capitulo 23

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    abri meus olhos encontrando um teto branco, movi minhas mãos e as passei pelo rosto. Sentia meu corpo doer e minhas pernas dormentes. Virei a cabeça para o lado e encontrei o Gustavo dormindo espreguiçado ao meu lado, sua mão esquerda estava em minha cintura. Ele respirava calmo, enquanto mantinha a boca entreaberta. Ergui um pouco as costa para tirar os cabelos presos de suor nela e no pescoço.
     senti o estômago roncar e uma fome enlouquecedora me bater. Tirei a mão de Gustavo com cuidado da minha cintura e me sentei, olhei para as roupas atiradas no chão e sorri. Me levantei e peguei a camiseta do Gustavo que estava no chão me vestindo, depois fiz um coque no cabelo.
Fui até a cozinha, eu tentaria preparar algo. Queria algo doce e que envolvesse chocolate no meio. Peguei uma tigela no armário e coloquei em cima da mesa. Vasculhei todo o armário à procura de algo que saciasse minha sede de doce.
     primeiro coloquei um pouco de leite condensado dentro da vasilha que peguei, depois quebrei alguns quadrados do chocolate e coloquei também, calda de caramelo, granulado e MM'S. Para beber, eu enchi um copo com água gelada. Sentei-me na mesa e comecei a comer, podia estar muito doce, mas, ainda sim eu queria mais.
— bom dia.
    a voz de Gustavo ecoou pela cozinha.
— bom dia.
    respondi levando outra colherada na boca.
— o que foi?
   perguntei ao notar que ele não parava de me olhar.
— nada, so que...você fica linda vestida assim.
    ele disse e beijou o topo da minha testa.
— Gustavo e aquela festa que você tinha hoje, você vai?
— não sei, se você quiser ir.
— não estou com muita vontade de sair hoje.
     respondi de boca cheia.
— e o que você quer fazer?
— talvez assistir um filme e dormir.
— não vou deixar você dormir, enquanto, estiver aqui comigo.
    ele disse malicioso, senti meu rosto esquentar.
— tenho que ir para casa daqui a pouco, tenho que terminar umas coisas.
— por que você não vem morar comigo?
— porque só tenho dezesseis anos, e apesar de tudo ainda não estou pronta para morar com você.
     ele gargalhou gostosamente.
— prometo que não irei te atrapalhar em nada, humm...o que me diz?
— quem sabe no próximo ano.
    naquele momento uma pergunta me correu a mente, e desde ontem eu queria perguntar a ele, mas, estava com raiva.
— Gustavo...o que você e a Vanessa fez ontem?
     ele ficou em silêncio e depois puxou a cadeira se sentando ao meu lado.
— não posso falar agora, mas você saberá logo.
    resolvi não questionar, não queria acabar com aquele momento.
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     cheguei em casa dando de cara com a mamãe sentada no sofá. Respirei fundo e me sentei de frente para ela. Precisava dizer umas coisas a ela, que, há tempos esta preso na minha garganta.
— isso porque ia voltar ontem ainda.
    ela ironizou.
— houve um...imprevisto.
    respondi mordendo os lábios.
— imprevisto? ir abrir as pernas para aquele canalha, não se chama imprevisto. Chama-se ser vagabunda.
— quer por favor me ouvir ? so um segundo.
     pedi.
— mãe, eu sei que você quer o meu melhor, não tenho dúvidas disso. Mas, a senhora precisa entender que não pode fazer escolhas por mim. Você pode até achar que estou completamente feliz, Mas, ver a senhora desse jeito comigo me deixa super mal.
    senti as lagrimas invadir os meus olhos e minha garganta secar.
— só quero dizer que te amo muito e não quero que fique com raiva de mim.
     falei tentando engolir o choro.
— eu amo o Gustavo, e não estou pedindo o seu apoio ou que aceite isso, quero apenas que respeite a minha decisão e não fique assim comigo. Porque isso doe, doe muito mamãe.
    limpei as lágrimas que escorria pelo meu rosto, e me levantei sem ouvir uma palavra dela, mas tenho certeza que uma pitada de comoção, bem la no fundo, ela sentiu. Ninguém pode ser tão duro a ponto de ninguém conseguir quebrar seu coração de pedra.
    subi para o meu quarto e fui tomar um banho. Lavei o cabelo, e meu corpo todo. Estava com sono e muito cansada. Pensei em João, e em como ele deve ter ficado ao não me encontrar la depois que voltou. Eu sei que não deveria me preocupar com o João, mas de alguma forma devia uma explicação a ele. Quanto ao pedido de Gustavo, sobre me afastar de João, não vou atende-lo, enquanto ele não se afastar da Vanessa também.
      terminei o banho e vesti uma roupa mais confortável, deixei os cabelos soltos mesmo. Peguei minha mochila de escola e tirei um livro de la de dentro, bem no meio tinha uma folha com os dados do João. Sorri ao ver as idiotices que tinha escrito.
— apaixonado por gatos?
    falei rindo.
— esta ai uma coisa que não esperava de você, João.
    coloquei o papel no mesmo lugar e aproveitei para responder alguns exercícios, estava sem nada para fazer, então nada melhor que adiantar o dever de casa. Joguei o livro ao meu lado e me deitei na pilha de travesseiros que tinha atrás de mim. Girei os olhos pelo quarto, e parei o mesmo em um envelope creme que tinha em cima da cômoda. Arqueei uma sobrancelha e me levantei, jogando a caneta que tinha nas mãos em cima da cama.
   peguei o envelope e o olhei, mas não tinha nenhuma identificação. O abri rapidamente e encontrei aquela cor azul. Meu corpo tremeu por inteiro e senti um pavor que nunca tinha sentido.
   dentro havia uma foto minha 3x4 e um local específico: Irlanda.
      NÃO, NÃO, NÃO, NÃO. Aquilo não podia estar acontecendo, não mesmo. Balancei a cabeça incrédula. Eu estava com o meu passaporte em mãos. Meu passaporte.

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