Bela
Meus olhos parecem que foram mergulhados em uma caçamba cheia de areia.
Quem inventou que aulas deveriam começar tão cedo? É por isso que existe um alto índice de sedentarismo entre os jovens. Esta é a hora de acordar, tomar um café da manhã saudável e se jogar numa atividade física. Depois de quinze minutos de esteira é que se acorda de fato.
Os planos de caminhar pela manhã foram por água abaixo. Fui acordada (completamente atrasada) pelo meu querido irmãozinho (melhor chamar o Rodrigo assim, já que não posso mencionar todos os impropérios que passam na minha cabeça).
Confiro o mapinha das salas, que a Clara fez no caderninho, para tentar encontrar a minha. Essa escola é bem grande.
A chegada do Ruy ontem à noite foi um show à parte.
Depois que conseguimos (com muito sacrifício, encenação e desespero) contar para o meu amigo o que estava acontecendo, eu e ele tivemos um tempo a sós e pude desabafar o quanto estava chateada com tudo que o Rodrigo havia me dito.
Sinceramente, eu esperava um escândalo, qualquer outra reação do Ruy, mas, quando finalmente provamos a ele que não tínhamos pirado na batata, meu assessor abraçou a causa e se mostrou o melhor amigo do mundo.
Não foi tão fácil como ele contou, não se engane. Fomos submetidas a uma sabatina até que ele se certificou de que o pesadelo era realmente real. E isso durou quase toda a madrugada.
Devo confessar que estou esperançosa de que o Ruy possa nos ajudar. Sacou o tamanho do meu desespero? Eu confiando nas ideias dele. Isso definitivamente é o Apocalipse.
Chego à sala de aula da Clarinha, está completamente vazia. No quadro, uma mensagem avisando que o professor dos dois primeiros horários não veio, que estão todos liberados para ir para a quadra para assistir ao treino de rugby, já que o time terá um jogo importante amanhã.
Confiro o mapa mais uma vez e sigo em direção à tal quadra representada com uma caneta verde-fluorescente e com umas arvorezinhas desenhadas.
— Clara! — ouço uma voz me chamando e me viro.
Enquanto o estranho bonitinho apressa o passo na minha direção, eu paro e confiro o caderninho tentando identificar o amigo da Clara.
O tal do crush? Não, não é. Esse está na primeira página. Olho novamente para o rosto do garoto, vi que ele se parece com o Peter Parker. Já sei, última página! Confiro a foto e as anotações.
— Oi, Pedrinho. — Dou um beijo no rosto dele, que fica desconcertado.
Como será que essa galera de hoje se cumprimenta?
— Que caderninho é esse? É de caligrafia ou é nele que você está anotando as ideias para o roteiro? — Coloca as mãos nos bolsos e deixo que me guie, afinal ele sabe onde fica a tal quadra, eu não. — Ah! Antes que eu me esqueça. Conversei com o professor de literatura. Ele falou que você tem grandes chances de ganhar o concurso do roteiro.
— Será que tenho mesmo chances? — pergunto tentando buscar, na memória, algo sobre isso; decorei cada palavrinha daquele caderninho, não tinha nada disso lá. Eu vou matar a Clara.
— Acho que temos. — Para e compra uma barrinha de cereal pra mim, além de um suco para ele.
Gostei do Pedrinho, garoto atencioso. Ele escolheu justamente a marca de que a Clarinha gosta.
— Vai me achar uma avoada se eu perguntar mais sobre esse concurso?
Ele ri, que gracinha. Tem covinhas. Bonitinho, ele.
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Deu Ruim
RomanceNo auge de seus dezesseis anos, Clara sonha em ser como sua tia, a subcelebridade, diva insuperável, Isabella Sampaio. Com os olhos no futuro, ela planeja a própria e estratosférica ascensão para o tapete vermelho da fama e do glamour. Já a famosa...