ela estava ansiosa. Quem diria que um dia ficaria tão próxima de um dos seus ídolos de infância?

Batidas na porta fizeram a castanha pular da cama, assustada.

"Vamos nos atrasar se você continuar enrolando!" Mina exclamou, sem parar de bater na porta um momento sequer.

"Já estou indo, Mina, não se preocupe." Ochaco tentou responder com o mesmo tom de empolgação da rosada e falhou miseravelmente. De quem havia sido a ideia de fazer um piquenique do lado de fora do prédio, no sábado, com os alunos que ficariam no colégio? Ah sim. Mina e ela própria. O quanto Ochaco se odiava no momento não era possível descrever! Porque já não bastava mal ter dormido à noite, ter ido correr pela manhã e o chuveiro quente estar com defeito, ela precisaria ficar junto de todos e fingir estar tudo bem.

Certamente, não estava tudo bem e a castanha tinha certeza que ninguém seria capaz de notar. Porque, além de tudo isso que ela havia listado mentalmente, havia o fato de que as férias de verão começariam daqui a uma semana e meia e a castanha definitivamente não pretendia assinar a "lista de alunos que irão para casa nas férias" porque ela sabia que não aguentaria ficar junto dos pais. Eles ainda não aceitaram o seu sonho de se tornar uma detetive profissional, logo, por qual motivo Ochaco voltaria? Para brigarem e ninguém ter um minuto de sossego? Ao menos passaria um mês no colégio sem frequentar as aulas, mas tendo acesso aos ginásios para treinos livres, e faria o estágio na agência do Gunhead normalmente. A sua mãe ficaria arrasada e irritada, mas foi decisão dela e Ochaco dificilmente voltava atrás com sua palavra. Ela conseguiria escapar deles no verão, agora no inverno teria que voltar. Duas semanas não a matariam, certo?

"Ocha-chan, você deveria estar animada! As férias de verão estão chegando." Mina lembrou, segurando-a pelo braço, carregando a castanha para fora.

"Eu vou ficar no colégio..."

"Como assim?" A rosada perguntou, segurando os ombros de Ochaco, como se tivesse ouvido um xingamento de baixo escalão. "Por quê?"

"Eu quero juntar dinheiro e não quero que meus pais gastem comigo." Ao menos também era verdade! A castanha balançou os ombros, cruzando os braços. "Além disso, vai ser bom passar um tempo sozinha."