Bella
Quinta de manhã, quando o sinal do intervalo toca, levanto as mãos para o alto agradecendo o fato de ter sobrevivido a mais um dia letivo. Graças a Deus, estamos todos liberados para assistir ao jogo do Matheus.
Não tenho ideia do que faria se precisasse fazer sozinha esse trabalho sobre a Idade Média. Mas, graças ao meu poder de persuasão, consegui convencer o professor a deixar fazermos em trio, embora a maioria tenha preferido fazer em dupla mesmo.
Esses dois anjos da guarda salvaram a minha vida hoje. Por causa da atividade de história, minha carteira está colada na da Kath, e a do Pedroca está de frente para mim. Ele só falta babar toda vez que me olha — no caso, quando vê a Clara, pois as caras que faz quando faço coisas-de-não-Clara são de pura confusão. Como o que, por exemplo? A caixa de bombons de cereja que agora mora debaixo da minha carteira.
— Obrigada por ter colocado meu nome no trabalho — agradeço recolhendo os papéis de bombom no esconderijo nada secreto.
— Seu braço melhorou? — Pedrinho pergunta, excessivamente preocupado, e Kath me olha com uma cara estranha.
Ela parece... culpada?
Será que ela roubou meus bombons? Vou comprar uma caixa inteirinha para ela. Daquelas que vêm com quarenta e oito pecados em forma de cereja, que explodem deixando um sabor doce e acolhedor.
Faço um movimento teatral, alongando o pulso direito, tentando parecer convincente. Por mais que eu tenha tentado, a aula inteira de matemática, imitar a letra da Clarinha, só o meu "o" e o "zero" ficaram ligeiramente semelhantes.
— Vou passar arnica quando chegar em casa — digo inocente.
— Arnica? — Kath me questiona franzindo o cenho. — A situação deve estar ruim mesmo. Você odeia o cheiro.
Faço a melhor cara de dor que consigo.
— Jurava que você era canhota — Pedro observa e automaticamente pressiono o pulso esquerdo.
— É culpa do mutirão das abóboras que o Ruy inventou. Dói tudo.
— Pelo menos é por uma boa causa. — Kath recolhe os materiais. — Vou descer, o jogo já deve estar quase começando.
— Vamos com você. — Jogo tudo dentro da mochila e ando atrás dela.
Sigo meus mais novos melhores amigos de infância pelos corredores. Quando avistamos o campo, vejo que já está lotado.
Rodrigo e Fabi estão sentados de um lado da arquibancada, junto com os outros pais. Ruy e Clara (meu corpo desfilando com uma escolha de roupa duvidosa), do outro.
Preciso instruir a Clara, nem tudo que o Ruy escolhe é usável. Definitivamente, laranja não é uma cor que combina comigo. Ainda mais com flores amarelas. Estou parecendo uma toalha de chita.
— Não vai usar a camiseta da campanha do seu irmão?
Preparo para responder ao Pedrinho que ainda não recebi camiseta da campanha do Matheus, contudo me deparo com... Como ele chama mesmo? Thiago! Caceta, nunca lembro o nome do crush da Clara.
Ele está usando uma camiseta polo, com as iniciais do Matheus Henrique bordadas, isso deve ter custado uma fortuna. Eu não sabia que a escola patrocinava esse tipo de coisa. Olho para o nariz do tal Thiago e constato que é nitidamente torto. Ele tem um sorriso estranho. Não é essa batatinha toda, não.
Olho para o amontoado de blusas no braço dele.
— Ele não me entregou ainda.
Thiago pega um pacotinho rosa com o nome da Clara e me entrega. De longe vejo Pedrinho me olhando; a esta altura nem sei mais onde está a Kath.
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Deu Ruim
RomanceNo auge de seus dezesseis anos, Clara sonha em ser como sua tia, a subcelebridade, diva insuperável, Isabella Sampaio. Com os olhos no futuro, ela planeja a própria e estratosférica ascensão para o tapete vermelho da fama e do glamour. Já a famosa...