capitulo 19

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Gustavo jogou a toalha no chão e se sentou ao meu lado. Cruzei as pernas ficando na famosa posição de índio. Respirei fundo algumas vezes, procurando as palavras certas a serem ditas. Gustavo me olhou meio pressupondo o assunto que eu iria falar.
—sabe que pode perguntar qualquer coisa, né?
ele disse. Assenti e me foquei nos movimentos que ele fazia com os dedos, batendo as pontas no colchão.
— sabe que eu confio em você e nunca faria algo que te deixasse mal.
expliquei.
— mas eu não sei nada sobre você. Como por exemplo, o que faz da vida? como tem essa casa e aquele carrão? ganhou dos seus pais?
fui direta nas perguntas, se eu queria ter algum tipo de relacionamento com o Gustavo, precisava saber das coisas que ele fazia. Achei que ele não iria responder, mas me enganei quando ele começou a falar.
— nunca mentiria para você e não vou fazer isso agora. Nunca fui um garoto que andava sobre as regras, mas isso você ja deve ter percebido.
ele brincou.
— quando eu tinha uns quinze anos comecei a andar com pessoas erradas. Todos da cidade achavam que eles eram gângster, mais para mim eram apenas garotos normais como eu. Mudei de opinião quando uns caras nos chamou para fazer uns "trabalhos" para eles. Fiquei um pouco receoso de início, Mas, eu não queria ficar conhecido como o cara que arregou. Então eu aceitei. O trabalho era de entregar drogas para os compradores e depois estávamos livres. Quando acabou, recebemos a recompensa e ficamos boquiabertos com o tanto de dinheiro. Era grana que não se ganha no dia a dia. Então ficamos viciados naquilo, quanto mais entregávamos as mercadorias, mais dinheiro ganhávamos. depois de uns meses nós "subimos de patamar" digamos assim, não corríamos mais atrás de ninguém, eles vinham até nós. Meus amigos pararam com o negócio depois que juntaram uma boa quantia de dinheiro, mas, ru fiquei por mais um tempo, eu pensei em arrumar um emprego, mas nunca ganharia tanto e tão fácil como naquilo. Juntei um bom dinheiro e consegui comprar tudo que tenho hoje.
prestei atenção em cada palavra dita por ele, em partes não queria acreditar, outra parte dizia para não ligar, porque era passado.
— por que resolveu parar?
— porque conheci você.
tudo que eu tinha para dizer evaporou naquele momento. Senti sinceridade em suas palavras. Ele se aproximou mais de mim e segurou meu rosto com as duas mãos, o olhei envergonhada e ele sorriu.
— quero fazer o certo dessa vez.
ele me deu um selinho longo.
— e preciso de você comigo.
ele me beijou. Dessa vez, um beijo longo e apaixonado. Segundos depois, eu ja estava em seu colo, e ele tentando abrir os botões da camiseta que eu estava usando dele. Era uma pena que meu tempo ja estava esgotado.
— nem pense nisso.
disse tirando sua mão do último botão.
— o que ? por que?
o mesmo reclamou.
— porque eu preciso ir embora, eu já fiquei tempo demais aqui.
me levantei procurando por minhas roupas.
— mais já? você não tinha mais perguntas?
— eu acho que ja sei o que queria saber.
respondi colocando o sutiã.
— vai voltar amanhã?
ele perguntou com irritação na voz.
— não sei, pode ser que sim, pode ser que não.
ele se jogou na cama com a mão no rosto e murmurando alguns palavrões, terminei de me arrumar e fui me despedir.
— até amanhã.
falei lhe dando um selinho.
— até. Eu te pego na escola amanhã.
assenti.
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quando cheguei em casa mamãe ainda estava no trabalho e isso foi um alívio para mim. Eu não iria mentir para ela sobre onde eu estava, mas, estava sem paciência para ouvi-la falar tudo que odeia em Gustavo. Olhei para o relógio perto da cama e era quase 17:20 da tarde. Eu resolvi colocar alguns deveres em ordem e estudar um pouco para as provas finais. Amanhã eu iria saber quem seria meu parceiro no trabalho de interclasse. Era um trabalho que a escola fazia no final de ano para aproximar os alunos. Tínhamos que fazer uma espécie de ficha sobre o nosso parceiro. Era o trabalho de maior peso na nota.
no jantar eu me sentei de frente para a mamãe, ela comia em silêncio e aquilo me irritava. Não era necessário tudo aquilo. Girei um pouco o garfo pegando o macarrão de molho branco que ainda estava esfumaçando, e levando a boca.
— Deus vai te castigar.
— o que ?
perguntei pensando não ter ouvido direito.
— Deus vai te castigar pelo que esta fazendo.
ela disse ainda de cabeça baixa.
— você vai se arrepender por ter se deitado com aquele garoto, por deixa-lo tocar em você.
— você diz coisas horríveis.
bati o garfo com força contra o prato.
— sera que nao pode apenas dizer que esta feliz por me ver feliz?
levantei da mesa sem nem olhar para trás. Ja sentiu vontade de fugir ? ficar em uma ilha deserta, acompanhada de um bom livro e o barulho do mar? queria poder fazer isso agora, sair desse mundo de julgamentos e entrar em um mundo perfeito, mas que so existe na minha cabeça.
coloquei o pijama e me joguei na cama com o lençol fino por cima de mim.
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na manhã seguinte, eu acordei mais cedo que de costume. Tomei um banho e me arrumei. Comi apenas uma maçã, eu não vi a mamãe antes de sair de casa. Estava ansiosa para saber quem seria meu parceiro no trabalho. O que mamãe disse ontem ainda pairava sobre os meus pensamentos, mesmo não querendo, aquelas palavras me afetaram.
desci do obrigada em frente a escola. Indo direto para onde estaria os nomes das duplas no trabalho. Algumas pessoas ainda estavam olhando, o bom de ser baixinha que conseguia me enfiar ali no meio de não tomaria muito espaço. procurei pelo nome YUMY COOPER e não acreditei em quem era meu parceiro.
— JOÃO?
    todos olharam para mim estranhando eu não ter gostado da minha dupla. Sai pisando duro atrás daquele garoto idiota. Ele havia feito alguma coisa, eu tenho certeza. O encontrei mexendo no celular um pouco afastado do campos.
— como fez isso?
— gosto do seu parceiro? eu amei a minha.
     ele disse ainda sem me encarar.
— eu sou do segundo ano e você do terceiro, ele nunca misturam série diferentes nesse trabalho.
     reclamei de braços cruzados.
— tive uma pequena ajuda da nossa diretora.
     ele piscou.
— não acredito nisso, seu...
— seu?
    ele guardou o celular no bolso.
— safado. È safado, è isso que você è um safado.
— não è desse tipo de ajuda que eu estava falando, YUMY.
     ele respondeu rindo.
— pouco me importa como foi essa ajuda.
    falei nervosa.
— eu acho bom que leve esse trabalho a série, porque ao contrário de você, eu me preocupo com as minhas notas.
— como quiser. Vamos nos encontrar todos os dias na biblioteca, a partir de hoje.
     eu até achei uma boa ideia. Assenti e dei meia volta. Era so uma semana, eu teria que aguenta-lo só durante uma semana.

between reason and emotionOnde histórias criam vida. Descubra agora