capitulo 24

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sai do quarto com os olhos transbordando água. Desci as escadas e mamãe ainda estava sentada no sofá. Ela levantou o olhar e depois voltou sua atenção para a TV.
— diz que isso não é verdade.
joguei o passaporte em seu colo.
— eu te avisei que teria problemas se continuasse com aquele garoto, mas, você não quis me escutar.
ela começou.
— essa é a consequência por não ter me ouvido.
— não pode fazer isso. Eu não quero ir para a Irlanda.
falei nervosa.
— isso não importa mais. Você vai para la querendo ou não YUMY.
— por que esta fazendo isso? por que não me deixa ser feliz?
eu chorava igual uma criança que tinha acabado de cair e relado o joelho.
— não pode fazer algo contra a minha vontade, isso não é justo.
— não é justo eu ter que aguentar você com aquele traficante.
ela se levantou nervosa ficando na minha frente.
— o que ? não se faça de vítima, a única pessoa que está sofrendo nessa história sou eu. Enquanto você fica ai julgando as pessoas e querendo que elas sejam do seu jeito. Você não sente um pingo de compaixão ai dentro? eu aposto que não, porque se sentisse, você não me mandaria para longe so para não me ver ao lado da pessoa que eu amo e você não gosta.
— você é uma hipócrita, mal agradecida e arrogante.
— talvez eu seja mesmo tudo isso, mas, quer saber de uma coisa que eu tenho e você não?
limpei as lágrimas e voltei a falar.
— amor.
ela me olhou incrédula, mas, eu não vou parar agora.
— eu sempre achei que o papai fosse o errado por ter te trocado por outro, mas, hoje eu vejo que ele tinha toda a razão. Eu, assim como ele, não aguenta mais agir do jeito que você quer. Isso cansa.
— YUMY...
— se quiser que eu vá para a Irlanda, tudo bem, eu vou. Mas, grave as minha palavras: esqueça que tem uma filha, porque para mim...você morreu.
peguei o passaporte e voltei para o quarto, me joguei na cama e comecei a chorar abraçada ao travesseiro. Eu não queria deixar Gustavo, eu não queria sair da cidade e deixar tudo para trás. Ter que fazer novas amizades, me acostumar com um clima diferente, pessoas e a família do papai. So de pensar nisso meu estômago revira. Pensei em ir ver o Gustavo, mas naquele momento, eu queria apenas ficar sozinha e so falar com outros seres humanos amanhã.
por que quando eu achava que tudo ia ficar bem, aparecia algo e roubava minha alegria? logo agora que eu estou na melhor face com o Gustavo, por que essas coisas tinha que acontecer comigo? sera que nunca vou conseguir ser feliz de vez ? eu morria de saudades do papai e as vezes desejava ter ele comigo para a gente fazer nossas tardes de culinária, mas, isso não quer dizer que quero ir morar com ele. Minha vontade agora era de sumir, onde so existisse: Eu, Eu mesma e Eu.
apartei o macio travesseiro com mais força, desejando acordar logo daquele sonho ruim. Em menos de dois meses, a minha vida tinha perdido completamente o rumo. Eu conheci uma pessoa totalmente diferente das que estava habituada a ter contato, e essa mesma pessoa tinha me transformado em alguém totalmente diferente. Alguém que até mesmo eu desconhecia. Eu estava chorando por Gustavo, porque estava com medo de nunca mais o ver. E o pior de tudo, é que eu nem sei se os meus sentimentos são recíprocos.
meus olhos deveriam estar bem vermelhos, minhas pálpebras estavam pesada e eu me vi caindo em um buraco negro. Adormeci e sonhei com o Gustavo.

"nele eu corria com o Gustavo por um jardim repleto de rosas, enquanto nossos dedos estavam entrelaçados e tínhamos um enorme sorriso. Uma brisa gostosa batia contra nos, meu cabelo voava junto com meu vestido florido. Em um momento, eu senti meu corpo bater contra o de Gustavo, ele começou a se afastar. O sorriso de felicidade foi dando lugar a uma feição de tristeza.
— Gustavo, Gustavo, Gustavo, Gustavo...
eu comecei o chamar gritando, mas, a minha voz não saia. Um bolo se formou em minha garganta, eu estava me sentindo sufocada. Em poucos segundos eu já não sentia mais o seu toque em minhas mãos.
— Gustavo esta me ouvindo? Por favor, não me deixa aqui sozinha.
ele foi se afastando cada vez mais, coloquei as duas mãos na garganta. Minhas pernas estavam bambas, eu ordenava a mim mesma que se mexesse e corresse atrás dele, mas, era inútil. Dos meus olhos caiam lagrimas grossas, cai de joelho no meio das flores. Levantei a cabeça e encontrei Gustavo muito distante de mim, seu olhar cruzou com o meu e de repente seus olhos claros se fecharam. Eu não o via mais, tudo tinha virado uma enorme escuridão"

acordei totalmente atordoada, me sentei na cama. Eu me sentia zonza, tudo a minha volta parecia girar. Fechei os olhos, e os abri depois de alguns segundos. Felizmente, a tontura tinha passado. Passei as mãos pelo rosto e cabelo que estavam suados, e olhei para o relógio: 04:35 da manhã.
me levantei tirando a roupa, procurei uma mais soltinha no guarda-roupa e vesti. Caminhei até o banheiro e tateei a parede até achar o interruptor, o clarão da luz fez meus olhos lacrimejarem. Abri a torneira e joguei um pouco de água no rosto. Eu nem mesmo tive coragem de me olhar no espelho. Fiz um coque no cabelo, enquanto saia do banheiro.
eu estava com fome e mesmo morrendo de preguiça fui até a cozinha preparar algo. Fiz um miojo e peguei uma latinha de coca na geladeira, me sentei na mesa e comi no total silêncio da madrugada. Uma dor se instalou no meu peito e eu mordi os lábios impedindo as lágrimas de cair.
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depois que acordei na madrugada, não consegui mais pregar os olhos. Fiquei assistindo vídeos no youtube. Quando eram quase sete horas, eu tomei um banho quente e demorado. Depois me arrumei, colocando uma roupa simples. Estava muito calor hoje, e olha que ainda esta de manhã.
eu estava com uma decisão em mente e tinha que coloca-la em prática. Sai de casa sem nem mesmo trancar a porta. Fui caminhando até a casa de Gustavo. O mesmo atendeu a porta no segundo toque e me olhou espantado.
— YUMY, o que diabos aconteceu com você? estava chorando?
ele foi logo me puxando para dentro.
— Gustavo,eu preciso que me diga uma coisa.
— tudo o que quiser.
respirei fundo e comecei a mexer em meus dedos.
— o-oque sente por mim?
perguntei gaguejando. Ele sorriu e eu fiquei ansiosa esperando sua resposta.
— o que eu sinto por você? YUMY...eu sou completamente louco por você. Eu te amo.
ele segurou meu rosto com as mãos.
— mas, por que essa pergunta agora ?
— Gustavo...eu estou indo para a Irlanda em dois dias.

between reason and emotionOnde histórias criam vida. Descubra agora