Pedro
Ela olhou para o meu lado parecendo surpreendida com minha pergunta e me viu.
— Ah, oi, Pet... Pedro. — Eu sabia que secretamente a Clara me chamava de Peter Parker, e ver como ela quase se entregava me obrigou a morder os lábios para não rir.
— Oi — consegui corresponder sem me delatar também.
Ela ficou me olhando, claramente desconcertada, talvez pelo próprio vacilo, e eu voltei a perguntar:
— E então, fez ou não? — Uma pausa e ela continuava me olhando. — O trabalho.
— Ah, ahn... Qual trabalho? Sobre figuras de linguagem?
— Isso.
— Fiz, sim, é para hoje.
— Conseguiu responder a todas as questões? Eu fiquei em dúvida na sétima.
Na verdade, eu tinha conseguido fazer tudo; aquilo foi só um pretexto para distrair a Clara. Não se falava em outra coisa na escola, a não ser no tombo que ela e a Katharina tinham levado na porta do clube, e eu tinha notado como isso a chateava.
— Consegui, quer dar uma olhada e tirar sua dúvida? — ofereceu já abrindo a mochila.
— Quero, sim.
Pegou uma pasta e retirou dela o trabalho, entregando-o a mim.
— Espero que esteja certo — Clara disse.
— Deve estar, você é boa em português.
— É minha matéria preferida.
Eu sei, pensei, mas não disse.
Para evitar que a Clara voltasse a prestar atenção na zombaria a sua volta, pedi a ela que me explicasse como havia feito a questão, e isso, pelo que vi, a distraiu até a chegada da professora, quando cada um teve que ficar de bico fechado e prestar atenção na aula. A professora de português era gente boa, mas durona quando precisava, não permitia nem um pio na aula dela.
A próxima aula também era de português e, quando o sinal bateu, já era hora do intervalo. Katharina não tinha ido a aula, e eu aproveitei que a Clara estava sozinha para ficar por perto. Desci ao seu lado para o refeitório, conversando sobre qualquer assunto bobo para a distrair, e acho que funcionou; a Clara nem percebeu os olhares maldosos que lançavam para ela.
Quando chegamos ao nosso destino, eu pensava em chamar a Clara para se sentar comigo, mas logo na porta do refeitório ela o viu. Thiago estava bem no centro do salão, em pé e, como sempre, rodeado por meninas do segundo e do terceiro ano.
Exalei resignado e, mãos nos bolsos, oprimi os lábios ao ver Clara fazer exatamente como eu imaginava. Ela saiu do meu lado sem nem se despedir e caminhou logo para ele.
Tratei de não ficar invocado, eu já sabia em que estava me metendo, e fui cuidar da minha vida. Comprei um sanduba, um suco de abacaxi e me sentei em um canto para comer.
O sanduíche custava a descer enquanto eu observava o grupinho. Clara já tinha dado um jeito de ficar do lado dele e sorria parecendo não ter passado pelo vexame da entrada e da sala de aula. Em nenhum momento tinha sorrido assim para mim, pensei. Não que eu tivesse desistido de ver isso algum dia.
Joguei o resto do sanduíche na lixeira ao lado e tomei um último gole de suco antes de me levantar, os olhos fixos nela, que agora já não sorria.
Joguei o copo descartável na lixeira também e me dirigi para lá, para onde ela estava, mas parei um pouco antes, junto a uma outra rodinha onde estavam Matheus e Vinícius.
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Deu Ruim
RomanceNo auge de seus dezesseis anos, Clara sonha em ser como sua tia, a subcelebridade, diva insuperável, Isabella Sampaio. Com os olhos no futuro, ela planeja a própria e estratosférica ascensão para o tapete vermelho da fama e do glamour. Já a famosa...