MEME por um dia!

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Clara

Mamãe sempre ressalta que devemos ter pensamento positivo, e eu sinceramente me enganava dizendo a mim mesma que, apesar de tudo o que havia acontecido na festa, no dia seguinte ninguém se lembraria mais do meu vexame, afinal, na Era da Informação, as pessoas têm memória curta.

Eeee... sendo assim, madruguei e fui para a bendita escola.

Ainda lamento não ter seguido o conselho do guru da moda e do estilo, Ruy, de não ter feito o meu condenado mapa astral, mas no fundo, bem no fundo mesmo, nas profundezas perdidas do meu cérebro humilhado, eu sabia que, dissesse o que dissesse, esse tal mapa não salvaria minha pele dessa vez. Bem, o mapa não, mas... talvez, só talvez, houvesse algo mais com que eu pudesse contar. Não sei explicar o que, mas tinha aquela sensação de que poderia enfrentar tudo, como se tivesse alguma coisa, algo, alguém, sei lá, cuidando de mim.

E, para que antecipar a tragédia, né? É melhor viver um momento de cada vez, mesmo que cada um deles seja uma pinça arrancando todos os pelinhos das suas narinas.

Dramática, eu? Bom, para que fiquem claras todas as minhas razões para apelidar esse dia de "Segunda-Feira Negra", ouça o que eu vou contar:

Percebi a atmosfera pesada já na porta da escola, onde Tio Caio tinha nos deixado. Katharina tinha se safado, estava de piriri, tadinha, e eu tive que enfrentar sozinha aqueles olhares estranhos para cima de mim, além de sorrisos tortos, sarcásticos.

Já no corredor, enquanto eu caminhava para a minha sala, a coisa ficou ainda mais bizarra. Cheguei a dar uma olhada nas minhas botas — talvez eu tivesse me afundado em algum monte de esterco antes de entrar no carro, não precisava pensar no pior. Mas nada disso tinha acontecido, claro.

De qualquer forma, passei pelo banheiro feminino e dei uma olhada no meu visual. Tirando a blusa do uniforme, que era uó, não havia nada de errado.

Pelo espelho vi que uma menina enrugava o nariz em minha direção e farejei discretamente a minha volta, só para ter certeza de que o ar não fedia. Quando ela saiu do banheiro, levantei os braços e verifiquei as axilas, aspirando discretamente; tudo okay, cheiroso como era de se esperar.

Segui meu caminho aferrando-me ao pensamento positivo recomendado pela D. Fabi, dizendo a mim mesma que estava ficando paranoica.

Mas, quando entrei na sala de aula, tive a impressão de estar vestida de palhaço, com uma bola vermelha no lugar do nariz, ou de estar com o corpo coberto de lama e fedendo a cocô de cavalo.

Caminhei para meu lugar tentando não demonstrar o desconforto, mas notei as risadinhas de um grupinho de meninas debruçadas sobre uma carteira e, depois de largar minha mochila no chão, me aproximei, abrindo espaço entre o círculo fechado. Elas estavam tão distraídas, entre risadas e comentários ácidos, que nem deram sinal de notar minha presença.

Quando consegui quebrar a corrente e me enfiar entre elas, vi um celular, na mão da menina que estava sentada na carteira, transmitindo um vídeo: a Jabiraca rodando feito a hélice de um ventilador quebrada, a porta se abrindo violentamente e duas patetas voando para fora do carro. Ploft!

Meu Deus, era inútil tentar me enganar, iludir. A realidade batia à minha porta; a repercussão do meu vexame tinha sido pior do que eu imaginava, eu tinha MESMO virado motivo de chacota na escola.

Suspirei, talvez isso fosse irremediável, e saí, sentando-me em minha carteira, recolhendo-me a minha famigerada insignificância.

Enquanto a professora não chegava, o grupinho continuava confabulando sobre minha desgraça social, por um tempo que pareceram eras, e, quanto mais eu pensava em tudo aquilo, mais arrasada e pessimista ficava.

Estava acabada. Destruída. Na lama das lamas.

A ponto de deixar saltarem as lágrimas que já se acumulavam nos cantos dos meus olhos, ouvi:

— Clara, você fez aquele trabalho de português?


Deu RuimOnde histórias criam vida. Descubra agora