Ainda Sou Eu

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Clara

Tá, eu sei, não precisa me olhar desse jeito. É, você tem toda a razão, eu não deveria ter ido falar com o Thiago primeiro, até Mãe Chachá avisou: "... hay que aprender a mirar lo que realmente importa quando el chico malo cruzar tu camino". Pois é, eu poderia ter deixado para virar essa página depois e ter começado logo a escrever a seguinte, embora a Tia Lelene sempre diga que "o apressado come cru".

É... Bem feito pra mim, eu mereço estar neste estado lamentável agora. Depois de rodar por mais de uma hora, pra lá e pra cá, meus pés estão em frangalhos, não suporto mais.

Olho ao redor procurando um lugar para me sentar. Vejo o coreto atrás de mim e me volto, caminhando para ele. Subo as escadas. Mais uns passos e paro junto ao guarda-corpo.

Procuro Pedro pela última vez... Nada. Suspiro desanimada e me sento no chão para tirar os tênis. Tiro um par, depois a meia.

— A princesa vai perder os sapatinhos outra vez?

Olho para a entrada do coreto, Pedro está lá; mãos nos bolsos e me fitando, a ameaça de um sorriso no rosto. Balanço a cabeça sorrindo levemente, enquanto ele caminha em minha direção, meu coração palpitando.

Pedro se agacha ao meu lado.

— A "princesa" está mais para gata-borralheira e prestes a arremessar os "sapatinhos" longe — confesso levada pelos pés doloridos.

— Hum, isso já está virando hábito — brinca.

— Alguém me disse que é um ótimo hábito... — lembro e ele pisca um olho.

Olha para baixo, desce o braço que estava apoiado ao joelho e desamarra meu outro cadarço. Tira meu tênis, a meia... Solta meu pé com delicadeza sobre o chão e se senta com uma perna flexionada, outra esticada, o braço pendendo displicentemente sobre o joelho.

Abraço as pernas apoiando o queixo nos joelhos.

— Estava vendo você agora há pouco... — fala com aquela voz mansa. — Parecia um gatinho caçando borboletas, perdida, correndo de um lado para o outro da rua, da praça... — Ele me fita com intensidade, uma pergunta silenciosa no olhar, como se tentasse ver dentro de mim. — Estava caçando borboletas, Clara?

Curvo os lábios não exatamente sorrindo; complacente comigo mesma, talvez.

— Não, não estava... — Olho ao longe, pelas frestas do guarda-corpo. — Mas uns dias atrás, talvez, estivesse... correndo atrás de bolhas de sabão.

Pedro eleva as sobrancelhas, parece interessado, mas não exatamente curioso sobre minha resposta.

— Conseguiu pegar alguma? — Seus olhos abandonam meu rosto e descem até minha mão; ele a toca roçando apenas um dedo suavemente e logo a segura.

— Não. É impossível... Pode ser que alguma pouse em nossa mão rapidinho, mas logo ela eclode deixando só um rasto invisível do que era... Nada de cor, nada de flutuar, viajar... As partículas desaparecem no ar. — Volto os olhos para ele. — Onde você estava, Pedro, enquanto me via andando por aí? — ocorre-me perguntar de repente.

— Lá em cima, encostado na porta da igreja. — Começa a descrever círculos no dorso da minha mão com o polegar.

— Fazendo o quê?

Encolhe os ombros, aquele sorriso torto dançando no rosto.

— Olhando tudo, vendo você...

Arqueio as sobrancelhas tentando ler aquelas reticências que tive a impressão de ler no fim de sua resposta. Pedro não responde a minha pergunta silenciosa, mas diz:

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⏰ Última atualização: Mar 07, 2021 ⏰

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